Rafael Miller (desenvolvedor) e Nicolas Camara (cofundador) da Firecrawl: startup do americana tem fortes raízes brasileiras
Repórter
Publicado em 19 de agosto de 2025 às 08h11.
Última atualização em 19 de agosto de 2025 às 11h36.
Uma empresa de e-commerce quer melhorar as recomendações de produtos para os clientes usando inteligência artificial. O problema? As informações que ela tem sobre os produtos e clientes estão desorganizadas: preços em formatos diferentes, descrições confusas e dados que não se conectam corretamente. Na era da IA, a Firecrawl resolve esse desafio.
A startup com raízes brasileiras criou uma ferramenta que pega essas informações desordenadas da internet, organiza tudo e as transforma em dados úteis para alimentar a inteligência artificial de forma precisa.
O potencial da ferramenta é palpável: a startup acaba de conquistar um aporte de R$ 81 milhões na rodada Série A, liderada pela Nexus VP, com a presença estratégica da Y Combinator. Uma das aceleradoras mais prestigiadas do mundo, já apostou em gigantes como Rappi, Airbnb, Twitch e Reddit — e está com os fundadores da Firecrawl desde o primeiro negócio do trio.
A história da Firecrawl começa com um produto completamente diferente. Fundada por três amigos que se conheceram na faculdade — o brasileiro Nicolas Silberstein Camara e os americanos Caleb Peffer e Eric Ciarla —, a startup teve seus primeiros passos na criação de uma plataforma para ensinar desenvolvedores a programar dentro de editores de código, chamada Side Guide.
Nesta época, o trio se inscreveu para o programa de verão da Y Combinator e conseguiu, além de mentorias, um investimento inicial de US$ 500 mil.
O produto não escalou, mas a startup rapidamente pivotou para uma nova ideia. O Mandable ajudava empresas a treinar chatbots com base na documentação existente, e foi durante esse período que a Firecrawl vendeu para gigantes como Snapchat, MongoDB (de gerenciamento de dados), DoorDash (de delivery) e Coinbase (de criptomoedas).
Sempre interessados em descomplicar a vida do desenvolvedor, o trio continuou na busca por novas ideias. Logo se depararam com outro problema comum entre as empresas de tecnologia: a falta de uma ferramenta simples e eficiente para limpar dados da web e torná-los utilizáveis para IA.
Foi aí que a Firecrawl entrou com uma abordagem diferenciada. Ao invés de se concentrar apenas no "como" coletar dados, ela focou em transformar os dados brutos da internet em algo valioso, funcional e prático para os desenvolvedores de IA.
A aceleradora americana serviu como um porto seguro todos esses anos para o trio, mesmo com duas ideias que não foram a frente. Agora, com a Firecrawl, apostou de novo no grupo.
"A Y Combinator costuma acreditar muito no time por trás do produto", resume o brasileiro Rafael Miller, principal (e primeiro) desenvolvedor da Firecrawl.
Foi a partir desse incômodo que eles criaram, inicialmente para uso próprio, uma ferramenta de web scraping que rapidamente se mostrou útil e eficiente dentro da empresa.
A ferramenta foi disponibilizada como código aberto no GitHub. Para monetizar a solução, a Firecrawl vendeu uma versão com instalação simplificada por US$ 50.
“Nós só queríamos resolver o nosso próprio problema, mas as outras pessoas também precisavam disso”, conta Nicolas. A ideia foi amadurecendo e, em poucos meses, a ferramenta se transformou no produto principal da Firecrawl.
A plataforma da Firecrawl funciona como uma API aberta (é como colar o software de uma empresa no outro).
Assim, as empresas coletam, organizam e integram dados não estruturados da internet em seus sistemas de IA.
Essa tecnologia é essencial especialmente para empresas que desenvolvem assistentes virtuais, chatbots, enriquecimento de dados e pesquisas automatizadas.
Atualmente, a Firecrawl é usada por mais de 6.500 empresas, incluindo gigantes como Nvidia, OpenAI, MongoDB e Shopify. No Brasil, já são mais de mil empresas utilizando a plataforma.
Com uma equipe enxuta de apenas doze pessoas, a startup já tem uma receita compatível com startups em estágio Série B, segundo Camara.
Com os R$ 81 milhões arrecadados, a Firecrawl pretende expandir ainda mais sua operação, com foco no fortalecimento da infraestrutura e no aumento da base de clientes.
“Nosso objetivo é transformar a Firecrawl na infraestrutura crítica para a nova economia baseada em agentes e modelos de IA. Não somos um agente, mas uma camada essencial que garante dados confiáveis e utilizáveis por esses sistemas”, diz Camara.