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Violência preocupa América Latina e motivou queda de presidente em outubro

Tema é a principal preocupação no continente, mostra estudo da Ipsos, e tem levado a aumento de discursos linha dura

Megaprisão Cecot, em El Salvador: modelo virou inspiração para outros países (Marvin Recinos/AFP)

Megaprisão Cecot, em El Salvador: modelo virou inspiração para outros países (Marvin Recinos/AFP)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 3 de novembro de 2025 às 16h31.

Última atualização em 3 de novembro de 2025 às 16h37.

O crime e a violência são as principais preocupações dos cidadãos na América Latina, à frente de outros problemas, como a pobreza, a corrupção e a falta de emprego, aponta um estudo da Ipsos. Os dados mostram que o problema tem gerado cada vez mais queixas e impactado a política em vários países. No Peru, por exemplo, o aumento de homicídios e extorsões foi uma das razões para o impeachment da presidente Dina Boluarte, em outubro.

O Ipsos faz pesquisas mensais sobre quais são os temas que mais preocupam as pessoas em diversos países. Na América Latina, crime e violência lideram a lista de preocupação, e são citados por 52% dos entrevistados, em média. Na média global, 33% citam o tema. A pesquisa foi feita em outubro de 2025.

No recorte por país, 40% dos entrevistados no Brasil dizem ter preocupações com a segurança pública. O percentual, no entanto, é um dos menores do continente. A preocupação atinge 68% das pessoas no Peru, 63% no Chile e 59% no México.

A preocupação com o tema vem ficando mais forte no continente. Em janeiro de 2022, 41% das pessoas citavam a questão, contra 52% atualmente. No Brasil, o percentual subiu de 28% para 40% no mesmo período.

Vale ressaltar que o estudo foi finalizado antes da operação da polícia no Rio de Janeiro que deixou mais de 120 pessoas mortas na semana passada.

Crises em vários países

Nos últimos anos, vários países da América Latina tiveram crises graves na segurança pública. Uma das mais recentes foi noPeru.

Em outubro, o Congresso peruano retirou do cargo a presidente Dina Boluarte, sob acusação de "incapacidade moral". Entre as várias queixas que levaram à queda da então presidente, estava a incapacidade do Estado de proteger os cidadãos da violência, que teve uma escalada nos últimos anos.

No Peru, os casos de extorsão têm crescido muito. Pequenos comerciantes e operadores de transporte estão entre as principais vítimas. Neste ano, ao menos 180 motoristas foram mortos por não pagarem taxas a criminosos, segundo a entidade Observatório do Crime e da Violência. Isso levou funcionários do setor a fazer greves e exigir uma resposta do governo.

Especialistas apontam que a alta da mineração ilegal tem impulsionado a criminalidade. Como o ouro teve forte alta no mercado internacional, sua exploração passou a gerar mais lucros, o que fortaleceu o caixa de grupos criminosos, que passaram a atuar em mais frentes.

Neste ano, a violência na Colômbia também teve alta, em meio a confrontos por controles de territórios de grupos guerrilheiros e cartéis.

No caso mais emblemático do ano no país, o senador de oposição Miguel Uribe Turbay, que era pré-candidato a presidente, foi baleado durante um ato ao ar livre em Bogotá, em junho. Ele morreu após ficar dois meses internado no hospital.

Em agosto, houve um outro caso marcante. Um ataque contra uma base aérea em Cali matou ao menos 19 pessoas, e derrubou um helicóptero da polícia. O ataque foi atribuído a dissidentes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).

As Farc assinaram um acordo de paz em 2016, mas alguns grupos seguiram em operação. A partir de 2022, o presidente Gustavo Petro lançou uma iniciativa chamada de 'paz total', que na prática reduziu o combate militar aos grupos criminosos. Com isso, eles acabaram se fortalecendo.

Exemplo de Bukele

Ao mesmo tempo, ganharam força no continente líderes políticos que defendem adotar medidas muito duras contra o crime organizado.

O mais conhecido deles é Nayib Bukele, presidente de El Salvador. No cargo desde 2019, ele adotou um regime de exceção no país, que reduziu as garantias legais. Assim, prendeu cerca de 90 mil pessoas e construiu megaprisões para recebê-las. Além disso, aposta forte no marketing, como na divulgação de vídeos que mostram a dureza da vida nas novas cadeias.

Bukele se reelegeu em 2024 e levou o Congresso a aprovar a reeleição ilimitada no país, que poderá beneficiá-lo. Ele também recebeu apoio público do presidente americano Donald Trump e fez acordos para enviar criminosos estrangeiros capturados pelos EUA para prisões de El Salvador.

No Equador, o presidente Daniel Noboa, no cargo desde 2023, foi eleito com a promessa de endurecer o combate ao crime no país e de fazer megaprisões como as de El Salvador. A primeira delas, para 800 presos, teve sua construção iniciada em 2024. O país teve uma forte crise de violência, após o aumento da presença de cartéis internacionais, que teve como auge o assassinato do candidato presidencial Fernando Villavicencio, em 2023.

Na Argentina, que teve eleições de meio de mandato em outubro, o presidente Javier Milei prometeu reduzir a maioridade penal e endurecer penas. Patricia Bullrich, sua então ministra da Segurança Pública, foi até El Salvador visitar uma megaprisão em 2024 e fez um acordo para troca de experiências entre os dois países.

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