O gabinete político e de segurança de Israel aprovou, nesta sexta-feira, 8, um plano para assumir o controle da Cidade de Gaza. A informação provocou reações por parte de diversos países e organizações mundiais. Entretanto, uma dúvida ainda cresce diante da guerra: a quem pertence a Faixa de Gaza?
A Faixa de Gaza é uma estreita faixa costeira no Oriente Médio, localizada na margem leste do mar Mediterrâneo. Com cerca de 365 km², ou um quarto da área da cidade de São Paulo, o território faz fronteira com Israel ao norte e leste, e com o Egito ao sul. Densamente povoada — com mais de 2 milhões de habitantes — Gaza se tornou um dos principais focos de tensão política, religiosa e militar do século 21.
Desde outubro de 2023, a região voltou ao centro do noticiário global após um ataque do grupo terrorista Hamas a Israel, que controla Gaza desde 2007. Durante um evento ao sul de Israel, combatentes do grupo ultrapassaram a fronteira, matando e sequestrando milhares de civis israelenses. A ofensiva resultou em uma resposta militar massiva por parte de Israel, com bombardeios intensos e operação terrestre, que perdura até hoje.
Hegemonia em disputa: de império a conclave
A ofensiva reacendeu o debate sobre a soberania da Faixa de Gaza. Para a Organização das Nações Unidas (ONU) o território pertence aos palestinos que, para a ONU, teriam direito a criar um Estado ali. Desde 2007, o Hamas, um grupo considerado como terrorista pelos Estados Unidos, Israel e diversos outros países, assumiu o governo da região e controla entidades públicas locais, como o serviço de saúde e educação.
Historicamente, a Faixa de Gaza já foi controlada por diversos atores. Do século 16 até 1917, fez parte do Império Otomano.
Após a Primeira Guerra Mundial, passou a integrar o Território Britânico da Palestina. Com a criação do Estado de Israel, em 1948, o território ficou sob administração do Egito — que manteve o controle até a Guerra dos Seis Dias, em 1967, quando Gaza foi ocupada por Israel.
A ocupação israelense durou até os Acordos de Oslo, em 1993, que transferiram parte da administração à recém-criada Autoridade Palestina. Em 2005, Israel retirou soldados e assentamentos da Faixa, mas manteve o controle sobre fronteiras, espaço aéreo e águas territoriais.
Segundo o relatório History of the Question of Palestine, das Nações Unidas, essa retirada não encerrou o domínio israelense. O documento afirma que o bloqueio contínuo representa uma forma indireta de “ocupação”, com impactos severos sobre a circulação de pessoas, o comércio e a entrada de suprimentos.
ONU reforça posição contra ocupação
Em 2024, a Assembleia Geral da ONU aprovou uma resolução exigindo o fim da “presença ilegal” de Israel em Gaza e nos demais territórios palestinos ocupados.
A decisão foi embasada por um parecer consultivo do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) e incluiu pedidos de reparações pelos danos e retorno dos palestinos deslocados.
A intensificação do bloqueio, especialmente após a ascensão do Hamas, tem agravado a crise humanitária na região.
Organizações como Human Rights Watch e Médicos Sem Fronteiras apontaram escassez de água potável, energia, medicamentos e liberdade de movimento. O sistema de saúde opera em colapso, com hospitais sobrecarregados e alvos de ataques durante os combates.
O papel do Brasil no conflito
“A comunidade internacional não pode permanecer inerte diante das atrocidades em curso. O Brasil considera que já não há espaço para ambiguidade moral nem omissão política”, afirmou o ministério em nota. Segundo o Itamaraty, a impunidade enfraquece o direito internacional e compromete o sistema multilateral.
A decisão provocou reação imediata da Confederação Israelita do Brasil (Conib), que classificou a ação como “equivocada” e sem base legal. Para a entidade, a acusação de genocídio em Gaza é infundada e o posicionamento do governo Lula rompe com a tradição de equilíbrio da diplomacia brasileira.