Luana Amy, fundadora da La’s Clothing: “O talento que me fez viralizar no começo não é suficiente para sustentar a empresa hoje." (divulgação/Divulgação)
Freelancer
Publicado em 19 de novembro de 2025 às 12h04.
Em meio a um setor conhecido por grandes redes e apostas milionárias, uma marca de moda de Mogi das Cruzes, na região metropolitana de São Paulo, vem crescendo com consistência. Criada por Luana Amy aos 17 anos, a La’s Clothing projeta fechar 2025 com faturamento de R$ 10 milhões e alcançar os R$ 15 milhões no ano que vem — tudo isso sem investimento externo.
A história de Luana é um retrato contemporâneo do empreendedorismo feminino no Brasil. Com 16 anos, ela começou vendendo filtros de imagem (os famosos presets, configurações de edição de fotos) no Instagram, em parceria com influenciadoras.
A moda veio por acaso. Como gostava de desenhar, criou sua primeira estampa à mão, pintada em aquarela. “Eu só queria fazer uma blusa para mim. Mas quando postei a foto, várias meninas pediram para comprar”, lembra.
E foi por meio do Instagram e da comunicação direta com o público que Luana construiu a base da marca: “Desde o dia que o Instagram foi criado, eu nunca passei um dia sem postar. Mesmo operada, minha irmã postava por mim. Isso é disciplina”. Hoje, a La’s já vendeu mais de 135 mil peças e tem mais de 450 mil seguidores nas redes sociais.
“Eu não tinha medo. Não tinha vergonha. Só fui fazendo. O desafio veio depois, quando comecei a ter equipe, responsabilidade e peso emocional. Aí ficou real”, diz Luana Amy.
A base da La’s está longe de ser convencional. Luana começou o negócio durante o ensino médio, enquanto estudava para o vestibular de medicina — objetivo que abandonou quando as vendas da marca começaram a crescer. “No começo eu vendia peça por peça. Chamava uma por uma no direct, criava cupom com o nome da pessoa. Hoje parece meio loucura, mas funcionava”, relembra.
Depois de concluir o ensino médio, Luana foi aprovada no curso de Marketing da Universidade de São Paulo (USP). “Foi onde me encontrei. A faculdade ajudou muito e se tornou minha área de destaque com a La’s”, afirma.
Em casa, a família entrou junto. “A gente jantava e ia fazer as caixinhas para as entregas. Meu pai levava as encomendas até os Correios. Não tinha glamour nenhum”, lembra. Quando a loja ganhou tração, a mãe de Luana, bancária por 25 anos, pediu demissão para ajudar no negócio. O pai, engenheiro, também se juntou à operação.
Atualmente, a produção das peças é terceirizada e distribuída entre fábricas especializadas em estados como Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul. “A gente só trabalha com fábricas que são especialistas em cada produto. Se é jeans, é só jeans. Isso impacta na percepção de qualidade”, explica. Já o desenvolvimento segue sendo 100% interno. No escritório de Mogi das Cruzes, é Luana quem cuida pessoalmente do conceito e das coleções.
Para a empreendedora, autenticidade é regra: em vez de seguir as datas tradicionais do varejo, a La’s aposta em estratégias próprias. A marca ignora a Black Friday e foca em campanhas exclusivas, como a do próprio aniversário, em abril, celebrado com drops limitados e lançamentos especiais. Em outubro, uma pop-up em São Paulo vendeu, em um fim de semana, o equivalente a 15 dias de e-commerce.
“Gosto muito mais de pensar primeiro em pop-up do que em loja fixa, porque você brinca com narrativas diferentes, como fizemos com sombrinhas e pipoca personalizadas”, relembra.
Apesar do discurso maduro e do sucesso da marca, Luana não esconde os desafios, especialmente os emocionais. “Começar jovem tem um lado bom: você não tem medo, não tem nada a perder. Mas quando a empresa cresce, você começa a carregar um peso que ninguém da sua idade entende”, explica.
Ela lembra que, aos 18 anos, enquanto as colegas da faculdade planejavam festas, ela se preocupava em bater as metas da loja e manter o salário dos funcionários. “Eu olhava pra minha mãe, que tinha pedido demissão para trabalhar comigo, e pensava: e se eu estragar tudo?”, conta Luana.
Hoje, cinco anos depois, ela defende que o maior desafio não é mais vender, mas manter a empresa em crescimento.
“O talento que me fez viralizar no começo não é suficiente para sustentar a empresa hoje. Eu preciso estudar sobre liderança, sobre gestão. Não basta só desenhar. Eu tenho que saber se as pessoas que contratei estão entregando o que a marca precisa”, diz.
A empreendedora enxerga um componente emocional e simbólico importante no fato de ser mulher à frente do negócio. “Tem uma magia nisso. Claro que eu sou racional, olho números, metas. Mas tem um brilho quando a gente faz algo que acredita. Minha mãe, por exemplo, tem uma gestão totalmente regrada, mas tudo que a La’s acredita veio dela. Ela se emociona com as nossas vitórias”, conta.