Agência de notícias
Publicado em 16 de junho de 2025 às 16h56.
Última atualização em 16 de junho de 2025 às 19h38.
O homem acusado de matar uma deputada estadual de Minnesota e seu marido e ferir um senador do mesmo estado na semana passada planejava um ataque ainda maior. Segundo as autoridades americanas, Vance Boelter, de 57 anos, mantinha um caderno com cerca de 70 alvos potenciais, incluindo políticos democratas e líderes comunitários e empresariais, além de centros de atendimento da Planned Parenthood, organização que oferece serviços de saúde reprodutiva.
Boelter chegou a ir até as casas de dois outros parlamentares com a intenção de causar mais mortes na madrugada de sábado. No entanto, um deles não estava em casa — e o suspeito deixou a outra residência após a chegada da polícia, afirmou o procurador interino dos Estados Unidos, Joseph Thompson, em entrevista coletiva nesta segunda-feira. Segundo ele, o caso é tratado pelas autoridades como um atentado político e representa uma escalada da violência extremista no país.
— Este foi um assassinato político, termo que raramente usamos nos Estados Unidos — disse. — Boelter planejou cuidadosamente o ataque. Ele pesquisou sobre as vítimas e suas famílias, fez vigilância das residências e realizou anotações.
O suspeito se entregou à polícia no domingo, após ter sido encontrado em uma área de mata perto de sua casa, ao final de uma grande caçada que começou no início da manhã de sábado. Ele é acusado de se passar por um policial e matar a deputada democrata Melissa Hortman e o marido dela, Mark, no subúrbio de Minneapolis. Ele ainda atirou no senador estadual John Hoffman, também democrata, e em sua esposa, Yvette. Ambos sobreviveram, mas sofreram diversos ferimentos.
Boelter, de 57 anos, foi acusado de assassinato e perseguição em nível federal. Ele também já enfrenta acusações estaduais, incluindo homicídio e tentativa de homicídio. O procurador disse que ainda é cedo para afirmar se o Departamento de Justiça buscará a pena de morte, mas destacou que essa é uma das possibilidades previstas pelas acusações — que ainda podem ser alteradas conforme os promotores avançam para a fase do grande júri, etapa necessária para levar o caso a julgamento.
As autoridades não revelaram os nomes dos outros parlamentares perseguidos por Boelter que escaparam ilesos. No entanto, disseram que os ataques foram claramente motivados por razões políticas. A senadora Tim Smith afirmou que o caderno encontrado com o suspeito incluía o nome dela e de vários outros parlamentares, todos democratas. Não se sabe se a senadora do estado, Amy Klobuchar, também estava na lista, mas ela e Smith estão recebendo segurança adicional.
Um representante de Minnesota afirmou que parlamentares que se manifestaram publicamente em defesa do direito ao aborto estavam na lista. A fonte falou sob anonimato devido à investigação ainda em curso. Entre os documentos encontrados no veículo usado por Boelter estavam mapas e anotações sobre a Planned Parenthood e outras unidades de saúde. Ele também tinha referências a protestos contra o presidente Donald Trump que ocorreram no mesmo dia dos ataques.
A esposa de Boelter autorizou a polícia a vasculhar o telefone celular do suspeito. No aparelho, uma mensagem de texto enviada por ele a um grupo familiar dizia: “Papai foi para a guerra na noite passada. Não quero dizer mais nada porque não quero implicar ninguém”. Em outra mensagem enviada à esposa, ele escreveu: “Palavras não vão explicar o quanto estou arrependido por essa situação. Vai ter gente indo para a casa armada e com o dedo no gatilho, e eu não quero vocês por perto”.
Horas após os ataques, ele também enviou mensagens de texto a amigos pedindo desculpas por suas ações, embora não tenha detalhado o que havia feito. Em uma delas, ele chegou a dizer: “Vou desaparecer por um tempo. Posso morrer em breve, então só quero dizer que amo vocês dois e que queria que as coisas não tivessem chegado a esse ponto”.
A seção de Minnesota do Colégio Americano de Obstetrícia e Ginecologia afirmou que seus membros ficaram “entristecidos e horrorizados” com os ataques, acrescentando que é “inaceitável que pessoas da nossa comunidade de obstetrícia e ginecologia tenham que trabalhar e viver com medo por oferecer cuidados essenciais de saúde reprodutiva”. A Planned Parenthood afirmou estar trabalhando com as autoridades para reforçar o patrulhamento em suas unidades.
“Nossas portas permanecerão abertas”, disse Ruth Richardson, presidente e diretora-executiva da organização, em nota.
Os Hoffmans foram atacados primeiro, por volta das 2h de sábado. Segundo uma denúncia criminal divulgada após a prisão de Boelter, a filha adulta do casal ligou para a polícia dizendo que uma pessoa mascarada havia batido à porta e atirado em seus pais. Depois que a polícia de Brooklyn Park soube que uma das vítimas baleadas era um político, enviaram agentes para verificar também a casa da deputada Melissa Hortman, localizada em um subúrbio próximo. Os policiais chegaram à casa de Hortman por volta das 3h30 da manhã e encontraram o suspeito, que trocou tiros com os agentes antes de fugir a pé. Boelter se passou por um policial durante os ataques, usando uma máscara de borracha e equipamento tático. Ele também havia usado um veículo que, segundo as autoridades, teria sido projetado para se parecer com um carro da polícia. Uma legisladora de Minnesota relatou que o cachorro de Hortman precisou ser sacrificado após ser baleado.
“Os filhos dela (Melissa) tiveram que tomar essa decisão após saber que os pais haviam sido assassinados”, publicou a deputada Erin Koegel no X. “Gilbert não iria sobreviver. Melissa amava aquele cachorro. Ela o treinou para ser um cão de serviço. Ele foi reprovado no treinamento, e ela ficou feliz por isso, porque ele pôde ficar com ela!”.
Melissa Hortman, advogada e legisladora há quase duas décadas, presidiu a Câmara Estadual como sua porta-voz de 2019 até o início deste ano. Quando os democratas tinham uma estreita maioria na legislatura, em 2023, ela ajudou a aprovar leis que ampliaram os direitos ao aborto, legalizaram a maconha recreativa e instituíram a obrigatoriedade de licença remunerada por motivo de saúde ou familiar. Mark Hortman, seu marido, era conhecido como um parceiro presente e figura constante nas campanhas eleitorais. Amigos dizem que ele teve papel fundamental no sucesso político da esposa. No momento de sua morte, Mark trabalhava como gerente de programas na nVent Electric, uma empresa global de fabricação de equipamentos elétricos.
Já John Hoffman e a esposa, Yvette, foram encontrados com múltiplos ferimentos por arma de fogo em sua casa, a cerca de 16 km da residência dos Hortman. Segundo uma mensagem enviada por Yvette e compartilhada pela senadora Amy Klobuchar, Hoffman foi atingido por nove tiros. Ele foi eleito em 2013 e, antes de ingressar na política, atuou em um conselho escolar e trabalhou nas áreas de marketing e relações públicas. Yvette, ex-DJ, relatou ter sido baleada oito vezes.
O sobrinho do casal, Mat Ollig, escreveu que Yvette se jogou sobre a filha, usando o próprio corpo como escudo para salvar a vida dela. Hoffman passou por sua última cirurgia no domingo e segue em recuperação, assim como a esposa, informou o governador democrata Tim Walz.
— Podem ter certeza de que vamos empregar todos os recursos do estado de Minnesota para garantir que a Justiça seja feita e que o responsável por esse ato indescritível cumpra a pena que merece — disse o governador Walz em entrevista no domingo à noite.
(Com New York Times)