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A empresa por trás dos sofás da Mobly agora tem marcas próprias — e vai faturar R$ 120 milhões

De fornecedora invisível da Mobly a dona de marcas próprias com produtos assinados, a Mundo Móveis agora mira o varejo internacional e projeta dobrar de tamanho em 2025

Hugo Batista, da Mundo Móveis: “A indústria moveleira lançava três produtos por ano. A gente começou lançando dois por dia” (Mundo Móveis/Divulgação)

Hugo Batista, da Mundo Móveis: “A indústria moveleira lançava três produtos por ano. A gente começou lançando dois por dia” (Mundo Móveis/Divulgação)

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 19 de setembro de 2025 às 17h59.

Última atualização em 19 de setembro de 2025 às 18h25.

Em 2016, um executivo da Mobly bateu na porta de Hugo Batista com um pedido inusitado: criar protótipos de sofá como se fossem produtos de startup — rápidos, baratos e em escala.

Batista, que vinha do setor de tecnologia e desenhava produtos para a Casas Bahia, topou na hora.

Montou um estúdio de 75 metros quadrados, começou a fabricar os modelos por conta própria e, em poucos meses, já era responsável pelo sofá mais vendido do e-commerce.

O que era para ser provisório virou fábrica — e, quase dez anos depois, a Mundo Móveis fatura R$ 75 milhões, está lançando marcas próprias e trabalha com planos de dobrar o negócio em 2025.

A empresa, sediada em Birigui, no interior paulista, cresceu em cima do modelo white label, produzindo estofados sob encomenda para grandes varejistas, com destaque para a Mobly.

Chegou a produzir 1,1 mil sofás por dia e operava com exclusividade para um único cliente, até decidir virar o jogo.

Hoje, a Mundo Móveis opera três marcas próprias: a Cialar, focada no estofado jovem com produtos tecnológicos; a Bux, voltada para o mercado premium e internacional; e a recém-lançada Assano, especializada em mobiliário para hotelaria.

A virada é estratégica: em 2024, 43% da receita já veio dessas marcas. Em 2025, a previsão é que esse número chegue a 73%.

“A indústria moveleira lançava três produtos por ano. A gente começou lançando dois por dia”, afirma Batista. “Não dava para esperar o mercado se adaptar. A gente teve de criar o nosso.”

Para dar conta da nova fase, a empresa investe em logística, design, marketing próprio e novos canais de venda — inclusive no exterior.

Só no primeiro semestre de 2025, a receita dobrou em relação ao mesmo período do ano passado.

Qual é a história da Mundo Móveis

A Mundo Móveis nasceu como uma solução para um problema: a Mobly queria lançar produtos com a velocidade de uma startup, mas o setor de móveis era lento, avesso a riscos e travado em processos tradicionais.

Batista, que já tinha experiência com desenvolvimento de produto na Casas Bahia, aceitou o desafio e criou um estúdio pequeno para desenvolver protótipos sob demanda.

A operação começou com dois funcionários e a meta de fabricar 40 peças por modelo. O que vendesse ficava; o que não, saía de linha.

Mas os primeiros modelos se tornaram best-sellers imediatos.

O sofá Lubeck, por exemplo, vendeu 12 mil unidades em novembro de 2022, se tornando o item mais vendido da história da Mobly.

“Quando levei o projeto para fábricas maiores, eles disseram que era inviável. Então a Mobly virou e falou: você vai ter que fabricar”, diz Batista.

E assim o estúdio virou fábrica.

Rapidamente, a empresa saiu de um espaço de 75 metros quadrados para mais de 46 mil metros quadrados, com 700 funcionários e produção diária na casa dos milhares.

Até 2020, a empresa operava exclusivamente para a Mobly. Foi só com a pandemia que o alerta acendeu: depender de um único cliente era um risco real.

A empresa crescia, mas sem diversificação de receita. “Foi aí que começamos a pensar em marca própria. Erramos bastante no caminho, mas aprendemos rápido”, afirma Batista.

Desafios de um setor engessado

O setor moveleiro é conhecido pela rigidez e pela resistência à inovação.

Boa parte das fábricas ainda opera com modelos de produção antigos, poucos lançamentos por ano e baixa diferenciação entre marcas. Batista critica abertamente esse cenário: “O varejo brasileiro virou um jogo de preço. Ninguém vende valor, só briga por centavos”, diz.

A aposta da Mundo Móveis foi se posicionar como uma empresa de produto e tecnologia, e não apenas de mobiliário.

A Cialar, primeira marca própria, nasceu com esse conceito: sofás com porta-copos, luz de leitura, massageador, entrada USB — e entregas rápidas.

“Queríamos entregar um produto com experiência, não só um móvel bonito.”

A aceitação foi rápida. A Cialar se tornou o maior vendedor de estofados do Magazine Luiza em menos de dois anos. O modelo Santiago, por exemplo, bateu 2,1 mil unidades vendidas em novembro de 2024. Hoje, a marca já responde por mais de 40% da receita da empresa.

Outro obstáculo enfrentado foi logístico.

A Mundo Móveis não tinha experiência com entregas diretas ao consumidor — e teve de montar sua própria estrutura do zero. “Montamos equipe de marketing, time de logística, last mile, tudo isso enquanto a operação rodava no volume”, diz Batista.

Além disso, o setor enfrentou pressões externas.

O aumento dos custos com espuma (matéria-prima derivada do petróleo) foi contornado com uma inovação: uma espuma vegetal, feita do óleo de mamona. “Hoje, 95% da espuma que usamos é vegetal. Ficou mais barata, mais sustentável e ainda virou argumento de venda”, afirma.

Como está o momento atual da Mundo Móveis

Com as marcas próprias crescendo, a Mundo Móveis virou o jogo.

Em 2023, o white label ainda representava cerca de 60% da receita. Em 2024, caiu para 43%. Para 2025, a previsão é que as marcas próprias ultrapassem os 70%.

“A gente não abandonou o white label. Mas hoje é só uma parte do que fazemos”, diz Batista.

A Cialar já opera em todos os marketplaces e começa a testar vendas físicas em 25 lojas parceiras. A empresa também criou um modelo de sofá embalado a vácuo e desmontável, que facilita a logística e reduz o custo de transporte — especialmente em exportações.

Já a Bux, marca de móveis premium para áreas externas, teve crescimento acelerado: começou com 30 pontos de venda e fechou 2024 com 150. Está presente no Brasil, EUA, Canadá e mais sete países em negociação. “Criamos uma espuma autodrenante e tecidos respiráveis. É tecnologia alemã adaptada ao mobiliário latino-americano.”

Para onde vai a Mundo Móveis

O próximo movimento da empresa é a Assano, marca voltada exclusivamente para o setor hoteleiro.

Lançada oficialmente nesta semana, a nova divisão começa com contratos já fechados com redes como Wish, Beach Park, Santinho e uma parceria com a Raros, distribuidora que atende mais de 16 mil hotéis.

A proposta da Assano é unir design, durabilidade e facilidade de limpeza — uma dor constante para o setor de hotelaria.

Além disso, a Mundo Móveis está expandindo sua logística com novos centros de distribuição no Centro-Oeste e no Nordeste, e já testa modelos de loja própria para a Cialar.

“Estamos construindo marca, estrutura e operação internacional. O white label nos deu escala, mas agora é hora de usar essa estrutura para jogar outro jogo.”

Batista ainda encontra tempo para escrever livros sobre negócios — já lançou cinco — e recusa o papel de “guru de inovação”. “Eu só quero deixar um legado prático. Mostrar que dá para sair do interior de São Paulo, fazer sofá e competir com gente grande no mundo todo.”

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