Marcelo Forma, vice-presidente da Bemol: "Estamos presentes na vida do consumidor todos os dias" (Bemol/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 18 de junho de 2025 às 14h00.
Última atualização em 18 de junho de 2025 às 17h08.
Na corrida pelo uso de inteligência artificial, a varejista amazonense Bemol sai na frente quando o assunto é uso de ChatGPT. A companhia fez a aquisição de mais de 600 licenças, tornando-se o segundo maior usuário corporativo da ferramenta no Brasil.
Desde a pandemia, a Bemol tem realizado investimentos de R$ 50 milhões ao ano em digitalização e inovação. Em 2024, esses aportes ganharam escala, especialmente com a adoção de inteligência artificial como ferramenta transversal em toda a operação.
“A digitalização tem sido um dos principais pilares para a transformação da Bemol. Estamos investindo em tecnologia não apenas para otimizar processos, mas para criar novas soluções para nossos clientes e melhorar a experiência deles”, afirma Marcelo Forma, vice-presidente da Bemol.
Para o executivo, o varejo enfrentou nos últimos anos um verdadeiro apocalipse. A necessidade de entregas rápidas, preços competitivos e agilidade operacional forçou varejistas tradicionais a se adaptarem para não serem engolidos pelo e-commerce. A complexidade é ainda maior para quem atua na Amazônia.
“Em 2019, percebemos que o 'apocalipse do varejo’ estava em pleno andamento. Sabíamos que, para sobreviver, precisaríamos nos reinventar. Foi então que decidimos criar um ecossistema de produtos e serviços que fosse realmente completo para o cliente”, diz Forma. “Começamos a trabalhar para estar presentes na vida do consumidor todos os dias”, diz.
A Bemol atuou por décadas com foco nas lojas físicas e no atendimento local, tornando-se referência no Amazonas. Vendia produtos como geladeiras, fogões, televisores e móveis. Com o desenvolvimento de um ecossistema de produtos e serviços nos últimos sete anos, incluindo farmácias, mercados e soluções financeiros, a empresa enfrentou os desafios logísticos da floresta e projeta um faturamento de 5 bilhões de reais em 2025.
O tamanho da Bemol impressiona. A companhia bilionária conta com 37 lojas físicas, 48 farmácias, 4 mercados e 22 loterias, espalhadas principalmente pelo Amazonas e estados vizinhos, como Roraima, Rondônia e Acre. Além disso, a empresa possui seis centros de distribuição, totalizando 100 mil metros quadrados de área. "Nossa estrutura nos transformou em uma das maiores varejistas da região, passamos a atender diversas necessidades dos consumidores", diz Forma.
Fundada em 1942 pelos irmãos Samuel, Israel e Saul Benchimol, a Bemol começou como uma empresa de representantes comerciais e depois atuou como uma distribuidora de medicamentos em Manaus, no Amazonas. O negócio foi criado em um contexto de grande dificuldade econômica para a região, marcada pelo fim do Ciclo da Borracha.
A partir da década de 1970, a empresa começou a diversificar seu portfólio, passando a vender eletrodomésticos, móveis e produtos de consumo.
Durante décadas, o modelo de negócios da Bemol se concentrou em lojas físicas, atendendo uma clientela local e se destacando pela proximidade com os consumidores. A empresa se tornou conhecida por oferecer alternativas de crediário para facilitar o acesso a produtos.
O ponto de inflexão ocorreu em 2019, quando a Bemol passou por uma transição de liderança. Com Denis Minev e Marcelo Forma assumindo a presidência e a vice-presidência, a empresa reconheceu a necessidade de se adaptar ao crescimento acelerado do e-commerce e às mudanças no comportamento do consumidor.
"Além do crédito e da digitalização, a Bemol precisava estar presente na vida do consumidor em diversos momentos, oferecendo soluções completas que atendam todas necessidades do dia a dia, e não apenas durante o processo de compra”, afirma Marcelo Forma.
Hoje, a governança da Bemol conta com um conselho de administração que inclui membros da terceira geração da família Benchimol, além de executivos independentes, comitê de assessoramento e uma auditoria externa. A Bemol também já emitiu debentures. Em uma emissão recente, a S/A captou R$ 250 milhões.
Atuar na Amazônia Ocidental, composta pelos estados do Amazonas, Roraima, Rondônia e Acre, envolve um enorme desafio logístico. A região enfrenta problemas estruturais como a falta de infraestrutura, dificuldades no transporte rodoviário e fluvial, além de uma baixa densidade populacional. A região representa 26% do território nacional e tem apenas 4% da população brasileira.
“A Bemol tem uma penetração muito grande na região. Praticamente 4,5 milhões de pessoas estão no nosso cadastro, o que representa boa parte da população local. Somos a maior empresa da Amazônia Ocidental e atendemos diretamente a uma parte significativa dos consumidores da região", diz o executivo.
Para superar os desafios logísticos da região, a companhia investiu no desenvolvimento da sua própria infraestrutura de distribuição. Com mais de 220 caminhões e seis centros de distribuição espalhados pela região, a empresa tem a capacidade de garantir a entrega de produtos até mesmo em locais de difícil acesso.
Além disso, a Bemol desenvolveu um modelo de cabotagem, transportando mais de 4.000 contêineres por ano para Manaus, utilizando o transporte fluvial para acessar áreas remotas. A empresa também utiliza um sistema integrado de transporte rodoviário e fluvial, superando as limitações que tornam o transporte convencional na região extremamente desafiador.
Grandes e-commerce e marketplace tem uma distribuição mais limitada. A Shopee conta com quatro hubs logísticos na região. A Amazon, por sua vez, conta com um centro de distribuição em Palmas, e, em parceria com a Azul Cargo, realiza entregas em Manaus, Belém e Macapá. Já o Mercado Livre utiliza seus centros de distribuição no Nordeste para abastecer a região Norte, enquanto o Magazine Luiza possui um centro de distribuição em Benevides, no Pará.
A partir da logística reforçada, a Bemol foi capaz de expandir suas frentes de negócios. Em vez de se limitar ao varejo tradicional, ela se tornou um ecossistema completo para o consumidor local. Isso inclui não apenas a venda de eletrodomésticos e móveis, mas também a criação de novos segmentos que atendem a necessidades diárias da população.
Uma das grandes apostas foi o desenvolvimento da Bemol Farma, a rede de farmácias que hoje representa uma parte significativa das vendas da companhia. "A farmácia tem sido um ponto de virada no nosso negócio. Deixamos de ser destino de compras esporádicas e nos tornamos uma marca presente na vida do cliente o tempo inteiro", diz Forma.
A companhia não parou por aí. Para atender melhor as necessidades da população, a empresa abriu uma rede de mercados, oferecendo uma variedade de produtos alimentícios, padarias e até frango assado em suas lojas.
O futuro da Bemol está profundamente ligado à expansão de suas operações financeiras, um dos maiores motores de crescimento da empresa. Desde que criou sua própria fintech para oferecer soluções de crédito, a Bemol não apenas diversificou suas fontes de receita, mas também conquistou uma base de consumidores que antes não tinha acesso fácil ao sistema bancário tradicional.
O negócio de serviços financeiros da companhia inclui crediário, empréstimo pessoal e pix parcelado. Essas iniciativas não só permitem que a empresa atenda a uma população com pouco acesso a crédito, mas também ajudam a criar um ecossistema financeiro integrado.
“O crédito sempre foi uma parte essencial do nosso negócio. Ele permite que o cliente tenha acesso aos produtos e serviços da Bemol de maneira simples e descomplicada, o que é essencial em uma região com baixa bancarização”, diz Forma.
Novas iniciativas como empréstimo com garantia imobiliária, crediário em estabelecimentos parceiros estão ganhando escala. Com o crediário parceiro, por exemplo, a empresa permite que os clientes façam compras e parcelamentos em outros estabelecimentos comerciais da região, utilizando o crédito Bemol.
"O cliente não precisa mais sair do ecossistema Bemol para acessar qualquer tipo de serviço. Vamos continuar expandindo nossa oferta de crédito e serviços financeiros, integrando mais opções que atendam todas as necessidades do cliente", afirma Forma.
A Bemol utiliza um modelo de análise de crédito próprio, baseado em inteligência artificial, que permite avaliar o risco de cada cliente e oferecer limites de crédito personalizados.
A carteira de crédito da Bemol alcançou R$ 2 bilhões no último ano. A empresa projeta alcançar 760 mil contas no Conta Bemol até o final de 2025.Além dos investimentos em tecnologia, a Bemol também tem se destacado pelo seu apoio a startups e parceiros estratégicos, com a aplicação de R$ 32,8 milhões em 11 empresas nos últimos anos. Entre os destaques estão:
A Bemol não só pretende continuar com sua estratégia de inovação, mas também expandir suas parcerias e aportes em novos negócios que complementem sua operação. O plano de investimentos para 2025 inclui novos aportes em startups, além de investimentos em novos serviços e produtos financeiros, utilizando sua infraestrutura logística para garantir que suas inovações cheguem a todos os cantos da Amazônia.