Guilherme Blanke, CEO da Noronha Pescados: “Vamos contornar as tarifas e ganhar eficiência logística" (Noronha Pescados/Divulgação)
Publicado em 6 de agosto de 2025 às 10h05.
Última atualização em 6 de agosto de 2025 às 10h20.
O pescado está entre os produtos brasileiros taxados em 50% pelos Estados Unidos a partir desta quarta-feira, 6, mas a novidade não freou os planos de internacionalização da Noronha Pescados.
A companhia pernambucana manteve seu plano de entrar no mercado americano por meio de fábricas terceirizadas localizadas nos Estados Unidos, responsáveis pelo processamento dos seus peixes empanados.
“Nosso projeto segue firme. Em vez de processar o peixe no Brasil e exportar, vamos levar a matéria-prima direto para os Estados Unidos, onde o peixe será processado e distribuído”, afirma o CEO Guilherme Blanke. “Vamos contornar as tarifas e ganhar eficiência logística.”
A decisão veio em meio à preocupação generalizada do setor. A Abipesca divulgou nota oficial afirmando “profunda preocupação” com a nova tarifa, destacando que os Estados Unidos representam 70% das exportações brasileiras de pescado, o que somou US$ 244 milhões.
Em março deste ano, a Noronha participou da Seafood Expo North America, em Boston, onde apresentou sua nova marca internacional: Popeye Seafood, marca licenciada do famoso marinheiro dos desenhos animados. “A recepção de redes como Sam’s Club e Walmart foi tão positiva que esgotaria toda a capacidade ociosa da planta brasileira”, diz Blanke.
Para atender à demanda americana, a companhia pernambucana decidiu iniciar a produção em fábricas terceirizadas nos Estados Unidos, localizadas em Massachusetts ou na Geórgia, estados onde Blanke já visitou seis plantas. A operação, prevista para começar ainda este ano, terá volume inicial de 1.000 toneladas mensais e deve escalar para 10.000 toneladas por mês em até cinco anos.
“Essas fábricas americanas são especializadas em terceirização para marcas. A maioria nem tem marca própria. O modelo já está consolidado e nos permite crescer com agilidade”, afirma Blanke.
A estratégia inclui também a possibilidade de, em até dois anos, inaugurar uma planta própria de processamento nos Estados Unidos.
“A regulação americana é mais simples do que no Brasil. Acreditamos que, após um ano de operação terceirizada, já poderemos caminhar com as próprias pernas por lá", diz o CEO.
A operação será abastecida por uma cadeia global de fornecedores. O peixe branco, principal insumo, virá do Alasca, território americano que não é alvo de tarifas. Outros itens, como camarão e salmão, serão comprados de países com taxas menores, como Equador e Chile, taxados em 10%.
“Temos a flexibilidade de comprar os peixes dos países menos taxado. Se o Equador está com tarifa menor que a Índia, compramos de lá. O mesmo vale para o Chile e Noruega no caso do salmão", explica Blanke.
No portfólio internacional, a Noronha começa com uma linha enxuta de empanados congelados, mas já planeja levar ao mercado americano azeite de oliva (marca Olivia Palito), batata frita, pizza congelada e até açaí, a depender das condições tributárias.
“Começamos como Noronha Pescados, mas estamos virando Noronha Alimentos. É um movimento de longo prazo para diversificar nossa atuação global”, diz Blanke.
Principal fábrica da Noronha Pescados em Recife, Pernambuco (Noronha Pescados/Divulgação)
Enquanto avança no mercado externo, a Noronha mantém um plano sólido de crescimento no Brasil. A produção nacional gira hoje em torno de 1.000 toneladas de matéria-prima por mês, com 600 a 700 toneladas de produto acabado.
Ao apostar na diversificação, a tradicional empresa pernambucana fundada em 1980, encerrou 2024 com crescimento de 20% e receita líquida operacional de 232 milhões de reais, participando do ranking Negócios em Expansão 2025.
A Noronha Pescados foi criada como um negócio familiar em 1980, fundado pelo avô de Guilherme Blanke em Recife, Pernambuco, e logo depois ganhou escala nacional com filiais de distribuição no Rio Grande do Norte, Ceará, Bahia e São Paulo. Em 2024, também deu os primeiros passos em outras regiões do país: Sul, Centro-Oeste e Norte.
Sob o comando de Guilherme Blanke, a companhia deixou de atuar exclusivamente com pescados e avançou em duas frentes estratégicas: os empanados e a distribuição própria de alimentos, incluindo proteínas como o frango.
“A diversificação da linha de trabalho e a entrada em novas regiões foram decisivas para o crescimento”, afirma Blanke.
Com esse avanço, a empresa familiar precisou reforçar sua estrutura interna. Em 2023, instituiu um conselho consultivo com cinco membros e contratou a Acla Consultoria para apoiar a governança. “Sentimos que estamos mudando de uma empresa média para uma grande, e é preciso adotar políticas compatíveis”, afirma o CEO.
A expectativa para 2025 é crescer entre 20% e 25%, impulsionada tanto pela operação internacional quanto pela consolidação da presença nacional e se aproximar do faturamento de 300 milhões de reais neste ano.
“Mesmo com os desafios, seguimos confiantes com o crescimento e atentos às oportunidades que o mercado oferece”, conclui o CEO.
O ranking EXAME Negócios em Expansão é uma iniciativa da EXAME e do BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME).
O objetivo é encontrar as empresas emergentes brasileiras com as maiores taxas de crescimento de receita operacional líquida ao longo de 12 meses.
Em 2025, a pesquisa avaliou as empresas que mais conseguiram expandir receitas ao longo de 2024. A análise considerou negócios com faturamento anual entre 2 milhões e 600 milhões de reais.
São 470 empresas que criam produtos e soluções inovadoras, conquistam mercados e empregam milhares de brasileiros. Conheça o hub do projeto, com os resultados completos do ranking e, também, a cobertura total do evento de lançamento da edição 2025.