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Investidor americano que apostou em Twitter e Coinbase revela a próxima ideia que mudará tudo

Greg Kidd, um dos primeiros a acreditar em Jack Dorsey e no potencial do bitcoin, aposta que o Brasil pode liderar a próxima revolução financeira

Greg Kidd durante o evento AI Salon, no Rio de Janeiro: investidor-anjo veio ao Brasil para falar de blockchain e inteligência artificial

Greg Kidd durante o evento AI Salon, no Rio de Janeiro: investidor-anjo veio ao Brasil para falar de blockchain e inteligência artificial

Laura Pancini
Laura Pancini

Repórter

Publicado em 20 de maio de 2025 às 05h57.

Última atualização em 20 de maio de 2025 às 08h25.

Em meados dos anos 2000, no quintal de uma casa em São Francisco, Jack Dorsey trabalhava como babá. Ele cuidava da filha de Greg Kidd, investidor que acabava de vender sua empresa e era conhecido nos círculos de tecnologia por identificar tendências antes do mercado. Na época, a rede social que Dorsey idealizava ainda era uma ideia em construção.

O americano enxergou ali mais do que um ajudante temporário: viu um fundador com ideias poderosas sobre comunicação em rede. Apostou no Twitter (atualmente X), como faria depois com Coinbase, Ripple e Solana. Agora, duas décadas depois, ele diz ver outro salto à frente — a convergência entre inteligência artificial, blockchain e identidade digital.

“Tudo tem identidade”, afirma o americano. “Uma pessoa, uma empresa, um robô, uma transação. Se conseguirmos rastrear todas essas identidades com tecnologia, o sistema financeiro será mais justo, mais barato e mais seguro”.

Kidd foi o terceiro convidado do AI Salon Rio, realizado na última quinta-feira, 15, em parceria com a AWS Startups e o Instituto 12. A iniciativa é liderada por Luana Helsinger, ex-private equity que vive entre o Rio de Janeiro e o Vale do Silício e decidiu trazer ao Brasil o capítulo carioca do AI Salon — rede global criada por Jeff Abbott, da Blitzscaling Ventures. A proposta é clara: posicionar o Rio como um polo estratégico na nova era da inteligência artificial.

Bots com conta bancária

Hoje, enviar US$ 1 milhão entre países pode custar cerca de US$ 25. Mas, segundo o americano, apenas 25 centavos correspondem ao custo real da operação. Os outros US$ 24,75 são consumidos por verificações — para checar se a transação envolve fraude, lavagem de dinheiro, financiamento ao terrorismo ou falhas de identidade.

Para ele, esse é o nó central que a IA generativa pode resolver. A tecnologia teria o papel de um terceiro agente nas transações — não apenas para verificar se há saldo ou credenciais, mas para julgar a legitimidade da operação. “No futuro, a pergunta-chave não será mais ‘você pode fazer essa transação?’, mas sim ‘você deveria fazer essa transação?’”, afirma.

Kidd propõe que agentes autônomos, treinados por IA, atuem de forma preventiva e analítica, interrogando dados como ordens de compra, notas fiscais e contratos antes da movimentação de grandes valores. “A IA precisa ser boa o bastante para identificar não só uma fraude clássica, mas também quando duas partes estão coludidas numa operação aparentemente legítima”, diz.

O próximo passo, segundo ele, é dar autonomia financeira a esses agentes. O empreendedor defende que bots tenham contas bancárias próprias e possam executar tarefas diretamente, como empresas já fazem hoje. “Alguém sempre estará por trás — como acontece com qualquer CNPJ. O que muda é que a IA pode fazer isso com mais precisão, rastreabilidade e escala”, afirma o investidor.

Brasil como laboratório

Apesar de ser americano, Kidd vê no Brasil uma das geografias mais promissoras para inovações em fintech. Para ele, o país reúne uma combinação rara: uma cultura aberta à tecnologia, um sistema de pagamentos avançado — com destaque para o Pix — e uma regulação que favorece o desenvolvimento do Open Finance.

O Brasil tem o melhor Banco Central do mundo. Criou infraestrutura de ponta onde antes havia ineficiência e fraudes. Isso torna o país um dos lugares mais férteis para desenvolver o futuro do sistema financeiro”, diz.

O empreendedor destaca que muitos dos avanços brasileiros foram resposta a desafios locais — como o alto índice de fraudes e os custos elevados de cartão de crédito. Para ele, esse contexto forçou inovações como o Pix e o sistema de pagamentos instantâneos, colocando o país à frente até de economias centrais nesse quesito.

Mesmo sem ter investido em nenhuma startup local, Kidd afirma estar atento. Segundo ele, o país tem potencial não apenas para adotar novas tecnologias, mas para criar os protocolos que vão reger o próximo ciclo de inovações em identidade, reputação e crédito.

A era da identidade digital

Além das apostas em tecnologia, Kidd é CEO da GlobaliD, startup que fundou em 2016 com o objetivo de repensar o conceito de identidade digital. A plataforma permite que indivíduos tenham uma identidade portátil e validada por meio de relações e comportamentos online — sem depender de documentos centralizados nem do controle de governos.

A proposta central é criar um “passaporte digitalque armazena provas de identidade e as vincula a um nome único, tudo protegido por blockchain. Isso reduz o risco de vazamento de dados e evita os chamados “silos de informação” das instituições financeiras tradicionais.

“A verdadeira inovação é tirar o controle das mãos de quem já tem muito e devolver para quem ainda não tem nada”, diz Kidd. Para ele, a identidade será o eixo central do novo sistema financeiro: ela conecta reputação, crédito, transações e acesso a serviços. “Sem identidade confiável, não há como expandir o sistema para quem hoje está fora dele”, afirma.

Antes da GlobaliD, o americano já havia atuado como diretor do Federal Reserve, o equivalente ao Banco Central no Brasil. Ele também já fundou uma empresa de entregas que chegou a ser listada na Nasdaq e acumulou participações em dezenas de startups. Nas eleições americanas de 2024, concorreu à Câmara dos Representantes dos EUA como "independente" (ou seja, nem democrata, nem republicano) para representar Nevada.

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