Antonio Carlos Nasraui, CEO do Rei do Mate: lojas com mesinhas e wi-fi para cliente gastar mais do que se estivesse apenas de passagem (Keiny Andrade/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 2 de junho de 2025 às 08h57.
Numa época em que suco verde ainda era coisa "natureba" e chá gelado era só o que sobrava na caneca do dia anterior, um comerciante no centro de São Paulo decidiu apostar numa bebida amarga com gosto de interior: o mate. Funcionou.
Mais de quatro décadas depois, o negócio virou uma rede com mais de 320 unidades e previsão de faturar 440 milhões de reais em 2025.
Fundado em 1978, o Rei do Mate começou com uma loja de 20 metros quadrados na Avenida São João. Hoje, é a maior rede de casas de mate do Brasil e uma das principais cafeterias do país.
À frente dessa transformação está Antonio Carlos Nasraui, filho do fundador e responsável pela operação desde o início dos anos 1990. Ele transformou o negócio familiar em uma das franquias mais reconhecidas do varejo alimentar brasileiro.
Não sem passar por grandes mudanças.
Desde a pandemia, a marca reformulou o layout das lojas, apostou em produtos com mais “apetite appeal” e voltou ao ritmo de crescimento com força. “Hoje 70% das lojas já estão nesse novo padrão. A gente reformou muita coisa. O cliente voltou e encontrou um Rei do Mate diferente”, afirma Nasraui.
“A gente começou com um balcão a um metro da calçada. Hoje, se a loja não tiver tomada para o cliente trabalhar com o notebook e uma mesa confortável, eu nem inauguro”, diz o CEO.
A frase resume bem o salto da empresa – de uma estrutura improvisada na década de 1970 para uma operação nacional, com franqueados, indústria própria e até linha de bebidas para supermercado.
Para o futuro, o plano é manter a brasilidade como carro-chefe e continuar investindo em produtos exclusivos e conveniência.
“A gente tá indo pra quase 25 SKUs de produtos em garrafa, de 330 ml até um litro e meio. Mas não tem nada a ver com o que vendemos na loja. São linhas diferentes, com shelf life maior. Nosso foco continua sendo a rede”, afirma Nasraui.
Antonio Carlos Nasraui cresceu dentro do comércio. O pai dele era dono de várias lojas na tradicional avenida São João, no centro de São Paulo.
Em 1978, decidiu abrir uma casa especializada em mate – inspirado por um concorrente pequeno que vendia a bebida no centro.
“A loja tinha 20 metros quadrados. A pessoa tomava o mate e tinha que sair rápido para o próximo entrar. Vendia muito, só existia isso, sete sabores de mate”, afirma.
A segunda loja veio em 1985, ainda na mesma quadra. A fama cresceu.
“As pessoas vinham de longe, paravam no proibido na frente da loja para tomar um mate. Eu vi isso. Era absurdo o movimento”, diz Nasraui.
Em 1991, ele entrou como sócio e começou a introduzir mudanças – alimentação, polpa de fruta, café, copo de pão de queijo. Em 1992, veio a primeira franquia, num shopping.
“Eu fiz o projeto da loja, o contrato de franquia, carreguei os produtos no carro. Acompanhei tudo. Era a primeira loja fora do centro. Era tudo novo pra gente”, diz.
A rede cresceu no boca a boca, mas também foi muito copiada. “O pessoal copiava azulejo, uniforme, até o luminoso. Isso fez a gente repensar o modelo e apostar em qualidade, não em preço”, afirma.
Hoje o Rei do Mate está em cerca de 100 cidades e 20 estados.
O plano é chegar a 360 unidades em 2025.
O foco principal está em novos pontos de venda, com o novo layout que valoriza o consumo no local. “Se não tiver mesa, tomada, ambiente confortável, eu não abro. O consumidor mudou”, diz Nasraui.
Além da rede física, a empresa desenvolveu uma linha de bebidas prontas industrializadas, vendidas em supermercados.
“A gente tem uma fábrica em São Paulo e estamos expandindo esse canal. Mas são produtos diferentes dos da loja. O que vendemos nas unidades é 100% natural, sem conservante. O industrializado tem outro objetivo”, diz.
Um terceiro braço em expansão é o Empório Rei do Mate. “Estamos lançando uma linha de presentes, coisas que o cliente pode levar pra casa. Chocolate, doce de leite, balinhas. Vai ser uma das novidades da nossa convenção em setembro”, afirma.
Os anos de pandemia foram duros para o Rei do Mate.
Sem delivery forte e com grande presença em hospitais e supermercados, a rede viu o movimento despencar.
Foi nesse momento que a empresa decidiu mudar.
Reformou lojas, ajustou o cardápio, reforçou o conceito de “experiência”.
“A gente reformou as lojas, trouxe produtos com mais apelo, mais finalização na hora. Hoje o cliente quer se sentir especial. Quer participar da preparação, terminar o produto do jeito dele”, diz.
No cenário atual, dois fatores preocupam: mão de obra e tributação. “É muito difícil encontrar gente disposta a trabalhar. Isso não é um problema só nosso. É um problema do varejo como um todo. É grave”, afirma.
E a carga tributária também pesa: “Substituição tributária era pra evitar sonegação. Mas virou aumento de imposto, e alto”.
Desde o início, o Rei do Mate se diferenciou apostando na brasilidade e inovação.
A marca trouxe produtos como o copo de Pão de Queijo, o mate com açaí, e investiu forte no café gourmet.
“Nosso café é peneira 18, fica mais tempo no pé, fica mais doce. A gente foi o primeiro a apostar nisso no food service. Hoje, todo mundo segue”, afirma.
O posicionamento agressivo no preço, no entanto, trouxe problemas com concorrentes. “A gente vendia café a metade do preço. Começaram a reclamar, pressionar shopping, dizer que a gente canibalizava. Então mudamos: melhoramos a qualidade, aumentamos o preço, e entregamos mais”, diz.
Hoje, a rede vende 500 mil xícaras de café por mês e mais de 500 mil de capuccino. O tíquete médio subiu 20% desde 2019 e está em 25 reais. “Esse aumento vem da inovação. A gente traz produto novo sempre. E o cliente percebe valor”, afirma.
A empresa ainda é fortemente comandada por Nasraui, mas já começou a preparar os próximos passos.