Ariel Grunkraut, presidente da Kraft Heinz Brasil: “Pela primeira vez, desde o ano passado, 100% do ketchup Heinz vendido no Brasil é feito com tomates brasileiros” (Evandro Bueno/Divulgação)
Repórter
Publicado em 28 de setembro de 2025 às 10h29.
Última atualização em 28 de setembro de 2025 às 10h47.
Cristalina, Nerópolis e Nova Goiás (Goiás) - Você sabia que a pasta de tomate que é usada no ketchup da Kraft Heinz Brasil pode ser feita em até 24 horas?
A convite da multinacional, a EXAME foi até Goiás conhecer a plantação de tomates, em Cristalina, e as duas fábricas da Kraft Heinz no Brasil, localizadas em Nerópolis e em Nova Goiás.
A operação brasileira da multinacional chegou ao Brasil em 2013 com a compra da marca “Quero” e se tornou autossustentável no último ano, ou seja, no Brasil a companhia planta e fabrica os produtos 100% em solo nacional.
São cerca de 7 bilhões de tomates colhidos por ano e um volume de 100 mil caixas por mês com produtos que variam entre ketchup, molho e extrato de tomate.
“Pela primeira vez, desde o ano passado, 100% do ketchup Heinz vendido no Brasil é feito com tomates brasileiros”, afirma Ariel Grunkraut, presidente da Kraft Heinz Brasil.
Do campo até às prateleiras, veja como funciona o processo de um tomate da Kraft Heinz Brasil.
Para ser um tomate da Kraft Heinz Brasil, os frutos precisam passar por um “processo seletivo”, segundo Grunkraut.
“Para fazer o melhor ketchup, você precisa das melhores sementes, dos melhores produtores e dos melhores processos”, afirma o CEO.
A seleção já começa no campo. Todos os tomates usados nos produtos da Kraft Heinz Brasil têm origem das fazendas de Goiás e o tipo plantando é um mais alongado, com menos líquido e mais polpa.
“No tomate industrial, nunca plantamos a semente direto no solo. Produzimos mudas em viveiros, cuidando delas como bebês em ambiente controlado, para depois levar ao campo com as plantas mais vigorosas”, afirma Lucas Paschoal, diretor de agricultura da Kraft Heinz Brasil.
O período de plantio começa no início do ano até abril e há uma regra clara: não se planta tomate duas safras seguidas na mesma área.
“A rotação é fundamental para a saúde do solo, para reduzir defensivos e para garantir sustentabilidade”, diz Paschoal.Com o plantio e o crescimento do fruto que dura o primeiro semestre, é chegada a hora da colheita do tomate, que hoje é 100% automatizada e costuma começar entre junho até o começo de outubro - com setembro sendo o mês do auge da colheita.
“Todos os tomates que estão sendo colhidos hoje, nesta fazenda em Cristalina, serão levados hoje mesmo para a nossa fábrica em Nerópolis. O transporte deve demorar cerca de 4 a 5 horas de viagem”, diz o CEO, que reforça que a logística também faz parte do “processo seletivo” do tomate, afinal, em Goiás, o calor exige transporte imediato do campo à fábrica.
Os tomates, que passam pela seleção na fábrica, são processados o dia inteiro como pasta de tomate, que pode gerar produtos como ketchup, molho e ou extrato de tomate.
“O tomate colhido hoje aqui vai virar dentro de 24 horas uma pasta de tomate, que pode ser armazenada ou virar um ketchup no mesmo dia”, afirma o CEO.
Caminhão fazendo a colheita em Cristalina, Goiás: uma das fazendas onde a Kraft Heinz Brasil planta seus tomates (Eduardo Bueno/Divulgação)
Depois do campo, o primeiro destino dos tomates da Kraft Heinz Brasil é a fábrica em Nerópolis, Goiás. Com 81 mil metros quadrado e cerca de mil funcionários, a empresa que antes era a fábrica da marca “Quero” desde 2013 passou a produzir também as marcas da Kraft Heinz Brasil.
Todos os caminhões que chegam com toneladas de tomates passam por um processo de averiguação. Uma sonda escolhe uma determinada área do caminhão e recolhe uma amostragem de tomates, que passa por uma esteira. A análise é feita a olho nu por profissionais da companhia, que separam os tomates em caixas. O tomate verde em uma caixa, o que está dentro dos padrões em outra.
No final, o tamanho do tomate não importa, o que os funcionários avaliam são os requisitos de pH, teor de açúcar, estado físico e a cor. “No nosso laboratório existe literalmente um “pantone do tomate” que é avaliado em uma máquina seguindo os padrões globais”, diz o CEO.
Se a amostragem apresentar tomates avaliados como “padrões para a Kraft Heinz”, o caminhão pode seguir para o processo de lavagem e de descarregamento. Se não, o veículo volta e o tomate “reprovado” ganha outro destino.
“Hoje produzimos em torno de 100 mil caixas por mês, somando as fábricas de Nerópolis, Nova Goiás e Blumenau. Nelas, temos produções de ketchup, molhos e extratos. E nada se perde: tudo o que não faz parte do processo e precisa ser descartado vira matéria orgânica, que pode seguir para compostagem ou para ração animal”, afirma Helcio Ribeiro, diretor de operações da Kraft Heinz Brasil.
Os tomates que passam no crivo do laboratório, logo depois são levados para máquinas, ainda na fábrica de Nova Goiás, que realizam o processo de limpeza, separando resíduos do campo e tomates verdes, e depois transformam todos em pasta de tomate.
A produção segue ativa o ano todo, segundo o CEO. “Quando acaba a safra de tomate em outubro, é a vez do milho e da ervilha, da marca Quero, passarem pelo mesmo processo seletivo”.
A produção do ketchup, do molho e do extrato de tomate são feitos em Nerópolis, mas é na fábrica de Nova Goiás, a unidade mais moderna da companhia no mundo, que os produtos são envasados. “Em um minuto, saem cerca de 200 bisnagas de 395 gramas, cada uma levando de 9 a 13 tomates”, diz o CEO.
Quando a Heinz entrou no país, comprou a Quero para ter a cadeia agroindustrial local. Por anos, a pasta “Heinz” ainda era importada (principalmente da Califórnia). Isso mudou. Desde 2024, a operação brasileira é autossuficiente em pasta, manteve esse status em 2025 e projeta não importar também em 2026.
“Para chegar a esse ponto foi preciso muita evolução, parceria com os melhores produtores e desenvolvimento dos híbridos certos para o clima do Brasil”, diz o presidente.
Produzir aqui também pode ser mais lucrativo do que importar. “Ainda mais com o dólar como está, isso nos dá estabilidade de oferta e reação rápida a choques logísticos”, afirma o CEO.
O próximo passo é exportar pasta para países latino-americanos que hoje importam de fora. “Temos uma ambição de 3 a 5 anos de tornar o Brasil um hub de exportação para a América Latina”, diz Grunkraut.
Além do Brasil, outros países também têm a cadeia completa, ou seja, do campo ao envase. São eles: Egito, Turquia, Polônia e Venezuela. Já os Estados Unidos, onde fica a sede global da companhia, compram a pasta pronta de fornecedores locais.
Além da fábrica em Nerópolis (“Casa da Quero”), e da Nova Goiás, a operação da Kraft Heinz Brasil ainda inclui unidades em Blumenau (Hemmer) e Jandira (BR Spices), além de dois CDs (Blumenau e ao lado de Nova Goiás).
No Brasil, a Heinz é líder em ketchup com mais de 20% de market share — e as segundas e terceiras posições também são do grupo (Hemmer e Quero), segundo o CEO.
Globalmente, a companhia caminha para se dividir em duas: Taste Elevation (que reúne Heinz, Philadelphia e as marcas locais de sabor, como Hemmer/BR Spices) e Groceries North America.
“Para nós, nada muda na operação — continuamos 100% em Taste Elevation”, diz o presidente da operação no Brasil.
A cisão, prevista para o quarto trimestre de 2026, deve destravar valor ao separar um negócio bilionário: de um lado, Taste Elevation, que fatura cerca de US$ 15 bilhões anuais, tem como prioridade crescer em mercados internacionais e inovar em portfólio. Já Groceries North America, com US$ 10 bilhões em receita, foca na rentabilidade e geração de caixa com marcas centenárias.
“O Brasil ganha representatividade nessa configuração e segue como celeiro global de talentos”, afirma o presidente, que reforça que após preparar o solo brasileiro com investimento de R$ 1 bilhão em 5 anos, a empresa espera um tempo de boa safra, tanto no campo quanto nos negócios.
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