EXAME Solutions
Publicado em 31 de outubro de 2025 às 10h27.
Última atualização em 31 de outubro de 2025 às 10h32.
A construção civil continua sendo um dos pilares da economia brasileira. Em 2024, o setor movimentou R$ 359 bilhões e cresceu 4,3%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), um avanço expressivo diante de juros elevados e custos em alta. Para 2025, as perspectivas apontam para mais um ciclo de superação e reinvenção.
Para entender como as empresas estão lidando com esse cenário, o episódio mais recente da série Conversa de CEO, iniciativa da consultoria Falconi em parceria com a EXAME, recebeu Alex Veiga, CEO do Grupo Patrimar, em um bate-papo conduzido por André Chaves, vice-presidente de Indústria de Base e Bens de Capital da Falconi.
Logo no início da conversa, Chaves destaca a importância da eficiência em um setor de margens apertadas. “A construção civil lida com prazos longos e custos elevados. Metodologias como o Lean Construction ajudam a aumentar a eficiência e reduzir desperdícios nos canteiros de obra”, afirma.
Veiga explica que o método é inspirado no modelo de produção da Toyota, aplicando os princípios da manufatura enxuta à construção civil, otimizando processos, eliminando desperdícios e promovendo uma cultura de melhoria contínua. “Implementamos o Lean desde a aquisição de terrenos até a execução das obras”, conta. “Antes, eu só ficava sabendo das notícias no final. Agora, o time tem autonomia e capacidade de reação. O resultado é espetacular.”
O executivo lembra que a companhia viveu um processo acelerado de crescimento e, por isso, precisou reorganizar a gestão para sustentar o avanço. “Tivemos um programa de desenvolvimento que chamava PX2, que significava dobrar a empresa em quatro anos. E assim foi feito, a empresa cresceu. Foi aí que o Lean entrou, e o resultado foi uma virada completa na forma de trabalhar”, diz.
Os desafios, porém, não se restringem à rotina de gestão. Elementos como juros altos e crédito restrito também impactam os negócios. Mesmo assim, Veiga mantém uma visão otimista, com foco nas melhorias internas. “Temos duas empresas: a Patrimar, voltada para alta renda, e a Novolar, focada nas classes média e econômica. Na Novolar, buscamos padronização e volume, com processos construtivos como as paredes de concreto, que nos permitem otimizar e medir tudo. Já na Patrimar, cada projeto é único, mais sofisticado, feito sob medida”, explica.
As pessoas também são peça-chave nessa engrenagem. “Os profissionais são escolhidos a dedo. Do nível de gerente para cima, eu entrevisto todos”, afirma o CEO. “Promovemos muita gente internamente, e isso desperta a vontade de crescer. É muito raro abrir uma vaga e não promover alguém do time. Isso cria uma cultura de ambição e pertencimento.”
Outro tema central da conversa foi a sustentabilidade. Hoje, de acordo com Veiga, todos os empreendimentos da Patrimar são projetados seguindo as diretrizes do Excellence in Design for Greater Efficiencies (EDGE), certificação internacional criada pela Corporação Financeira Internacional (IFC), membro do Grupo Banco Mundial, que reconhece projetos com alta eficiência energética e menor impacto ambiental.
Já na Novolar, a empresa está implantando o Selo Casa Azul da Caixa Econômica Federal, que avalia critérios como redução de impacto ambiental, vida útil da edificação, diminuição das despesas mensais dos moradores, benefícios diretos e indiretos para o entorno, entre outros. “Recentemente, firmamos contratos com o Banco do Brasil, com recursos internacionais do EcoInvest voltados para a sustentabilidade. As novas gerações, especialmente o público jovem que compra a primeira casa, valorizam cada vez mais esses critérios ESG”, afirma o CEO.
A conversa traz ainda uma reflexão sobre liderança e propósito. “O líder dá o tom. Criamos o comitê do Lean, com encontros mensais, para garantir que o processo nunca se esvazie. Cultura é tudo. E, no fim das contas, o sucesso se constrói com gente”, diz Veiga. Chaves, executivo da Falconi, concorda. “Se o tema não vier da alta gestão, não funciona.”