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A startup que nasceu na Votorantim agora faz R$ 887 milhões em 6 meses

De transporte e logística, a Motz atende até a concorrência da empresa-mãe, e apostou no agronegócio para atingir receita bilionária

André Pimenta, CEO da Motz: executivo trabalhou quinze anos na Votorantim antes de assumir posição (Sandro Portaluri / Edição EXAME)

André Pimenta, CEO da Motz: executivo trabalhou quinze anos na Votorantim antes de assumir posição (Sandro Portaluri / Edição EXAME)

Laura Pancini
Laura Pancini

Repórter

Publicado em 8 de setembro de 2025 às 09h00.

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Com receita de R$ 887 milhões apenas nos seis primeiros meses de 2025, alta de 28% em relação ao ano anterior, a transportadora digital Motz quer dobrar de tamanho até 2029.

Fundada em 2020 pela Votorantim Cimentos e operando de forma independente, a empresa aposta no agronegócio, tecnologia e em um relacionamento mais próximo com os caminhoneiros para continuar crescendo acima dos dois dígitos nos próximos anos.

Com 366 mil viagens registradas no primeiro semestre e mais de 10 milhões de toneladas transportadas, a Motz também mais do que dobrou a atuação no agro. O setor representa hoje 40% da receita da companhia, e superou, pela primeira vez, a Votorantim Cimentos, seu cliente fundador. Em julho, quase 5% de todo o milho exportado no país foi transportado pela Motz.

Fundada em 1936, a Votorantim é uma gigante de materiais de construção que nasceu na cidade paulista de mesmo nome. Hoje, está presente em nove países e teve receita líquida de R$ 7,45 bilhões somente no primeiro trimestre de 2025.

As apostas (e os resultados)

Criada em meio à pandemia, a Motz nasceu como uma resposta à greve dos caminhoneiros e à necessidade da Votorantim de se aproximar dos motoristas autônomos. Desde o início, a empresa operou separadamente do grupo e com governança própria. Segundo André Pimenta, CEO da Motz, o modelo permitiu maior agilidade para testar ferramentas digitais e escalar a plataforma para o mercado externo.

Engenheiro de formação, com passagens por empresas como Ambev e a própria Votorantim, André Pimenta está à frente da Motz desde 2021 e liderou a transição da empresa de um projeto interno para uma operadora independente — e que tem até a concorrência da Votorantim como cliente.

“Saímos de um piloto interno para se tornar uma plataforma com mais de 350 clientes, como Cofco, 3tentos, CBA, Inpasa, Nexa e diversas cooperativas. Hoje temos mais de 103 mil motoristas na base, e mais de 1.500 caminhões operando simultaneamente com a gente”, diz Pimenta.

De 2022 para cá, a Motz vem crescendo de forma acelerada. Naquele ano, transportou 15,1 milhões de toneladas para a Votorantim e iniciou a abertura ao mercado, ainda com uma base restrita de clientes e colaboradores.

Em 2023, a receita anual da companhia chegou a R$ 1,17 bilhão, um crescimento de 13% em relação ao ano anterior. "Aceleramos no agro e na construção civil. Foram os setores que puxaram nosso crescimento no ano e ampliaram a diversificação da base de clientes", diz Pimenta.

Em 2024, a empresa fechou o primeiro semestre com R$ 690 milhões em receita líquida e mais de 9,6 milhões de toneladas transportadas. No fim do mesmo ano, o faturamento acumulado ultrapassou R$ 1,5 bilhão, com 20 milhões de toneladas movimentadas. O crescimento foi puxado por novos clientes e investimentos em tecnologia, infraestrutura e gestão da malha logística.

Alerta na pista

O modelo de crescimento, porém, não foi linear. “Nosso plano original previa uma ferramenta puramente digital, mas percebemos que o setor de transporte exige um modelo mais híbrido, com apoio humano para motoristas que continuam se adaptando”, afirma.

A estratégia agora é crescer entregando mais valor ao motorista autônomo e pequenas transportadoras. A Motz oferece serviços como um clube de benefícios com telemedicina, seguro pessoal e descontos em pneus, e também a chance de financiamento de caminhões através de uma parceria com o Banco BV.

Há cerca de um mês, a Motz lançou a Torre de Serviços (deixando de lado o termo mais comum no setor, "torre de controle"). É de lá que as viagens são rastreadas, mas a ideia é oferecer outros serviços para o motorista, cliente e a transportadora.

“O frete continua sendo o essencial, mas queremos ser vistos como uma empresa confiável para o motorista e para o embarcador. Se crescermos entregando valor para os dois lados, criamos uma rede de longo prazo”, diz o CEO.

O que está por vir?

Com um time de 250 pessoas e presença em mais de 150 pontos logísticos, a Motz espera manter o ritmo de crescimento de 25% ao ano. A meta é dobrar de tamanho até 2029 e ultrapassar os R$ 4 bilhões em receita anual.

A tecnologia da Motz também avança para aproximar oferta e demanda em tempo real. Segundo o CEO, a empresa está desenvolvendo sistemas que usam inteligência artificial para sugerir as cargas mais próximas ao ponto onde o motorista está.

“Estamos digitalizando um setor historicamente informal, pulverizado e com baixa tecnologia”, diz Pimenta. “[A novidade] reduz o tempo ocioso, melhora a rentabilidade do motorista e agiliza a operação para o embarcador”.

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