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Rússia substitui WhatsApp por aplicativo local e reforça controle do Kremlin sobre internet

Aplicativo escolhido pelo Kremlin opera sem criptografia e facilita o monitoramento de dados

Kremlin amplia controle digital com lançamento de superaplicativo nacional (Yuri Kochetkov/AFP)

Kremlin amplia controle digital com lançamento de superaplicativo nacional (Yuri Kochetkov/AFP)

Publicado em 30 de julho de 2025 às 17h08.

Última atualização em 30 de julho de 2025 às 17h18.

A Rússia deu mais um passo na consolidação de uma internet sob controle estatal. O governo anunciou nesta quarta-feira, 30, que o aplicativo Max, desenvolvido pela VK Co., será a principal plataforma de mensagens do país, de acordo com informações da Bloomberg.

A empresa está sob influência direta do Kremlin por meio da Gazprom e de acionistas próximos ao governo.

A medida integra a estratégia de soberania digital adotada pela Rússia desde 2011, com foco na nacionalização da infraestrutura da internet.

O Max foi lançado como uma solução multifuncional, com recursos de mensagens, pagamentos, acesso a serviços públicos e funções para o entretenimento.

Restrições aumentam sobre plataformas estrangeiras

Poucos dias após o anúncio, o presidente russo, Vladimir Putin, determinou a criação de novas restrições a softwares de países classificados como hostis. O WhatsApp, que pertence à Meta Platforms, foi citado por autoridades como provável alvo de bloqueio. Plataformas como Facebook, Instagram e X já estão proibidas no país, e o YouTube enfrenta limitações.

Desde a invasão da Ucrânia, em 2022, o governo russo intensificou as medidas de controle sobre a internet. Em julho de 2025, foram registrados 2.591 apagões de internet móvel, segundo a organização Na Svyazi. O número representa um aumento em relação aos 654 cortes registrados em junho. O governo afirma que as interrupções têm o objetivo de dificultar o uso de drones ucranianos.

Além disso, o país tem utilizado métodos para bloquear aplicativos específicos e redes privadas virtuais (VPNs), dificultando o acesso a sites estrangeiros. A legislação russa também prevê multas para quem pesquisar conteúdos considerados extremistas, e há repressão a manifestações contrárias à guerra ou ligadas à comunidade LGBTQIA+.

Internet sob vigilância estatal

A ausência de criptografia de ponta a ponta no Max facilita o monitoramento de dados trafegados entre os usuários, de acordo com organizações de defesa digital como a Roskomsvoboda. O aplicativo concentra boa parte da atividade online em uma infraestrutura diretamente controlada pelo Estado russo.

A maioria das ações com direito a voto da VK está nas mãos da MF Technologies, vinculada à Gazprom e à seguradora Sogaz AO. Esta última é parcialmente controlada por Yury Kovalchuk, aliado próximo de Putin. O CEO da VK, Vladimir Kirienko, é filho de um assessor do presidente.

O processo de nacionalização da internet russa ganhou força em 2011 após protestos organizados online. Desde então, o governo aprovou leis que permitem filtrar o tráfego digital e exigir o armazenamento de dados dentro do território russo.

Em 2023, um consórcio apoiado pelo Kremlin adquiriu a operação local do buscador Yandex. O VKontakte, principal rede social da VK, já ultrapassou o YouTube em número de usuários mensais.

O uso do Max ainda é limitado, mas o governo espera que a integração com serviços públicos incentive a adesão. A tendência, segundo especialistas, é de substituição gradual das plataformas globais por serviços controlados internamente.

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