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Giorgio Armani: depois da morte do fundador, quem ficará com a grife?

Com € 2,3 bilhões em vendas anuais, grife enfrenta desafio de manter legado e relevância global após a morte do fundador

Giorgio Armani: fundador manteve a grife independente até seus 91 anos (Pascal Le Segretain/Getty Images)

Giorgio Armani: fundador manteve a grife independente até seus 91 anos (Pascal Le Segretain/Getty Images)

Publicado em 5 de setembro de 2025 às 08h25.

A morte de Giorgio Armani, aos 91 anos, abre a maior incerteza para a grife que leva seu nome: como preservar a independência e o legado da marca sem a figura do fundador?

Ao contrário de rivais absorvidos por conglomerados como LVMH e Kering, o estilista sempre fez questão de manter a empresa privada e preparou mecanismos para evitar aquisições externas, segundo informações do Wall Street Journal.

Sem cônjuge ou filhos, o estilista preparou a sucessão por meio da Fundação Giorgio Armani, criada em 2016 para assegurar continuidade e autonomia.

De acordo com a Reuters, o estatuto prevê diferentes classes de ações, limites a endividamento e aquisições e ainda impõe que uma eventual abertura de capital só possa ocorrer cinco anos após a entrada em vigor das novas regras e com apoio da maioria do conselho.

Armani já havia escolhido três nomes para conduzir a fundação, mas os indicados não foram divulgados.

Principais nomes da marca

Na sucessão, familiares e colaboradores próximos devem assumir papéis centrais. O círculo inclui Pantaleo “Leo” Dell’Orco, braço direito do estilista e responsável pelas coleções masculinas; a sobrinha Silvana Armani, que trabalhava nas coleções femininas; Roberta Armani, que cuida das relações com celebridades; Andrea Camerana, diretor de sustentabilidade; e Rosanna Armani, irmã do fundador.

Segundo o Wall Street Journal, será necessário também nomear novos presidente do conselho e CEO, já que Armani acumulava os dois cargos. Entre os possíveis nomes estão Giuseppe Marsocci, atual vice-diretor geral e diretor comercial, com carreira quase toda dedicada à marca, e Daniele Ballestrazzi, vice-diretor geral e responsável por operações e finanças, que está na companhia desde 2007.

Interesse do mercado

Mesmo em um mercado de luxo em desaceleração, a marca continua atraente no mercado. Mario Ortelli, da consultoria Ortelli&Co., afirmou à Reuters que a Armani é “uma das grifes mais reconhecidas do mundo”, embora veja improvável um negócio no curto prazo.

Já Luca Solca, da Bernstein, disse ao WSJ que a morte do fundador tende a aumentar o assédio de potenciais compradores, já que “marcas assim raramente vão a mercado”.

Em 2024, a companhia faturou € 2,3 bilhões (US$ 2,7 bilhões) e terminou o ano com € 570 milhões em caixa. O lucro caiu quase um quarto e as vendas recuaram 5%, mas o grupo reforçou investimentos em lojas-âncora, como o edifício da Madison Avenue, em Nova York, e inaugurou o Palazzo Armani, em Paris. Também internalizou a gestão do e-commerce, numa tentativa de recuperar dinamismo.

O portfólio vai da alta-costura Armani Privé às linhas Emporio Armani e Armani Exchange, além de negócios de lifestyle que incluem mobiliário, cafés, chocolates e hotéis em Milão e Dubai.

Direção criativa

Analistas ouvidos pelo WSJ avaliam que a grife precisa revitalizar sua distribuição e reconquistar relevância global, sem perder o DNA minimalista e atemporal que consagrou Armani.

A grande dúvida está na direção criativa. Silvana Armani e Dell’Orco atuavam ao lado do fundador nas coleções, mas não está claro se haverá um único diretor criativo ou liderança dividida por linhas. A definição deve seguir diretrizes deixadas pelo estilista, segundo a Reuters.

O testamento vai detalhar como a fundação e os familiares dividirão o controle. Até lá, a mensagem oficial da empresa é de continuidade: seguir adiante respeitando os valores de independência, rigor e discrição que pautaram a trajetória de Giorgio Armani — valores que ele dizia já ter preparado seus sucessores para carregar no próximo capítulo da marca.

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