Donald Trump: tarifas do presidente irão pesar no bolso dos americanos (Getty Images)
Repórter
Publicado em 13 de outubro de 2025 às 08h00.
As tarifas impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tiveram maior efeito até agora nas empresas, que reduziram suas margens e não repassaram integralmente os custos aos consumidores.
Para economistas do Goldman Sachs (GS), o cenário deve mudar até o final do ano — e o consumidor americano pagará essa conta.
O cenário, apontam analistas, pressiona a inflação e pode dificultar o trabalho do Federal Reserve (Fed), Banco Central dos EUA, em reduzir as taxas de juros no país.
A expectativa do banco é que até dezembro, cerca de 55% da carga tarifária recaia sobre os lares americanos.
Para especialistas, as tarifas comerciais impostas pelo governo Trump já estão sendo absorvidas por empresas americanas e, gradualmente, repassadas aos consumidores.
“A maior parte do custo está sendo absorvida por empresas dos Estados Unidos, com repasses graduais aos preços finais”, disse Alberto Cavallo, professor da Harvard Business School, em entrevista à Reuters.
Desde o início da nova política tarifária, em março, os preços de produtos importados subiram 4% em média, enquanto os bens produzidos internamente ficaram 2% mais caros, segundo levantamento feito por Cavallo e os pesquisadores Paola Llamas e Franco Vasquez. O estudo acompanhou 359.148 itens vendidos no varejo físico e digital norte-americano.
Análises do Yale Budget Lab também indicam que produtores internacionais vêm reajustando os preços em dólares — repassando parte dos custos às empresas americanas, principalmente em razão da desvalorização do dólar frente a outras moedas.
O impacto é mais intenso em categorias que os EUA não produzem, como café, ou em produtos originados de países mais penalizados, como Turquia, México e China.
Um levantamento conduzido pela Reuters com companhias da Europa, Oriente Médio e África mostra que 72% delas elevaram os preços desde o início da guerra comercial, embora apenas 18 tenham relatado impacto direto nas margens de lucro.
Plataformas como Amazon e Shein também registram aumentos consistentes nos preços de produtos chineses vendidos nos Estados Unidos, principalmente em categorias como vestuário e eletrônicos.
Ainda segundo o Goldman, as tarifas implementadas ao longo de 2024 já elevaram em 0,44 ponto percentual o índice de gastos pessoais dos consumidores, medido pelo núcleo da inflação do consumo dos EUA (Personal Consumption Expenditures, ou PCE, em inglês).
A tendência é que o indicador atinja 3% até o fim de dezembro, patamar sensível para a política monetária norte-americana, apontam os economistas.
As medidas tarifárias são parte da estratégia de Trump para reduzir o déficit comercial e incentivar a produção doméstica. Mas dados apontam que, na prática, quem paga os tributos são os importadores dos Estados Unidos, que acabam repassando os custos para os consumidores.
Trump e seus assessores mantêm o discurso de que os países exportadores são os mais prejudicados pelas tarifas. Mas, segundo os economistas, empresas estrangeiras absorvem parte do impacto apenas quando decidem reduzir os preços para manter competitividade no mercado americano.
O relatório do Goldman Sachs não inclui a ameaça mais recente do presidente Trump, que sinalizou a intenção de elevar as tarifas sobre produtos chineses para 100%, além de implementar novas restrições a softwares críticos.
A equipe de analistas afirma que, mesmo sem considerar esses cenários, os riscos de novos embates comerciais aumentaram nas últimas semanas.
“Não estamos assumindo mudanças nas tarifas de importação da China no nosso cenário base, mas os eventos recentes indicam risco elevado”, diz o texto.
A tensão entre os dois países aumentou após a decisão da China de impor novos controles sobre exportações de terras raras, insumos essenciais para a produção de semicondutores, baterias e outros equipamentos de alta tecnologia.
Trump acusou o país asiático de adotar uma postura “hostil” e ameaçou cancelar o próximo encontro com o presidente Xi Jinping.
Com tarifas médias saltando de 2% para 17% e um custo estimado de US$ 30 bilhões por mês, analistas indicam que o impacto das políticas de Trump tende a se intensificar ao longo dos próximos trimestres — tanto no plano doméstico quanto no comércio internacional.
Economistas consultados pela Reuters alertam que o efeito das tarifas sobre a inflação é cumulativo e deve continuar à medida que empresas diluem os aumentos de preço para não perder clientes. A pressão é sentida especialmente por famílias de baixa renda, que destinam maior parte de sua renda a bens de consumo impactados pelas importações.
O Federal Reserve (Fed) já estima que as tarifas sejam responsáveis por até 40 pontos-base da inflação atual, hoje em 2,9% no núcleo, enquanto o Peterson Institute for International Economics calcula que o índice estaria 1 ponto percentual mais baixo se as tarifas não tivessem sido implementadas.
A política tarifária também complica o trabalho do Fed: reduzir juros para estimular o emprego pode agravar a inflação induzida pelas tarifas, enquanto manter taxas elevadas freia o crescimento econômico.
Nas empresas, as reações são mistas. Gigantes como Procter & Gamble e Ray-Ban vêm repassando os custos aos consumidores, enquanto fabricantes de automóveis europeus tentam absorver parte do impacto para manter competitividade no mercado americano.
O efeito também já se espalha para o comércio global. Exportações da União Europeia para os EUA caíram 4,4% em julho, com destaque para a Alemanha, que recuou 20,1% em agosto, segundo dados do escritório federal de estatísticas alemão.
A Organização Mundial do Comércio (OMC) reduziu a projeção de crescimento do comércio mundial para apenas 0,5% em 2025, citando os efeitos retardados das tarifas americanas.
Segundo o banco ING, as exportações da UE para os Estados Unidos podem cair 17% nos próximos dois anos, o que retiraria 0,3 ponto percentual do Produto Interno Bruto (PIB) do bloco europeu.
Enquanto isso, analistas alertam que o prolongamento da guerra tarifária pode levar produtores estrangeiros a redirecionar seus fluxos comerciais para outros mercados — e enfraquecer a posição dos Estados Unidos como centro global de consumo.