Negócios

'Não quero morrer rico': Bill Gates anuncia doação total de fortuna até 2045

Fundação Gates vai destinar mais de US$ 200 bilhões para saúde global e combate à pobreza

Bill Gates: bilionário promete doar toda sua fortuna (JEFF PACHOUD / Colaborador/Getty Images)

Bill Gates: bilionário promete doar toda sua fortuna (JEFF PACHOUD / Colaborador/Getty Images)

Publicado em 15 de junho de 2025 às 09h44.

Tudo sobreBill Gates
Saiba mais

O bilionário Bill Gates anunciou que vai doar praticamente toda a sua fortuna até 2045, concentrando os recursos em ações da Fundação Gates e determinando que a organização encerre suas atividades em 31 de dezembro daquele ano.

A decisão marca uma mudança radical em relação ao plano original, que previa que a fundação continuaria a operar por décadas após a morte dos fundadores. “O homem que morre rico morre desonrado”, escreveu Andrew Carnegie em 1889, no ensaio The gospel of wealth — leitura que inspirou Gates a rever sua estratégia de doação, segundo publicação em seu perfil no LinkedIn.

“Há problemas demais no mundo para eu continuar acumulando recursos que podem ajudar outras pessoas agora”, afirmou. A nova diretriz da fundação é dobrar o ritmo de doações e entregar os recursos ainda nesta geração. O fundador da Microsoft tem uma fortuna estimada de US$ 177 bilhões, segundo o índice da Bloomberg.

'US$ 200 bilhões para salvar vidas'

Durante os primeiros 25 anos da Fundação Gates, foram doados mais de US$ 100 bilhões. Com a nova diretriz, o objetivo é ultrapassar US$ 200 bilhões em repasses até o fechamento, em 2045. O valor final dependerá de fatores como inflação e desempenho dos mercados financeiros, mas a expectativa é de que boa parte da fortuna pessoal de Gates seja transferida integralmente ao fundo filantrópico.

A fundação, criada em 2000 por Bill e Melinda French Gates, teve inicialmente o apoio direto de Warren Buffett. Juntos, transformaram o projeto em uma das maiores iniciativas de filantropia da história, com foco em saúde global, redução da pobreza e educação.

Marcos pessoais e decisões estratégicas

A decisão foi tomada em um ano simbólico para Gates: ele completará 70 anos em outubro, a Microsoft celebra seus 50 anos de fundação e a Fundação Gates marca seu 25º aniversário. Seria também o centenário de seu pai, William Gates Sr., que participou ativamente da criação da instituição.

Embora muitos optem por se aposentar nessa fase da vida, Gates afirma que pretende seguir envolvido com a rotina de trabalho por tempo indefinido. “Enquanto puder, quero continuar me reunindo com parceiros, revisando estratégias e fazendo visitas de campo”, disse.

Próximas metas de Gates

Para os próximos 20 anos, o objetivo da fundação é claro: acelerar a redução de mortes evitáveis entre mães e recém-nascidos e tirar milhões de pessoas da pobreza extrema. Gates acredita que os esforços concentrados agora podem preparar o mundo para os desafios das próximas gerações.

Além das doações via fundação, ele continuará investindo em áreas estratégicas como energia e Alzheimer. Por meio da Breakthrough Energy, financia empresas que desenvolvem soluções limpas e inovadoras para geração de energia. Também fundou a TerraPower, voltada à criação de reatores nucleares de nova geração.

Gates já declarou que qualquer lucro gerado por essas empresas será reinvestido na Fundação Gates. No campo da saúde, ele também direciona verbas para pesquisas sobre Alzheimer e outras doenças neurodegenerativas. “A longevidade humana está aumentando, e o Alzheimer pode se tornar um peso crescente para famílias e sistemas de saúde”, alertou.

Leia a carta de Gates na íntegra:

Quando comecei a pensar em como doar minha fortuna, fiz o que sempre faço ao iniciar um novo projeto: li muitos livros.

Li livros sobre grandes filantropos e suas fundações para me orientar nas decisões sobre como exatamente devolver os recursos à sociedade. E li livros sobre saúde global para entender melhor os problemas que eu queria ajudar a resolver.

Uma das melhores coisas que li foi um ensaio de 1889, de Andrew Carnegie, chamado The Gospel of Wealth. Ele defende que os ricos têm a responsabilidade de devolver seus recursos à sociedade — uma ideia radical à época, que lançou as bases da filantropia como a conhecemos hoje.

Na linha mais famosa do ensaio, Carnegie argumenta que “o homem que morre rico morre desonrado”. Tenho pensado muito nessa frase ultimamente.

As pessoas vão dizer muitas coisas sobre mim quando eu morrer, mas estou determinado que “ele morreu rico” não será uma delas. Há problemas urgentes demais para eu manter recursos que poderiam ser usados para ajudar pessoas.

Por isso, decidi devolver meu dinheiro à sociedade muito mais rápido do que planejava inicialmente. Vou doar praticamente toda a minha fortuna por meio da Fundação Gates nos próximos 20 anos, com foco em salvar e melhorar vidas ao redor do mundo.

E, em 31 de dezembro de 2045, a fundação encerrará suas atividades permanentemente.

Esta decisão representa uma mudança em relação aos nossos planos originais.

Quando Melinda e eu fundamos a Fundação Gates, em 2000, incluímos uma cláusula em seu primeiro estatuto: a organização seria encerrada algumas décadas depois da nossa morte.

Alguns anos atrás, comecei a reavaliar essa abordagem. Mais recentemente, com a contribuição do nosso conselho, agora acredito que podemos alcançar os objetivos da fundação em um prazo mais curto — especialmente se reforçarmos os investimentos em áreas estratégicas e dermos mais previsibilidade a nossos parceiros.

Nos primeiros 25 anos da fundação — impulsionados em parte pela generosidade de Warren Buffett — doamos mais de US$ 100 bilhões.

Nos próximos 20 anos, dobraremos esse volume. O valor exato dependerá dos mercados e da inflação, mas espero que a fundação invista mais de US$ 200 bilhões entre agora e 2045. Esse número inclui o saldo atual do fundo patrimonial e minhas futuras contribuições.

Esta decisão vem em um momento de reflexão pessoal.

Além de comemorarmos os 25 anos da fundação, este ano também marca outros marcos importantes: seria o centenário do meu pai, que me ajudou a fundar a organização; a Microsoft completa 50 anos; e eu farei 70 anos em outubro.

Todo esse progresso contou com a generosidade incrível do meu amigo Warren, que, junto com meu pai, teve grande influência na fundação.

Isso significa que oficialmente alcancei uma idade em que muitas pessoas se aposentam.

Respeito quem decide passar os dias jogando pickleball, mas essa vida não é para mim — ao menos, não em tempo integral.

Tenho o privilégio de acordar todos os dias com energia para trabalhar. E pretendo seguir dedicando meus dias a análises estratégicas, reuniões com parceiros e visitas de campo enquanto eu puder.

A missão da Fundação Gates continua sendo a mesma: a ideia de que o lugar onde você nasce não deveria determinar suas oportunidades.

Estou animado para ver como o nosso próximo capítulo ajudará o mundo a se aproximar de um futuro onde todas as pessoas, em todos os lugares, possam viver uma vida saudável e produtiva.

Estou muito orgulhoso do que realizamos nesses primeiros 25 anos.

Fomos peça central na criação da Gavi e do Fundo Global — duas iniciativas que transformaram a forma como o mundo compra e distribui ferramentas que salvam vidas, como vacinas e antirretrovirais.

Juntas, essas duas iniciativas já salvaram mais de 80 milhões de vidas.

Com a Rotary International, fomos um parceiro essencial na retomada do esforço de erradicar a poliomielite.

Apoiamos o desenvolvimento de uma nova vacina contra rotavírus, que ajudou a reduzir em 75% o número de crianças que morrem de diarreia a cada ano.

Em todas essas frentes, reunimos outras fundações, ONGs, governos, agências multilaterais e empresas como parceiras para enfrentar grandes desafios — e vamos continuar a fazer isso nos próximos 20 anos.

Ao acelerar nossas doações, minha esperança é que possamos colocar o mundo no caminho para acabar com mortes evitáveis de mães e bebês e tirar milhões de pessoas da pobreza.

Acredito que podemos deixar a próxima geração em melhores condições e mais preparada para enfrentar os próximos desafios.

Melhorar o mundo sempre foi — e sempre será — um esforço coletivo.

Estou orgulhoso de tudo o que a fundação conquistou nestes 25 anos, mas sei que nada disso teria sido possível sem parceiros extraordinários.

O progresso depende de tantas pessoas ao redor do mundo:

  • Cientistas brilhantes que fazem descobertas inovadoras.

  • Empresas privadas que desenvolvem ferramentas e medicamentos que salvam vidas.

  • Filantropos cuja generosidade impulsiona avanços.

  • Profissionais de saúde que garantem que essas inovações cheguem a quem precisa.

  • Governos, ONGs e instituições multilaterais que constroem sistemas para escalar soluções.

Cada um tem um papel essencial para mover o mundo adiante — e é uma honra apoiar esse trabalho.

Embora a Fundação Gates seja, de longe, meu principal instrumento de doação, não é o único.

Tenho dedicado tempo e recursos à inovação em energia e à pesquisa sobre Alzheimer.

Esta nova decisão não muda minha abordagem nessas áreas.

Ampliar o acesso a energia acessível é essencial para construir um futuro onde todas as pessoas possam viver com dignidade.

A maior parte dos meus investimentos nessa frente é feita por meio da Breakthrough Energy, que financia empresas com ideias promissoras para gerar mais energia com menos emissões.

Também criei a TerraPower, uma empresa que desenvolve tecnologia nuclear de nova geração, segura e limpa.

Ambas têm potencial para gerar lucros, e qualquer dinheiro que eu ganhe com elas continuará sendo reinvestido na fundação — como já faço hoje.

Apoio diversas iniciativas para combater o Alzheimer e outras demências.

Essa é uma crise crescente nos EUA e, com o aumento da expectativa de vida, pode se tornar um fardo global para famílias e sistemas de saúde.

Felizmente, os cientistas estão fazendo avanços promissores para desacelerar ou até interromper o avanço da doença. Pretendo continuar apoiando esses esforços pelo tempo que for necessário.

O sucesso nessas duas áreas (energia e Alzheimer) também influenciará o valor final que poderei doar à fundação, já que os lucros entrarão como parte do montante global da doação.

Acompanhe tudo sobre:Bill GatesBilionáriosFilantropia

Mais de Negócios

Eletrolar Show triplica de tamanho e mira R$ 2 bilhões em negócios

Copastur além das passagens: gigante de R$ 2,5 bilhões quer crescer com eventos, seguros e apps

Atriz Fernanda Rodrigues comanda expansão dos studios boutique do Grupo Smart Fit na Europa

No WhatsApp, brasileiro compra, vende e agora ganha espaço para anunciar