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Alternativa à B3 promete menos custo, mais facilidade e até um reality show para PMEs

Única plataforma regulada pela CVM além da B3, a BEE4 está preparando o terreno para 2026, quando um novo marco regulatório promete facilitar e baratear a listagem de empresas de médio porte

Patrícia Stille e Rodrigo Fiszman, da BEE4: bolsa para PMEs tem quatro empresas listadas

Patrícia Stille e Rodrigo Fiszman, da BEE4: bolsa para PMEs tem quatro empresas listadas

Laura Pancini
Laura Pancini

Repórter

Publicado em 11 de setembro de 2025 às 06h00.

Até pouco tempo, as pequenas e médias empresas (PMEs) no Brasil enfrentavam dificuldades para acessar o mercado de capitais. O processo tradicional, liderado pela B3, exige altos custos e um grande volume de exigências, tornando a abertura de capital uma opção difícil e cara para muitas dessas empresas.

Entretanto, um novo marco regulatório da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), previsto para 2026, promete mudar essa realidade para sempre. A partir do próximo ano, empresas com faturamento entre R$ 10 milhões e R$ 500 milhões poderão realizar ofertas públicas de maneira mais simples, com menos custos e exigências.

Essa mudança é particularmente relevante para a BEE4, a única plataforma regulada pela CVM, além da B3, voltada exclusivamente para PMEs. No embalo da CVM, a BEE4 vai terminar o ano com um programa inédito para pequenas e médias empresas — e que terminará com um reality show.

Existe 'outra' B3?

Muitos negócios brasileiros, apesar do potencial de crescimento, acabam limitadas pela complexidade do processo de abertura de capital tradicional. Segundo Patrícia Stille, CEO da BEE4, o alto custo com auditorias, assessoria jurídica e taxas de listagem, junto a exigências regulatórias difíceis de atender, fazem com que muitas PMEs se sintam afastadas do mercado financeiro.

“As alternativas tradicionais são caras e difíceis de acessar para empresas em estágios iniciais. Nosso objetivo na BEE4 é simplificar esse caminho, oferecendo um acesso mais direto e menos burocrático ao mercado de capitais”, afirma Stille, que iniciou a carreira em engenharia civil antes de ingressar no setor financeiro, trabalhando na Personale Investimentos e na XP, onde foi responsável por gerenciar portfólios de grandes patrimônios. Foi lá que ela conheceu Rodrigo Fiszman, cofundador da BEE4, em 2013.

Ambos percorreram o Brasil, visitando escritórios de assessores e conversando com empresários em diversos estados, o que lhes deu uma dimensão da realidade econômica do país. Eles observaram que as alternativas de financiamento para o crescimento dessas companhias eram "caras e restritas".

Essa percepção os levou a sair da XP por volta de 2016 e abrir a BEE4 dois anos depois, após Stille se aprofundar nos estudos sobre blockchain e participar do Laboratório de Inovação Financeira (Labi) da CVM. Foi lá que a ideia de uma listagem alternativa, focada em PMEs e com infraestrutura em blockchain, começou a surgir.

Atualmente, a BEE4 já completou 4 IPOs em sua plataforma: a Eletron Energia, a Plamev Pet, a Clínica Engravida e a Mais Mu. A última, de alimentos proteicos, realizou uma oferta pública de R$ 4 milhões em 2023, com faturamento anual de R$ 47 milhões. Hoje, o faturamento é perto de R$ 88 milhões e a ação, R$ 7,70.

O que é o Regime FÁCIL?

O Regime FÁCIL (Facilitação do Acesso a Capital e Incentivos a Listagens) entra em vigor em 2026 e oferece regras simplificadas para PMEs. Ele permitirá que empresas com faturamento de até R$ 500 milhões possam realizar ofertas públicas de maneira mais acessível. As principais mudanças incluem:

  • Substituição de documentos tradicionais, como prospectos e lâminas, pelo Formulário FÁCIL;
  • Divulgação de informações contábeis de forma semestral, ao invés de trimestral;
  • Exigências de auditoria mais flexíveis, que cobrem apenas o último ano, e com prazos estendidos.

Com o FÁCIL, as empresas poderão realizar ofertas públicas de até R$ 300 milhões por ano, sem a necessidade de coordenador ou registro prévio na CVM para certos tipos de operações.

Além disso, o regime flexibiliza as exigências para empresas que superem temporariamente o limite de faturamento de R$ 500 milhões.

A BEE4 foi fundamental na elaboração desse novo regime. Os fundadores participaram ativamente do processo de construção do FÁCIL, com o apoio de estudos e testes realizados dentro do sandbox regulatório da CVM em 2020. A ideia foi inspirada em mercados de acesso internacionais como o AIM do Reino Unido e o TMX Group do Canadá.

Quais os riscos?

Apesar de representar uma grande oportunidade para as PMEs, o acesso ao mercado de capitais pelo Regime FÁCIL não é isento de desafios. Em nota, a CVM destaca que as empresas precisam estar dispostas a adotar uma governança mais robusta e cultivar bons relacionamentos com investidores.

Outro ponto importante são as ofertas de dívida realizadas por empresas não registradas, nas quais a responsabilidade pela verificação das informações financeiras e auditorias recai sobre os próprios investidores profissionais. Isso coloca mais uma camada de complexidade e exige que as empresas se comprometam com maior transparência.

É o momento para abrir capital?

Em um contexto de altas taxas de juros e um cenário econômico incerto, a CEO da BEE4, Patrícia Stille, reconhece o impacto desses fatores na captação de recursos pelas PMEs.

Com a tensão política e fiscal que envolve o país, Stille observa que, atualmente, o mercado de IPOs está praticamente "fechado", o que dificulta o acesso de muitas empresas ao mercado de ações.

Diante disso, a expectativa é de que, com a implementação do Regime FÁCIL, a BEE4 foque inicialmente no mercado de renda fixa, uma opção mais viável no momento. O foco será em captar recursos por meio de emissões de dívida, que se mostram mais alinhadas com as condições do mercado atual.

No entanto, a BEE4 está atenta ao futuro e já se prepara para uma possível retomada do mercado de IPOs. Stille ressalta que a empresa estará pronta para emitir ações assim que as condições do mercado se tornarem mais favoráveis. Até lá, o foco será maximizar as alternativas mais acessíveis e viáveis para as PMEs.

Uma chance de começar

Para preparar PMEs para o Regime FÁCIL, a BEE4 criou o programa Rota FÁCIL, que visa subsidiar os custos de listagem e acelerar o processo de preparação para abertura de capital.

As inscrições são gratuitas e vão até 15 de outubro de 2025. Podem participar empresas com faturamento entre R$ 10 milhões e R$ 500 milhões, organização como S.A. ou disposição para migrar, e interesse comprovado em abrir o capital.

Após a inscrição, as empresas preenchem um questionário para validar se atendem aos pré-requisitos do programa. Com base nisso, é feito um diagnóstico de maturidade para avaliar a preparação para o mercado de capitais.

Empresas que atingem 50% de maturidade avançam para a análise técnica documental, com a ajuda de auditoria da Baker Tilly e assessoria jurídica dos escritórios Machado Meyer e Madrona Advogados.

A partir dessa fase, 15 finalistas serão selecionadas para a avaliação final, onde apresentarão seus planos a uma banca de jurados renomados do mercado de capitais. A experiência será gravada em formato de reality show e publicada no YouTube, como um "esquenta" para as mudanças que vêm em 2026.

As 10 empresas vencedoras receberão benefícios, como isenção de taxas de listagem da BEE4 e cobertura das taxas de registro da CVM. Além disso, terão acesso subsidiado a auditoria e assessoria jurídica.

“Estamos criando um caminho mais acessível, mais inclusivo e mais eficiente para as PMEs. Esta é uma oportunidade de mudar o jogo”, diz Stille.

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