Negócios

Ela quer transformar a Amazônia em potência global

À frente da Amazônia Smart Food, Pricila Almeida aposta em alimentos típicos da floresta e já exporta para EUA, Canadá, Alemanha, Suíça e Singapura

Bioeconomia: empresa transforma ingredientes amazônicos em alimentos funcionais para exportação. (Envato)

Bioeconomia: empresa transforma ingredientes amazônicos em alimentos funcionais para exportação. (Envato)

Caroline Marino
Caroline Marino

Jornalista especializada em carreira, RH e negócios

Publicado em 30 de outubro de 2025 às 14h00.

Quando decidiu criar o próprio negócio, Pricila Almeida assumiu uma missão clara: levar os ingredientes amazônicos ao mundo com inovação, propósito, saúde e mudança social. À frente da Amazônia Smart Food, fundada em 2021, transformou alimentos típicos da floresta em produtos funcionais, como hambúrguer, linguiça e almôndega de açaí e tucumã, além de versões liofilizadas das frutas – que preservam sabor e nutrientes por mais tempo.

Com presença em 11 estados brasileiros e mais de 40 pontos de venda, a marca fornece para as redes Mundo Verde e Biomundo e já exporta para EUA, Canadá, Alemanha, Suíça e Singapura. O plano agora é buscar investidores para acelerar a expansão internacional e aumentar o faturamento em 60% este ano. “Nosso sonho é mostrar que é possível gerar riqueza valorizando as comunidades e respeitando a natureza”, afirma.

A atuação da empresária reflete o avanço do empreendedorismo feminino e de impacto. Segundo levantamento do Sebrae, o Norte concentra a maior proporção de mulheres à frente de empresas no país – 20,8%, ante a média nacional de 17,5%. Já a Rede de Bioeconomia da Amazônia (Rebia) aponta que a região movimenta mais de R$ 26 bilhões por ano em produtos da biodiversidade, com amplo potencial de exportação.

Pricila Almeida, à frente da Amazônia Smart Food: “O medo sempre vai existir, mas é justamente esse sentimento que nos impulsiona a buscar mais preparo e resiliência. Empreender é desafiar o sistema; uma decisão libertadora”

Do mundo corporativo ao empreendedorismo

A carreira de Pricila começou no mundo corporativo. Formada em economia, com especializações em Negócios da Floresta Amazônica, Agricultura e Desenvolvimento Regional, atuou no terceiro setor e em companhias privadas como DD&L Consultores, Suzuki e Positivo Informática. Nascida em Cataguases (MG) e radicada em Manaus (AM), teve a primeira ideia para empreender a partir de uma necessidade pessoal.

Diagnosticada com obesidade grau II e esteatose hepática grau III, enfrentava dificuldade para manter uma alimentação equilibrada. O marido, Beto Pinto, chef de cozinha e bariátrico, decidiu desenvolver um cardápio saudável e prático para que ela levasse ao trabalho. A economista perdeu 55 quilos e o que começou como uma solução doméstica virou o delivery Santé Comida Saudável.

Mas havia uma inquietação: criar algo que realmente transformasse a realidade do estado, valorizando os recursos da floresta e gerando oportunidades aos moradores. Foi então que ela percebeu o alto valor dos ativos amazônicos e a pouca exploração. “Nosso diferencial está em unir tecnologia, sustentabilidade e transformação social, garantindo não só qualidade e inovação nos alimentos, mas também desenvolvimento para os parceiros”, afirma.

Inovação e propósito como bases

O caminho não foi simples. Acesso a capital, questões burocráticas e falta de informação sobre como escalar negócios de impacto foram alguns dos obstáculos. “Também foi difícil equilibrar vida pessoal, liderança de equipe e a responsabilidade de abrir caminho para um modelo inovador em uma região ainda pouco assistida.”

Atualmente, a Amazônia Smart Food se consolidou como um exemplo de operação de bioeconomia. Para Pricila, o crescimento é resultado de propósito claro, inovação constante e parcerias estratégicas. Segundo ela, o objetivo é que a marca se torne um multiplicador de oportunidades ao apostar na rastreabilidade para garantir que toda a cadeia produtiva seja ética e sustentável.

Nesse sentido, o Sebrae teve papel fundamental. “A instituição nos ajudou a estruturar a estratégia, aprimorar a gestão e pensar grande, mas sem perder a essência”, diz. A empreendedora participou, ainda, de programas como o PPBio-SUFRAMA, FINEP e iniciativas de subvenção à inovação, que ajudaram a financiar os primeiros passos da empresa.

Com base sólida e um mercado em expansão, a meta agora é ampliar a internacionalização, fortalecer a rede de fornecedores locais e diversificar o portfólio de produtos sustentáveis. “Queremos ser referência global em bioeconomia, mostrando que é possível gerar riqueza sem destruir a floresta, valorizando as comunidades e levando saúde e inovação para os consumidores.”

Reconhecimentos e determinação

Como resultado do trabalho, Pricila vem colecionando conquistas. No final de 2024, participou do Shark Tank Brasil e recebeu intenção de investimento, e assumiu o cargo de CEO da Ecomodular, companhia de impacto socioambiental que desenvolve módulos inteligentes de processamento primário. Além disso, foi vencedora do Prêmio Mulheres Inovadoras promovido pelo FINEP, e ficou em 3º lugar na Green and Digital Startups Award, realizado pela Câmara de Comércio Brasil/Alemanha.

E deixa um conselho para as mulheres que desejam empreender: “O medo sempre vai existir, mas é justamente esse sentimento que nos impulsiona a buscar mais preparo e resiliência. Empreender é desafiar o sistema; uma decisão libertadora”, finaliza.

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