Sandro Tôrres, Anna Carolina Cruz e Wanessa Cruz, da Casa Arte Plena: conexão de artistas goianos a compradores no Brasil e no mundo (Mayara Varalho/Divulgação)
Editor de Negócios e Carreira
Publicado em 19 de setembro de 2025 às 17h55.
Última atualização em 19 de setembro de 2025 às 18h00.
Em um mercado de arte historicamente concentrado nas grandes metrópoles do país, Goiânia vem se destacando como um pólo emergente. Um grupo de empreendedores ajudou a construir, praticamente do zero, um ecossistema vibrante. Hoje, esse ecossistema movimenta milhões e atrai olhares de colecionadores e profissionais de todo o Brasil.
A história do espaço Casa Arte Plena e da FARGO, a Feira de Arte Goiás, reflete o esforço de três empreendedores. Com visão e resiliência, eles conectaram artistas locais a um mercado crescente, tornando-se protagonistas do setor cultural goiano.
A trajetória da Casa Arte Plena começou há 18 anos. Na época, os sócios Sandro Tôrres, Wanessa Cruz e Anna Carolina Cruz decidiram abrir um pequeno comércio de materiais artísticos em Goiânia. Sandro e Wanessa, ambos artistas, passaram a ser procurados por jovens talentos. Percebendo a dificuldade desses artistas em financiar suas produções, ofereceram suporte financeiro em troca de uma participação nas vendas. Com o tempo, esse negócio de apoio à produção artística foi evoluindo. Goiânia, impulsionada pelo agronegócio, viu sua economia se expandir.
"Ao longo desses 18 anos, aprendemos que arte e gestão precisam caminhar juntas. De uma loja de material artístico, com espaço para aulas de pintura e artesanato, hoje atuamos como uma plataforma. Conectamos pessoas, ideias e negócios. Esse é o nosso maior diferencial", explica Wanessa Cruz, fundadora e diretora da Casa Arte Plena.
Como resultado desse trabalho, a Casa Arte Plena se consolidou como uma das principais referências do mercado de arte no Centro-Oeste brasileiro. A galeria conta com um portfólio de mais de 1.500 obras e 100 artistas no acervo.
Um dos marcos mais importantes da Casa Arte Plena foi a criação da FARGO, a Feira de Arte Goiás. Lançada em 2017, a FARGO foi uma iniciativa ambiciosa. Naquela época, a cidade ainda não contava com muitas galerias ou eventos do porte da feira. Organizar o evento foi um desafio logístico e de conteúdo. Porém, foi uma decisão estratégica crucial para consolidar o mercado de arte local.
Com o apoio da Casa Arte Plena, a feira deu visibilidade à arte de Goiás e alavancou o interesse de colecionadores e galerias de outros estados. Em sua última edição, realizada em maio de 2025, a FARGO movimentou cerca de R$ 5 milhões em vendas de obras de arte de artistas goianos.
"Sem dúvidas, a FARGO foi um divisor de águas. O desafio logístico e de conteúdo foi imenso, mas conseguimos estruturar a feira com cerca de 30 expositores. O evento foi fundamental para impulsionar o cenário artístico goiano, principalmente após a versão online de 2020. Ela alcançou visibilidade nacional e ajudou a colocar Goiás no mapa das artes visuais do Brasil", afirma Wanessa Cruz.
FARGO: em 2025, 20 mil pessoas visitaram o evento, dos quais 30% de fora de Goiânia (Mayara Varalho/Divulgação)
Além de ser uma vitrine para artistas locais, a feira tem contribuído para a formação de novos colecionadores e para a expansão do mercado de arte de Goiás. Tornou-se um dos principais eventos culturais da região Centro-Oeste. A cada edição, a FARGO atrai um público diversificado, incluindo colecionadores, estudantes, profissionais do setor e turistas. Em 2025, aproximadamente 20 mil pessoas visitaram o evento. Do público total, 30% veio de fora de Goiânia, incluindo colecionadores de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e até de outros países.
"A FARGO não é apenas uma feira de vendas. Ela se tornou um evento cultural completo. Durante o evento, a cidade respira arte, com exposições, palestras e intercâmbio entre profissionais de várias áreas. A feira virou uma plataforma de negócios e um ponto de encontro entre artistas, galeristas e colecionadores", diz Sandro Tôrres, escritor, artista visual e curador da Casa Arte Plena.
O mercado de arte de Goiás tem ganhado destaque nos últimos anos. Muitos artistas locais, antes desconhecidos, agora se tornam nomes reconhecidos nacionalmente. Entre eles, destacam-se Siron Franco, Antonio Poteiro, Marcelo Amorim, Helô Sanvoy, Ebert Calaça e Yan Paluki. Ao longo dos anos, esses artistas passaram pela Casa Arte Plena e ganharam projeção no mercado. Suas obras passaram a ser comercializadas por valores que antes pareciam impensáveis.
"O nome mais procurado em Goiás ainda é Siron Franco. Ele tem uma produção vastíssima e suas obras são muito valorizadas, mesmo no mercado secundário. O mercado de arte em Goiás tem crescido. Com isso, a demanda por artistas locais se intensificou. Hoje, temos artistas que, antes, vendiam suas obras por menos de R$ 5.000. Agora, já estão no patamar de mais de R$ 50.000", diz Sandro Tôrres.
Apesar de o valor movimentado na FARGO ser expressivo, ele ainda está distante dos números de feiras maiores, como a SP-Arte ou a ArtRio. Ambas movimentam entre R$ 50 milhões e R$ 80 milhões por edição. No entanto, o crescimento proporcional da FARGO é considerável. Ele reflete o dinamismo do mercado de arte no estado.
"O mercado de arte em Goiás tem crescido. A FARGO tem sido uma grande responsável por essa transformação. Com a feira, conseguimos mostrar para o Brasil que Goiás não é apenas uma região do agronegócio, mas também um polo cultural crescente. A arte de Goiás está conquistando seu espaço", diz Wanessa Cruz.
Com a FARGO consolidada e o mercado de arte local em plena expansão, a Casa Arte Plena agora se prepara para uma nova fase: a busca por conexões internacionais. O objetivo é expandir as operações da galeria e da feira para o exterior. A ideia é criar novas oportunidades para artistas goianos e brasileiros e solidificar a posição de Goiás no circuito internacional de arte.
"Estamos trabalhando arduamente para criar uma rede de contatos no exterior. Temos muitos projetos audaciosos para os próximos anos. Queremos que nossos artistas tenham uma presença mais forte no mercado internacional. A arte goiana tem muito a oferecer. Com a FARGO e a Casa Arte Plena, queremos levar isso para o mundo", afirma Sandro Tôrres.
Casa Arte Plena, em Goiânia: aposta em artistas locais (Rogerio Esteves/Divulgação)