Repórter
Publicado em 12 de julho de 2025 às 13h54.
Última atualização em 12 de julho de 2025 às 14h30.
Na última semana, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deu um passo drástico em sua política comercial, ao anunciar novas tarifas de importação que afetam uma ampla gama de países ao redor do mundo. Com o objetivo declarado de “corrigir o déficit comercial dos EUA”, as novas tarifas impactam uma série de nações, incluindo algumas das maiores economias do planeta, como a União Europeia, Japão e Brasil. As taxas, que variam de 25% a 50%, entram em vigor a partir de 1º de agosto.
O Brasil, em particular, se destaca como o país mais afetado por essas medidas, com uma tarifa de 50% sobre produtos. Mas outros 47 países também foram afetados. A União Europeia (que inclui 27 países, como França, Alemanha e e Itália) e o México, por exemplo, foram alvos de uma tarifa de 30%, enquanto países como Japão, Coreia do Sul, Canadá e outros mercados emergentes receberam taxas de 25%.
Trump justificou essas tarifas com o argumento de que os EUA precisam equilibrar suas relações comerciais e proteger sua indústria interna contra práticas que ele considera desleais, como o subsídio de indústrias em outros países ou políticas comerciais que favorecem os parceiros em detrimento dos interesses americanos. Para o México, as tarifas também têm uma dimensão política adicional, pois Trump as utilizou como uma ferramenta de pressão para combater a imigração ilegal e o tráfico de drogas, questões que ele considera prioritárias para a segurança nacional.
O consenso entre especialistas é de que as tarifas terão consequências significativas para o crescimento econômico dos EUA e para as economias globais.
O JP Morgan foi um dos primeiros a revisar suas projeções econômicas após o anúncio das tarifas. Michael Feroli, economista-chefe do banco, ajustou a previsão do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA para 2025, reduzindo-a para 1,6%, uma queda substancial em comparação com estimativas anteriores. Feroli justificou essa revisão com a crescente incerteza comercial que as tarifas geram, além da pressão adicional sobre os preços, que, segundo ele, deverá resultar em uma aceleração da inflação.
A equipe do JP Morgan também destacou que a imposição dessas tarifas criaria um aumento nos custos de consumo, uma vez que os preços dos produtos importados tendem a subir, impactando diretamente os consumidores americanos.
Feroli alertou ainda que, com o aumento dos custos devido às tarifas, a inflação ao consumidor deve subir 0,2 pontos percentuais, o que afetaria especialmente as classes média e baixa dos EUA. Além disso, as tarifas retaliatórias que podem ser impostas pelos países afetados também são um ponto de preocupação, já que elas poderiam limitar o crescimento das exportações dos EUA, afetando negativamente a balança comercial e as empresas que dependem de mercados internacionais. Essas projeções foram divulgadas em um relatório detalhado do J.P. Morgan Research, que reforçou o impacto negativo das tarifas sobre a atividade econômica, especialmente nos gastos de capital das empresas.
Jamie Dimon, CEO do JP Morgan, fez declarações sobre os efeitos das tarifas em um evento promovido pelo Ministério das Relações Exteriores da Irlanda.
Dimon, conhecido por sua abordagem pragmática e cética em relação a políticas econômicas abruptas, alertou que o mercado está subestimando os riscos associados às tarifas. Em sua fala, Dimon reconheceu que, sob certas circunstâncias, as tarifas poderiam ser uma estratégia válida para proteger a indústria nacional e corrigir desequilíbrios comerciais. No entanto, ele também enfatizou que o mercado financeiro, por enquanto, parece estar complacente quanto aos riscos inflacionários e às possíveis consequências de um aumento nas taxas de juros, que poderiam ser necessárias para conter o impacto inflacionário causado pelas tarifas.
Dimon foi enfático ao dizer que, embora alguns aspectos da política de Trump possam ser justificados, o mercado precisa estar mais atento ao efeito que a guerra comercial terá sobre a estabilidade econômica global. "Eu detesto usar a expressão 'Taco trade' porque acho que ele fez a coisa certa ao dar um passo atrás, mas, infelizmente, acho que o mercado está complacente", afirmou Dimon, referindo-se ao risco de que as tarifas aumentem os custos operacionais das empresas e exacerbem as pressões sobre os consumidores.
Tarifas mais altas, como as de 50% sobre o Brasil, podem ter um impacto desproporcional em determinadas economias, segundo a Bloomberg.
No caso do Brasil, que já enfrenta desafios econômicos internos, o aumento das tarifas sobre commodities como cobre pode exacerbar uma recessão, gerando uma pressão adicional sobre a indústria e as exportações. Além disso, a análise da Bloomberg destacou que, mesmo com a moderada reação dos mercados, as tarifas forçarão ajustes nas cadeias produtivas globais. Empresas em todo o mundo terão que se adaptar a uma nova realidade comercial, em que os custos de importação são mais altos, e as tarifas retaliatórias de outros países podem criar uma dinâmica comercial mais complexa e volátil.
A projeção da Bloomberg para os setores mais afetados inclui a indústria automotiva, que já sofre com os altos custos de produção devido às tarifas sobre o aço e o alumínio. A indústria alimentícia também está no radar, com aumentos de preços para os consumidores podendo reduzir a demanda por certos produtos. Além disso, as empresas do setor de metais, como aquelas que dependem do cobre, sofrerão impactos diretos com as novas tarifas, principalmente no Brasil. A análise da Bloomberg conclui que, embora a reação inicial do mercado tenha sido moderada, o cenário futuro depende da implementação das tarifas e das respostas dos países afetados, que podem buscar retaliações ou ajustes nos acordos comerciais com os EUA.
O presidente Lula anunciou que o Brasil aplicará a Lei de Reciprocidade Econômica em resposta à tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros.
Durante entrevista ao Jornal Nacional, Lula deixou claro que está aberto a negociações com o presidente americano, mas que, se necessário, o Brasil usará a lei para retaliar a partir de 1º de agosto, quando a medida entra em vigor. Lula criticou a atitude de Trump, considerando-a "inaceitável" e uma intromissão nas decisões brasileiras, além de afirmar que as alegações de déficit comercial não são fundamentadas.
A tarifa imposta por Trump afetará setores-chave da economia brasileira, como café, aeronaves e suco de laranja. Essa decisão vai além de questões comerciais, sendo também uma retaliação política aos processos contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e à interferência do Supremo Tribunal Federal (STF) nas plataformas digitais americanas. A medida também agrava as tensões comerciais entre os dois países, com destaque para o contexto do Brics e das disputas geopolíticas no Sul Global.
Lula reforçou que a retaliação de Trump precisa ser baseada em fatos reais e que as acusações de déficit comercial entre Brasil e EUA são infundadas. De acordo com o presidente, os Estados Unidos têm superávit comercial com o Brasil, o que torna a medida ainda mais questionável.
O governo brasileiro planeja formar uma comissão com empresários e representantes do governo para avaliar os impactos das tarifas e explorar alternativas comerciais. A ideia é buscar novos mercados e reduzir a dependência do mercado americano, abrindo novas oportunidades para as exportações brasileiras.
Os estados mais impactados pelas tarifas de 50% incluem aqueles com maior volume de exportações para os EUA. Estados como São Paulo, Minas Gerais e Paraná, que têm forte presença no setor agropecuário e aeronáutico, poderão sentir de forma mais intensa os efeitos econômicos dessas tarifas.
A estimativa é que a tarifa possa reduzir o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em até 1,2%, de acordo com análises do JP Morgan.