João Teodoro, presidente do Sistema Cofeci-Creci: 41% dos profissionais híbridos mudariam de emprego se perdessem o direito ao remoto
EXAME Solutions
Publicado em 27 de agosto de 2025 às 16h23.
Última atualização em 27 de agosto de 2025 às 16h27.
Por João Teodoro,
presidente do Sistema Cofeci-Creci
A pandemia de coronavírus, decretada em 11 de março de 2020 pela OMS, acelerou uma tendência que vinha de forma tímida: o trabalho remoto. No auge das restrições, cerca de 23% dos trabalhadores estavam em home office. Com o fim da pandemia, anunciado em 5 de maio de 2023, essa modalidade perdeu força, mas deixou marcas profundas — especialmente nas gerações mais jovens, que já nasceram imersas na tecnologia, como a geração Z.
A entrada dessa nova leva de profissionais no mercado está transformando não apenas a forma como as empresas se organizam, mas também como os espaços corporativos e o próprio mercado imobiliário funcionam.
Nascidos entre 1995 e 2010, eles cresceram em um mundo digital, multicultural e acelerado — e levam para o trabalho uma visão centrada em propósito, autonomia e equilíbrio de vida. Nesse cenário, o modelo híbrido — mesclando momentos presenciais e remotos — se consolidou como preferência e impõe desafios a estruturas corporativas tradicionais.
Segundo o relatório State of Hybrid Work 2024 da Owl Labs, 43% dos trabalhadores afirmaram ter sentido aumento do estresse no último ano, e 89% disseram que não houve melhora nesse aspecto. Entre os mais afetados estão os jovens da geração Z, que popularizaram o termo crashing out — um colapso emocional causado por sobrecarga, frustração e perda de sentido no trabalho.
Para eles, trabalhar não pode ser apenas uma obrigação mecânica: precisa se alinhar à saúde mental, ao tempo livre e aos valores pessoais. A imposição do retorno ao escritório, por exemplo, é uma das principais fontes de insatisfação. Metade dos entrevistados no estudo disse não ver propósito claro na presença física.
O custo também pesa: nos Estados Unidos, um dia no escritório sai, em média, US$ 61 a mais por pessoa. No Brasil, a proporção é igualmente significativa, somando transporte, alimentação e outros gastos. Não à toa, 41% dos profissionais híbridos afirmam que mudariam de emprego caso perdessem a possibilidade de trabalhar remotamente.
Esse novo comportamento profissional provoca efeitos em cadeia. Muitas empresas estão reduzindo o tamanho dos escritórios e buscando alternativas como coworkings, contratos flexíveis e espaços compartilhados. A vacância de imóveis comerciais cresce, pressionando preços para baixo e forçando investidores a rever estratégias.
Ao mesmo tempo, o interesse por imóveis residenciais com espaço para home office dispara, beneficiando cidades médias e regiões mais afastadas dos grandes centros — locais com custo de vida menor e melhor qualidade de vida.
A geração Z está no centro de uma transformação irreversível. Para eles, flexibilidade não é benefício, mas pré-requisito. As empresas que ignorarem essa mudança correm o risco de perder talentos e competitividade.
No mercado imobiliário, a lógica também se inverte: a casa passa a ser não só espaço de moradia, mas de produção, criatividade e interação digital. O escritório físico, antes símbolo de status e produtividade, torna-se um complemento — e não mais o núcleo da vida profissional.
Essa transição ganha ainda mais força com o avanço da inteligência artificial, que amplia a capacidade de trabalhar e colaborar de qualquer lugar. A combinação de novas tecnologias e novas mentalidades indica que o futuro do trabalho e do setor imobiliário brasileiro será híbrido, descentralizado e orientado pela qualidade de vida.