A genuína transformação digital emerge de uma administração ponderada, que concebe a tecnologia como uma ferramenta, jamais um destino (Weiquan Lin/Getty Images)
Redação Exame
Publicado em 21 de novembro de 2025 às 08h01.
Por Marcos Yajima, Head de TI da Santa Casa de São Paulo
Estamos mergulhados numa frenética corrida pela Inteligência Artificial. Empresas e instituições batalham para ver quem fala mais sobre IA, mas poucos na verdade entende o porquê — e pra quê — que elas estão nessa correria. A tecnologia se tornou um símbolo de status corporativo, quase uma vitrine da modernidade. Contudo, quando a IA é implantada sem um propósito claro, ela não transforma apenas acelera o caos.
Diversos líderes pensam que automatizar é o mesmo que inovar. Mas automatizar um processo já confuso é só digitalizar o erro. A IA não conserta o que não tem estrutura, ela amplia — tanto a eficiência quanto o descontrole. Na ausência de uma direção, o resultado é a “desorganização automatizada”.
O grande problema é que uma enorme fatia das organizações se apressa em abraçar a IA sem entender o impacto real em pessoas, processos e cultura. A tecnologia é implementada antes da estratégia, e o “por quê” some no meio do “precisamos fazer algo com IA”.
A genuína transformação digital emerge de uma administração ponderada, que concebe a tecnologia como uma ferramenta, jamais um destino.
A Inteligência Artificial entrega valor unicamente quando trabalha por um propósito definido. Antes de qualquer investimento, o líder precisa de responder três questões-chave:
Sem estas respostas, o projeto se inicia sem rumo e termina discretamente. A tecnologia sem um propósito claro, se traduz numa cara distração com ares de novidade. A função do gestor moderno é assegurar que a IA esteja integrada aos propósitos verdadeiros da empresa — e, sobretudo, à experiência das pessoas. Isso requer cultura de dados, um pensamento analítico e visão estratégia. O desafio não está em "ter IA", mas sim, pensar com ela.
No ensino superior, por exemplo, a IA tem grande capacidade de prever a evasão, customizar o aprendizado e auxiliar a administração acadêmica. Mas também apresenta perigos. Observo instituições aplicando automatizações que trocam o olhar humano por métricas automáticas.
O aluno, neste contexto, deixa de ser um indivíduo para virar mero dado. A tecnologia tem que aproximar, não empurrar para longe. O objetivo da IA na educação tem que ser libertar o ser humano do trabalho rotineiro, para que ele possa se concentrar no que importa — acolher, instruir e inspirar. No final, a inovação genuína surge quando a IA amplia o efeito humano, e não quando a substitui.
Os três fundamentos da inteligência com propósito
Após anos guiando projetos de transformação digital, eu observo que a IA só funciona a longo prazo quando se alicerça em três pilares fundamentais:
Esses pilares formam o que eu chamo de inteligência institucional — quando tecnologia e cultura andam lado a lado, transformando dados em decisões e decisões em resultados.
Um líder moderno não precisa ser expert em IA, mas precisa ser um tradutor de tecnologia. A sua função é transportar o potencial da IA para o cenário da empresa e motivar sua equipe a raciocinar de maneira estratégica. Precisamos mais de líderes que sabem formular perguntas inteligentes antes de agir do que de simples ferramentas.
Isso significa que o verdadeiro desafio, não é mandar na IA, é ter domínio do propósito. É entender que o que realmente faz a diferença não está no software, mas na maturidade da administração que o emprega.
A IA é poderosa, mas só vira uma força transformadora quando amplifica o que temos de mais valioso: a inteligência humana. Em resumo, o propósito é a inteligência que jamais será artificial.