A iniciativa da Nestlé formou mais de 60 pessoas, entre eletricistas, engenheiros, especialistas em automação, analistas e coordenadores (Germano Lüders/Exame)
Repórter
Publicado em 20 de junho de 2025 às 05h00.
Última atualização em 20 de junho de 2025 às 09h53.
Quando falamos ou pensamos em inteligência artificial, estamos tratando de um conceito amplo. Do atendimento pelo WhatsApp via bot a recomendações de compras em sites, diversas cadeias da economia estão integradas a essa nova tecnologia. Na parte de alimentos e bebidas não é diferente.
Em 2021, a Nestlé, quando falar de IA não era tão presente como hoje, a empresa suíça resolveu implantar um programa de treinamento no assunto para alguns funcionários do “chão de fábrica” no Brasil. A companhia resolveu criar a Academia de Inteligência Artificial para levar esse conhecimento e implementar soluções tecnológicas no parque fabril brasileiro - hoje composto por 18 unidades, contando com as fábricas do Grupo CRM e Puravida.
Num recorte histórico, a popularização da discussão sobre IA veio no final de 2022, com o mundo conhecendo mais a fundo sistemas como o ChatGPT, trazendo uma revolução que ainda estamos tentando entender.
A iniciativa da Nestlé formou mais de 60 pessoas, entre eletricistas, engenheiros, especialistas em automação, analistas e coordenadores. Neste ano, tem como meta treinar cerca de 15 profissionais.
E como esse treinamento pode ser “sentido” pelo público? Um exemplo é um sistema vindo da Academia que monitora o processo de secagem do leite em pó. A IA compara os históricos dessa tarefa e consegue elaborar um alerta entre 10 e 15 minutos de antecedência do risco da tubulação entupir durante o procedimento.
Outra técnica desenvolvida pela Academia da Nestlé trata da torra do café. “Queremos ter um padrão de cor e umidade. Hoje, com IA, depois de três torras, entendemos o padrão do blend e voltamos com o machine learning. Ela vai me dizer o vai acontecer antes da torra acontecer. Temos assim oscilações mínimas. Garanto um padrão para o consumidor", explica Gustavo Moura, gerente executivo de Automação e Transformação Digital na Nestlé Brasil, em conversa exclusiva com a EXAME.
A edição de 2025 da Academia de IA tem duas trilhas simultâneas de aprendizado: uma para Machine Learning, com a criação de modelos que podem prever o tempo correto para a manutenção e operação de máquinas, e outra focada em Visão Computacional, vertente desenvolvida em parceria com o Instituição de Ciência e Tecnologia Atlântico, de Fortaleza, que explora tecnologias de deep learning para análise de imagens e vídeos.
"Desde meados dos anos 2000, com a evolução tecnológica, já tínhamos um ambiente de automação industrial robusto. Antes da bolha do GPT, tínhamos um ambiente propício para aplicar esses modelos. Faltava o treinamento", diz Moura.
Uma preocupação sempre envolvida com IA é a questão da segurança dos dados. Na Nestlé não foi diferente. A Academia não era aberta para qualquer um. Nas duas primeiras turmas, os convites foram direcionados para aqueles com mais experiência no setor tecnológico. A partir da terceira edição, abriu-se um pouco mais. “Os bons projetos começaram a ser rodados dentro da empresa e gerou burburinho entre os funcionários", brinca o executivo.
Com aulas online, uma vez por semana, a ideia da Academia é dar aos alunos a possibilidade de elaborar um projeto e apresentar num pitch de três minutos para a diretoria. Depois de feedbacks, os projetos voltam para uma janela de 3 a 4 meses para validação do modelo. A partir daí, a próxima etapa é mostrar os novos resultados para a diretoria da divisão técnica, que decide se o projeto segue adiante para ser implementado.
"Dentro da divisão técnica, fomos um dos primeiros setores da Nestlé a engajar [com a IA]. Duvido que tenha alguma parte da companhia que ainda não esteja utilizando. Do campo até a mesa. A grande pergunta é: O que vou poder transformar e mudar usando a IA?', diz Moura.
A Nestlé anunciou investimentos de R$ 7 bilhões no Brasil entre 2025 e 2028. No triênio anterior, a cifra ficou em R$ 6,5 bilhões. Nos últimos seis meses, as ações da companhia se valorizaram em mais de 11%.