Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul: 46% das empresas afetadas voltaram a funcionar normalmente (Leandro Fonseca )
Repórter de Negócios
Publicado em 5 de maio de 2025 às 09h42.
As enchentes de maio de 2024 seguem deixando cicatrizes profundas no ambiente de negócios do Rio Grande do Sul.
Um ano depois da tragédia, mais da metade dos micro e pequenos empreendedores ainda enfrenta dificuldades para voltar a operar normalmente.
É o que revela a nova edição da Pesquisa de Impacto 2025 – Eventos Climáticos, realizada pelo Sebrae RS entre 3 e 28 de abril com 1.058 empresários das regiões atingidas.
Segundo o levantamento, 46% das empresas afetadas voltaram a funcionar normalmente. Outras 45% ainda estão se reestruturando, 7% não conseguiram retomar e 2% fecharam as portas.
O dado mais crítico vem do setor de microempreendedores individuais (MEI), onde 13% ainda estão parados ou encerraram os negócios de forma definitiva.
“Esses dados indicam um cenário de resiliência empresarial, mas também evidenciam a necessidade de continuidade no apoio àqueles que ainda enfrentam dificuldades. O caminho é longo”, afirma Augusto Martinenco, gerente de Competitividade Setorial do Sebrae RS.
A recuperação emperra principalmente por falta de dinheiro. A maioria dos negócios (84%) não tem recursos próprios para reconstrução e metade não consegue crédito. Em 30% dos casos, o faturamento segue muito abaixo do necessário, e 12% consideram fechar.
A demanda despencou para 79% dos empreendedores logo após as enchentes. A dificuldade de acesso, citada por 75% dos entrevistados, ainda afeta regiões com infraestrutura danificada. Houve também perdas de estoque (57%) e danos estruturais (47%).
Mais de um terço dos empreendedores (35%) não recebeu nenhum tipo de apoio. Apenas 36% tiveram acesso a algum tipo de ajuda governamental. Mesmo com essa lacuna, os negócios seguem buscando formas de se manter ativos — e relevantes.
Para 64% dos entrevistados, o maior desafio agora é conquistar novos clientes. Outros 42% apontam a gestão interna como prioridade para o futuro. Mas 47% ainda não tomaram medidas preventivas para lidar com possíveis novos eventos climáticos.
Alguns negócios, porém, já estão dando a volta por cima. O Cais Embarcadero, em Porto Alegre, reabriu sem subsídios e viu o público crescer 53% após a tragédia. O 360 POA Gastrobar ficou meses sem faturar, mas resistiu e retomou com força. A Lajeadense Vidros, em Lajeado, perdeu tudo, manteve os empregos e ergue uma nova fábrica com o dobro da capacidade. No Correio do Povo, a redação foi evacuada, mas o jornal não parou um dia sequer.
No ecossistema de inovação, o Instituto Caldeira sofreu prejuízo de 400 milhões de reais, mas segue crescendo e planeja impactar 40 mil jovens até 2025. A Livraria Taverna reabriu com ajuda de doações. A Gemelli Sorvetes, atingida por três enchentes, já opera em nova planta. O Vila Flores mobilizou 500 voluntários para voltar a funcionar. E a 4Beer criou seu próprio financiamento coletivo para seguir de pé — e agora planeja expansão via franquias.
Essas histórias foram contadas na série Negócios em Luta, uma iniciativa da EXAME para mostrar como micro e pequenos empreendedores do Rio Grande do Sul enfrentaram a maior tragédia climática da história do estado — e estão sendo uma força vital na sua reconstrução.