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Eles acabam de captar R$ 21 milhões para colocar a 'agendinha' da escola dentro de um app

Startup quer resolver o caos digital das escolas e centralizar tudo — da tarefa de casa ao boletim — num só lugar

Ivan Seidel e Danilo Yoneshige, sócios-fundadores da Layers: “O professor antes escrevia nas 25 agendas. Hoje ele envia uma mensagem no app. A gente digitalizou a agendinha, mas manteve o lado humano da troca.” (Layers/Divulgação)

Ivan Seidel e Danilo Yoneshige, sócios-fundadores da Layers: “O professor antes escrevia nas 25 agendas. Hoje ele envia uma mensagem no app. A gente digitalizou a agendinha, mas manteve o lado humano da troca.” (Layers/Divulgação)

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 17 de setembro de 2025 às 05h00.

Última atualização em 17 de setembro de 2025 às 06h05.

Os tempos de dar “visto” na agendinha da escola ficaram para trás.

O recado escrito à caneta azul, colado com fita no caderno, agora virou notificação no celular — e já chega com confirmação de leitura.

Uma das responsáveis por essa transformação é a Layers, uma startup de educação criada no ABC Paulista que desenvolveu um superapp para centralizar a comunicação e os sistemas usados por escolas públicas e privadas.

Hoje, a plataforma já é usada por mais de 9.600 instituições e 3,5 milhões de alunos, e quer ir muito além da agenda digital.

A empresa acaba de levantar um aporte de 21 milhões de reais em uma rodada pré-série A liderada por um fundo canadense. O investimento elevou o valuation da empresa para 120 milhões de reais e vai dar fôlego à startup para avançar com aquisições e internacionalização — e também para recomprar a participação da Faber-Castell, que havia investido na startup em 2022.

“Agora entramos em uma fase de aceleração. Vamos seguir com a tese de neutralidade, integrando qualquer edtech ao nosso sistema, sem conflito de interesse com grupos educacionais”, afirma o CEO e cofundador Danilo Yoneshige. “Nosso papel é ser o app da escola — não importa o que ela use por trás.”

Nos próximos dois anos, a empresa quer dobrar de tamanho e alcançar faturamento de 40 milhões de reais, com uma estratégia que mistura crescimento orgânico com aquisições de startups que atuam em nichos específicos do setor educacional.

O que a Layers faz

A Layers criou um superapp de gestão escolar, que unifica tudo que a escola precisa em um único ambiente digital. Na prática, é uma plataforma com todo o tipo de serviço que uma escola e os alunos precisam (de ferramentas para bibliotecas a cantinas).

É uma solução white label, ou seja, as escolas usam o aplicativo com a própria marca, mas com toda a tecnologia da Layers por trás.

“A gente entrega o app pronto, com comunicação, boletos, tarefas, notas, frequência — tudo dentro, com um só login”, afirma Danilo.

A empresa nasceu da dor vivida em sala de aula.

Danilo foi professor por quase 15 anos, em escolas como o Dante Alighieri, e sentiu na prática como é difícil implementar tecnologia no ambiente escolar. “Cada nova solução exigia um esforço enorme. A Layers veio para reduzir esse atrito.”

Com o tempo, a plataforma evoluiu de uma agenda digital para um hub que conecta escolas a mais de 4.000 ferramentas de edtechs, como bibliotecas digitais, sistemas de gestão acadêmica e plataformas de aprendizagem.

“A gente não tenta ser tudo. A gente integra tudo. A escola escolhe as ferramentas, e a Layers conecta.”

No setor público, onde a empresa atende mais de 7.600 instituições, o modelo é diferente: não há cobrança do poder público.

Quem paga são as edtechs que usam a infraestrutura da Layers para rodar dentro da escola. “Garantimos dados organizados, login seguro, autenticação unificada. Isso vale para qualquer ferramenta que a escola adote.”

Segundo Danilo, o maior diferencial é justamente essa neutralidade tecnológica.

“Não somos concorrentes das edtechs — somos o canal. E isso é algo raro no mercado educacional.”

De sala de aula à fundação da Layers

A história da Layers começa em 2017, quando Danilo e seu sócio Ivan participaram da Bett Educar, um evento de tecnologia para escolas, e perceberam o abismo entre escolas e fornecedores de tecnologia.

“Se a escola ou a empresa não estivesse presente num evento como aquele, simplesmente não se conectavam. A gente quis encurtar esse caminho.”

Em 2018, lançaram o primeiro MVP com três escolas. O foco era resolver a dor da comunicação entre escola e família — e isso ainda é o coração do app.

“O professor antes escrevia nas 25 agendas. Hoje ele envia uma mensagem no app. A gente digitalizou a agendinha, mas manteve o lado humano da troca.”

A plataforma foi crescendo em etapas. Primeiro, atacou a dor da comunicação. Depois, virou um marketplace de soluções escolares — uniforme, material didático, licenças digitais. E, por fim, virou o superapp com foco total em integração.

“As escolas não têm fôlego para desenvolver tecnologia. Mas precisam entregar uma experiência digital. É aí que a gente entra”, diz Danilo. Hoje, a Layers também gera relatórios de engajamento, predição de desempenho e uso de ferramentas — tudo com base nos dados que passam pelo app.

O desafio da digitalização escolar

Mesmo com a aceleração da digitalização após a pandemia, o setor educacional continua cheio de barreiras.

“Educação foi um dos últimos mercados a se digitalizar. E ainda tem resistência, especialmente nas escolas menores e nas cidades do interior”, afirma Danilo.

Além da resistência cultural, há o desafio do custo. Com um mercado de 40.000 escolas privadas extremamente pulverizado, vender direto para cada escola é demorado e caro.

“Nosso custo de aquisição de cliente é alto. A gente precisa ser eficiente em aquisição, por isso a estratégia de M&A é tão importante agora.”

A empresa está de olho em startups regionais que já tenham penetração local.

“Tem soluções com 300, 400 escolas em regiões específicas. A ideia é integrar essas operações ao nosso app, mantendo a marca delas, mas com nossa base tecnológica.”

Outra frente é o B2B2B: fechar parcerias com sistemas de gestão escolar que ainda não têm app.

“Esses ERPs não querem desenvolver aplicativos, mas precisam oferecer. A gente entra com o app white label, acelera a entrega e ainda integra com as soluções que a escola já usa.”

A digitalização também esbarra no básico: muitas escolas ainda não têm uma jornada de compra digital. “Vender educação online ainda é um desafio. A gente precisa educar o mercado, e isso toma tempo.”

Aporte, internacionalização e os próximos passos

O aporte de 21 milhões de reais serve a três frentes:

  • acelerar aquisições
  • fortalecer a expansão na América Latina
  • consolidar a posição da Layers como infraestrutura neutra no ecossistema educacional

Parte do investimento também foi usada para recomprar a participação da Faber-Castell, que havia sido uma das primeiras investidoras da edtech.

“A entrada da Faber foi importante. Crescemos mais de dez vezes em faturamento depois do investimento. Mas agora era hora de retomar as cotas para evitar diluição e garantir mais autonomia”, afirma Danilo.

O investidor da nova rodada é um fundo canadense que, segundo o CEO, compartilha da visão de longo prazo da empresa. “Esse fundo entra com smart money, conexões internacionais e, principalmente, sem conflito com o mercado local.”

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