Agência de notícias
Publicado em 9 de setembro de 2025 às 07h01.
A agência da União Europeia para Asilo (UEAA) divulgou nesta segunda-feira um relatório sobre os pedidos de acolhimento nos países do bloco no primeiro semestre deste ano. Nele, uma mudança de peso: os venezuelanos se tornaram, pela primeira vez, a nacionalidade com o maior número de solicitações, ultrapassando os sírios, que lideraram os levantamentos por uma década. A partir disso, houve também uma troca inédita nos destinos mais procurados pelos imigrantes, com França e Espanha à frente da Alemanha.
Refúgio principal dos venezuelanos por anos, os EUA perderam esse posto com o governo de Donald Trump. Cada vez mais restritivo na política migratória, o republicano tem forçado deportações e encarceramentos em massa desde o seu retorno à Casa Branca. Na União Europeia, a Espanha passou a ser o principal destino, concentrando 93% das solicitações de venezuelanos, atraídos pela língua comum, pela diáspora existente e pelo fato de as autoridades espanholas oferecerem uma abordagem mais flexível para lidar com a escassez de mão de obra.
Os pedidos de acolhida de venezuelanos, que fogem ou dos Estados Unidos de Trump, ou do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, na Espanha aumentaram quase um terço (29%), em comparação ao primeiro semestre de 2024.
Entre as nacionalidades que mais recorreram ao refúgio no bloco europeu estão, além dos venezuelanos, afegãos e sírios. Também se destacaram cidadãos da Colômbia, do Haiti e de Mali, que registraram aumentos significativos em comparação com anos anteriores, e grupos tradicionais de solicitantes, como bangladeshis e turcos, embora em queda.
Nacionalidades | Número de pedidos |
---|---|
Venezuela | 49 mil |
Afeganistão | 42 mil |
Síria | 25 mil |
Bangladesh | 17 mil |
Turquia | 17 mil |
Os números mostram que mais da metade das solicitações vieram de nacionalidades com baixas taxas de aceitação, de até 20%. Isso explica, em parte, o fato de a taxa de reconhecimento ter caído para 25% no semestre — o nível mais baixo já registrado. No entanto, a agência ressalta que esse dado não reflete, necessariamente, um endurecimento das políticas de acolhimento, mas sim fatores estatísticos, como a suspensão do processamento de pedidos de sírios ou a retirada voluntária de solicitações, que acabam sendo registradas como negativas.
Do lado que recebe os pedidos, França e Espanha se consolidaram como os países mais procurados, com 78 mil e 77 mil pedidos, respectivamente. Alemanha, que liderava por anos, caiu para a terceira posição, com 70 mil solicitações. Em seguida, aparecem Itália e Grécia, que, proporcionalmente, receberam o maior volume de pedidos em relação à sua população: um para cada 380 habitantes.
Países | Número de pedidos |
---|---|
França | 78 mil |
Espanha | 77 mil |
Alemanha | 70 mil |
Itália | 64 mil |
Grécia | 27 mil |
No total, os países da União Europeia e associados receberam 399 mil pedidos de refúgio entre janeiro e junho, uma queda de 23% em relação ao mesmo período do ano passado. O recuo foi puxado principalmente pela redução de dois terços nos pedidos de cidadãos sírios. Ao fim de junho, cerca de 918 mil solicitações aguardavam decisão de primeira instância, revelando o peso do acúmulo sobre os sistemas nacionais. A partir de 2026, novas regras europeias permitirão a tramitação acelerada de pedidos de países com baixa taxa de reconhecimento, o que pode alterar novamente esse cenário.
No início do ano passado, a UE adotou uma ampla reforma do sistema migratório do bloco, após quase dez anos de negociações e disputas internas. O Pacto de Migração e Asilo europeu prevê, entre outras coisas, um mecanismo de solidariedade obrigatória entre os Estados-membros para receber estrangeiros e impõe controles mais severos na fronteira.
Há dez anos, mais de um milhão de pessoas desembarcaram na Europa fugindo da guerra, da fome e da pobreza, segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM). O período fez com que o fluxo de imigrantes e refugiados fosse entendido como "incontrolável" e descrito como "a mais grave crise migratória do continente desde a Segunda Guerra Mundial". Foi também nessa época que a UE passou a tentar encontrar uma abordagem comum e eficaz para gerenciar a migração. Nos últimos anos, no entanto, o sentimento anti-imigrante disparou em todo o continente, e a pauta foi apropriada pela extrema-direita.