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Ele vendia gelinho na rua. Hoje fatura milhões com fretes inteligentes

Markenson Marques é fundador da Cargolift, empresa de logística que deve investir R$ 35 milhões em infraestrutura nos próximos meses

Markenson Marques, da Cargolift: "A Cargolift nasceu com ESG antes de o termo existir" (Divulgação/Divulgação)

Markenson Marques, da Cargolift: "A Cargolift nasceu com ESG antes de o termo existir" (Divulgação/Divulgação)

Karla Dunder
Karla Dunder

Freelancer na EXAME

Publicado em 28 de outubro de 2025 às 13h03.

Última atualização em 28 de outubro de 2025 às 13h54.

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No posto de gasolina onde começou o negócio há 31 anos, Markenson Marques pintou com as próprias mãos o primeiro caminhão da Cargolift.

Três décadas depois, o grupo conta com 13 filiais e 600 veículos próprios. Agora, investe R$ 35 milhões em infraestrutura e tecnologia para dar o próximo salto — rumo à logística digital e de baixo carbono.

Fundada em Curitiba, em 1994, a transportadora chega aos 31 anos de operação com filiais em 7 estados, com 500 colaboradores, atendendo clientes como Mercado Livre, Volvo, Stellantis, Electrolux, Shopee e General Motors.

Agora, a companhia direciona os esforços para a modernização da infraestrutura e o investimento em tecnologia.

“Estamos nos antecipando às tendências e garantindo que a Cargolift esteja pronta para atender novos contratos e demandas com excelência”, afirma o fundador e CEO, Markenson Marques.

O momento marca também uma nova fase para o grupo, que vem aplicando R$ 35 milhões na ampliação dos hubs logísticos, incluindo R$ 25 milhões em um novo armazém padrão AAA, inaugurado neste mês em São José dos Pinhais, no Paraná, e outros R$ 10 milhões na reforma das áreas administrativas.

A trajetória de Markenson 

Quando tinha 12 anos, Marques pegou um dinheiro emprestado com a mãe. Decidiu aproveitar o calor do verão para fazer gelinho e vender na vizinhança.

Sozinho, saiu de sua casa no bairro do Taboão, em São Bernardo do Campo, região do grande ABC, e foi de ônibus até o Parque Dom Pedro, no centro de São Paulo.

Comprou seis isopores, sacos e essência para a produção dos geladinhos. Chegou em casa, cuidou de toda a produção e no dia seguinte chamou os meninos do bairro.

Distribuiu as caixas de isopor e fez um combinado: metade do valor das vendas seria dele. 

“Vendemos tudo. No dia seguinte, voltei ao centro de São Paulo para as compras da nova leva e em poucos dias devolvi o dinheiro que peguei emprestado. Foi vendendo gelinho que entendi que era possível empreender”, conta Marques.

Nascido de uma família simples, trabalhou como motoboy e, aos 20 anos, já atuava em uma transportadora.

A ideia de empreender surgiu quando ouviu de um cliente: “Você não quer montar a sua empresa e nós te damos as cargas?”. A ideia de montar o próprio negócio estava cada vez mais próxima.

Foi trabalhar na Volvo Brasil, onde liderou um projeto de terceirização do transporte de contêineres entre Paranaguá e Curitiba.

Após sete anos na empresa, Marques decidiu sair do emprego e abrir o próprio negócio. Com 35 mil dólares economizados, pintou pessoalmente o primeiro caminhão e instalou o escritório em um posto de gasolina.

O conceito, ainda inédito na época, unia transporte rodoviário e ferroviário, antecipando discussões sobre sustentabilidade e eficiência que só se popularizariam décadas depois.

“A Cargolift nasceu com ESG antes de o termo existir. Já transportávamos contêineres por ferrovia para reduzir emissões e custos”, afirma.

O caminho não foi simples. Segundo o empresário, a concorrência desleal e a burocracia pública continuam sendo entraves históricos.

“Na Bélgica me ofereceram 98% de financiamento para abrir uma filial. No Brasil, levo mais de um ano para conseguir um alvará. É muito difícil investir no Brasil”, diz.

Tecnologia e IA: a nova frente da Cargolift

O grupo se destaca hoje pelo uso intensivo de inteligência artificial (IA) nas operações logísticas.

A transformação digital começou em 2018, quando a empresa criou a Matrixcargo, uma spin-off, ou empresa derivada, voltada à otimização de rotas e automação de processos.

A plataforma conecta motoristas, embarcadores e transportadoras, calculando rotas em tempo real e reduzindo deslocamentos vazios.

O ganho de produtividade é direto: um operador da Cargolift consegue coordenar o triplo de rotas em relação aos concorrentes.

O modelo chamou atenção fora do país. Uma companhia francesa licenciou a tecnologia e levou a Matrixcargo para a Europa, transformando-a em multinacional.

Desde então, o grupo já investiu R$ 27 milhões em tecnologia, incluindo IA aplicada à torre de controle, rastreabilidade em tempo real e automação de documentos de entrega.

Além da digitalização, a empresa mantém a frota nova, com idade média de 2,4 anos e padrões Euro5 e Euro6, alinhados às normas europeias de emissão.

Após dois anos de testes com caminhões híbridos a gás natural (GNV) e diesel, a Cargolift incorporou veículos 100% GNV e estabeleceu a meta de atingir 10% da frota ecológica até o fim de 2025.

O futuro e o impacto social

O plano estratégico até 2027 prevê R$ 18 milhões em uma nova sede em Curitiba, onde será instalada a Control Tower, operada por IA e orientada à governança e ESG, e o investimento de outros R$ 15 milhões em novas tecnologias. 

Já o volume total de investimento em frota ecológica pode chegar a R$ 200 milhões, a depender da definição do piso mínimo de frete pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e da aprovação do crédito de carbono no setor.

Paralelamente, o grupo mantém o Instituto Novas Histórias, braço social criado em 2003 e mantido com 12% do lucro antes do imposto de renda. Ele cuida do Conexão Sertão, que atende 500 crianças e adolescentes no interior da Bahia com atividades de educação por princípios, cultura e esporte. Em Campo Largo (PR), o projeto replica o modelo com mais 150 jovens.

“O maior orgulho que tenho é ver novas histórias sendo escritas. Nosso propósito é proporcionar melhor qualidade de vida às pessoas, instruindo-as no caminho em que devem andar”, afirma Markenson.

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