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Único sobrevivente de acidente da Air India carrega caixão de irmão morto na tragédia; vídeo

Vishwash Kumar Ramesh participou de cortejo fúnebre com ataduras no rosto e nos braços e foi amparado por parentes e colegas

Vishwash Kumar Ramesh carrega caixão do irmão morto em acidente aéreo da Air India (Reprodução de vídeo)

Vishwash Kumar Ramesh carrega caixão do irmão morto em acidente aéreo da Air India (Reprodução de vídeo)

Agência o Globo
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Agência de notícias

Publicado em 18 de junho de 2025 às 12h43.

Amparado por colegas que temiam por suas condições de saúde, o único sobrevivente do acidente aéreo da Air India ajudou a carregar nos ombros o caixão de seu irmão, morto na tragédia da semana passada, durante um funeral realizado no oeste da Índia. Assim como Vishwashkumar Kumar Ramesh, Ajay estava no voo — diferentemente do parente, ele e outras 240 pessoas a bordo não resistiram à queda. A imprensa indiana reportou que Ajay foi cremado na manhã desta quarta-feira.

Vídeos que circulam nas redes sociais mostram Ramesh visivelmente abalado durante o funeral de Ajay. Com o braço e o rosto protegidos por ataduras, ele deixou o hospital onde permaneceu a maior parte dos últimos cincos dias e auxiliou o transporte do caixão do irmão para o crematório da cidade de Diu. Sua mãe, de sári azul, também acompanhou o cortejo, debaixo de chuva, disse a BBC.

O avião da Air India caiu pouco depois de decolar, na quinta-feira, de Ahmedabad, com destino a Londres. Pessoas que estavam em solo também foram atingidas e morreram. Não se sabe ao certo como Ramesh sobreviveu ao acidente.

Um novo vídeo divulgado na segunda-feira mostrou o momento em que ele surge caminhando entre os destroços em chamas, pouco depois da queda da aeronave no bairro de Meghani Nagar. Ramesh tentou voltar ao local das chamas para ajudar Ajay, mas não conseguiu, afirmaram testemunhas à BBC.

Nas imagens, é possível ver dezenas de pessoas correndo em pânico, enquanto uma densa coluna de fumaça preta sobe ao fundo. Em meio à confusão, Ramesh, cidadão indo-britânico de 40 anos, aparece deixando a zona de impacto, olhando diversas vezes para trás enquanto se afasta milagrosamente do cenário de destruição.

O acidente transformou o local em uma cena de caos absoluto.

— Trinta segundos depois da decolagem, ouvi um barulho alto e, em seguida, o avião caiu. Tudo aconteceu muito rápido — contou ao Hindustan Times Vishwash, ferido no peito, nos olhos e nos pés e ainda com o cartão de embarque nas mãos. — Quando acordei, havia corpos por todos os lados. Fiquei em pânico. Me levantei e saí correndo. Havia destroços do avião espalhados. Alguém me segurou, me colocou em uma ambulância e me trouxe ao hospital.

Um médico do Hospital Civil de Ahmedabad, que cuidou de Ramesh, confirmou que, após ser arremessado para fora do avião, ele foi levado a pé até uma ambulância próxima para receber atendimento:

— Ele estava desorientado, com múltiplos ferimentos por todo o corpo — disse Dhaval Gameti à Associated Press. — Mas ele parece estar fora de perigo.

Outro médico disse que Ramesh lhe contou que, imediatamente após a decolagem, o avião começou a descer e, de repente, se partiu em dois, lançando-o para fora antes de uma forte explosão. Vídeos transmitidos por canais de notícias indianos parecem mostrar Ramesh ensanguentado se afastando do local do acidente e algumas pessoas correndo atrás dele.

Quem é Ramesh?

Ramesh havia viajado à Índia para visitar familiares e voltava para Londres com o irmão, Ajay Kumar Ramesh, de 45 anos, que estava sentado em outra fileira na aeronave. Após a queda, ele ligou para o pai para contar que havia sobrevivido, contou outro irmão, Nayan.

— Ele fez uma videochamada para meu pai e disse: 'Ah, o avião caiu. Não sei onde meu irmão está. Não vejo outros passageiros' — disse Nayan à Sky News.

Morador de Londres há duas décadas, Ramesh também contou ao Hindustan Times que sua esposa e filho vivem na capital britânica.

— Visitamos Diu juntos. Ele viajava comigo, e agora não consigo encontrá-lo. Por favor, me ajudem a achá-lo — pediu, emocionado.

Entenda o caso

O voo AI171, operado por um Boeing 787-8 Dreamliner, perdeu altitude pouco depois de sair da pista, o que resultou em sua queda nas proximidades do terminal, danificando ao menos três prédios, segundo uma testemunha. Após o impacto, a aeronave pegou fogo. É o primeiro acidente fatal envolvendo esse modelo de avião desde que ele entrou em operação, em 2011.

Em Londres, onde os passageiros deveriam desembarcar, o primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, afirmou que as imagens do acidente eram "devastadoras" e que seus pensamentos estavam com passageiros e familiares. O rei Charles III, por sua vez, disse que ele e a rainha Camilla estavam "profundamente chocados".

"Nossas orações especiais e a mais profunda solidariedade estão com as famílias e amigos de todos os afetados por este incidente trágico e terrível em tantas nações, enquanto aguardam notícias de seus entes queridos", escreveu o monarca em um comunicado. "Gostaria de prestar uma homenagem especial aos esforços heroicos dos serviços de emergência e a todos aqueles que prestam ajuda e apoio neste momento tão doloroso e traumático."

Avião moderno e confiável

O modelo envolvido no acidente é o Boeing 787-8 Dreamliner, uma das aeronaves mais modernas da frota da Air India. Com capacidade para até 250 passageiros em configuração de duas classes, o 787-8 é conhecido por sua eficiência energética, conforto aprimorado e alcance intercontinental. Ele entrou em operação comercial em 2011 e faz parte de uma família de jatos que inclui também os modelos 787-9 e 787-10.

Entre seus diferenciais, o Dreamliner conta com janelas maiores com escurecimento eletrônico, sistema de pressurização mais confortável para os passageiros, menor consumo de combustível e fuselagem construída em materiais compostos, como fibra de carbono. A Air India opera atualmente uma frota significativa de Dreamliners, principalmente em suas rotas internacionais de longa distância.

Aeronaves do mesmo modelo já apresentaram problemas operacionais com passageiros a bordo em ocasiões anteriores, resultando em feridos, mas até então não havia registro de fatalidades. Contudo, a Administração Federal de Aviação (FAA) dos EUA abriu uma investigação em abril de 2024, após um engenheiro da empresa americana afirmar que partes da fuselagem do 787 Dreamliner estavam fixadas incorretamente e poderiam se romper em pleno voo após uso. A empresa disse que reúne informações sobre o acidente na Índia.

A Boeing enfrenta uma saga jurídica de anos por causa de dois acidentes com o avião 737 Max em 2018 e 2019, que mataram 346 pessoas. A empresa chegou a um acordo com o Departamento de Justiça dos EUA no mês passado, que a isentaria de assumir responsabilidade criminal pelos acidentes, mas o acordo depende da autorização de um juiz, e foi contestada por famílias das vítimas.

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