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Primeira negociação entre Rússia e Ucrânia durou menos de duas horas e termina sem anúncio de acordo

Representantes dos dois países ficaram frente a frente por cerca de 90 minutos durante encontro mediado pela Turquia em Istambul

Delegação ucraniana na Turquia é liderada pelo ministro da Defesa, Rustem Umerov (Ministério das Relações Exteriores da Turquia via AFP)

Delegação ucraniana na Turquia é liderada pelo ministro da Defesa, Rustem Umerov (Ministério das Relações Exteriores da Turquia via AFP)

Agência o Globo
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Agência de notícias

Publicado em 16 de maio de 2025 às 10h56.

A primeira negociação direta entre Rússia e Ucrânia em três anos sobre o maior conflito europeu desde a Segunda Guerra Mundial durou menos de duas horas. As comitivas de Kiev e Moscou ficaram cerca de 90 minutos frente a frente nesta sexta-feira, 16, em Istambul, sem que nenhum anúncio de acordo tenha sido feito ao final da reunião.

Fontes diplomáticas afirmam que uma nova rodada ainda pode ser realizada antes do fim do dia, embora não houvesse nada agendado previamente.

O encontro mediado pela Turquia aconteceu no Palácio Dolmabahçe, construção histórica do Império Otomano às margens do Bósforo. Fontes diplomáticas ucranianas ouvidas sob sigilo por agências internacionais revelaram um pouco das questões levantadas durante o encontro, incluindo uma tentativa de Kiev de fechar um compromisso para um encontro entre os presidentes Volodymyr Zelensky, da Ucrânia, e Vladimir Putin, da Rússia.

Uma fonte ucraniana ouvida pela agência de notícias francesa AFP afirmou que os representantes russos colocaram como condição para um cessar-fogo que a Ucrânia retirasse suas tropas de parte do território em disputa, termo apontado por Kiev como uma tentativa de inviabilizar as tratativas.

— Representantes russos estão apresentando exigências inaceitáveis... como a retirada de forças da Ucrânia de grande parte do território ucraniano que controla para que um cessar-fogo possa ser iniciado — disse.

Reunido com líderes europeus na capital da Albânia, Tirana, Zelensky, pediu uma ação "forte" do Ocidente contra Moscou, incluindo novas sanções, caso as negociações de paz em Istambul não produzissem avanços.

— Tínhamos uma chance real de dar passos importantes para acabar com esta guerra, se Putin não tivesse tido medo de vir à Turquia — disse Zelensky. — Se a delegação russa for realmente apenas figuração e não conseguir apresentar nenhum resultado hoje... é necessária uma reação forte, incluindo sanções contra o setor energético e os bancos russos.

A imposição de novas sanções é algo que divide os aliados da Otan dos dois lados do Atlântico. Os EUA têm defendido uma abordagem menos duro — em alguns momentos vista como simpática — a Moscou, alegando que é a única forma de avançar para um diálogo. Os países europeus defendem fazer um jogo-duro contra a Rússia, aumentando a pressão para forçar o fim da guerra. Alguns líderes europeus defenderam a abordagem nesta sexta.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, prometeu "aumentar a pressão até que o presidente Putin esteja pronto para a paz", afirmando que um novo pacote de sanções já estava em negociação. O presidente da França, Emmanuel Macron, acusou Moscou de "não ter desejo" por um cessar-fogo, dizendo que "se não houver aumento da pressão dos europeus e dos americanos para alcançar esse resultado, ele não acontecerá por si só".

O chanceler alemão, Friedrich Merz, que demonstrou preocupação com um plano europeu discutido na semana passada sobre interromper a compra de gás natural da Rússia via gasodutos Nordstream 1 e 2, classificou nesta sexta-feira as negociações diretas entre a Rússia e a Ucrânia como um sinal positivo "muito pequeno" no conflito.

— O fato de eles se reunirem hoje, a primeira vez em três anos e meio, é um sinal positivo muito pequeno, mas inicial — disse Merz no encontro em Tirana.

Modulação dos EUA

O secretário de Estado americano, Marco Rubio, com os chefes da diplomacia turca, Hakan Fidan, e ucraniano, Andriy Sybiga (Ministério das Relações Exteriores da Turquia via AFP)

Em uma breve mudança de tom, o secretário de Estado americano, Marco Rubio, afirmou nesta sexta-feira que a Rússia deve interromper o "massacre" contra a Ucrânia antes que representantes dos dois países se reúnam para negociar um acordo de paz. A declaração, feita em Istambul em um encontro com representantes diplomáticos turcos e ucranianos, aconteceu pouco antes do início das tratativas.

O comentário de Rubio foi destacado pela porta-voz do Departamento de Estado americano, Tammy Bruce, que afirmou que o chefe da diplomacia americana apenas "reiterou a posição dos EUA de que é necessário por fim ao massacre". Washington não se posicionou na semana passada, quando a Ucrânia e aliados europeus pressionaram a Rússia a concordar com um cessar-fogo incondicional de 30 dias e abrir negociações de paz.

Apesar do marco de primeiro contato diplomático direto desde 2022, a expectativa de que a negociação produzisse resultados significativos era baixa — o próprio presidente dos EUA, Donald Trump, afirmou que qualquer avanço só aconteceria quando ele e o líder russo, Vladimir Putin, se encontrassem. Cumprindo sua primeira agenda externa em viagem ao Oriente Médio, Trump disse na quinta-feira que Putin não viajou à Turquia porque sabia que ele não estaria também presente. Ele também disse que nada iria acontecer em sua ausência. Nesta sexta, porém, afirmou que pretende se encontrar com o homólogo "assim que possível".

— Assim que conseguirmos organizar, eu sairia daqui e iria — disse Trump em resposta a uma pergunta sobre uma possível reunião com o presidente russo.

Antes do início da reunião, uma fonte diplomática ucraniana ouvida pela agência de notícias francesa AFP afirmou que a delegação de Kiev planejava discutir um possível encontro de Zelensky com Putin. Em Moscou, o Kremlin fez um aceno para a participação do líder russo em negociações, mas com o presidente americano, Donald Trump.

— Os contatos entre os presidentes Putin e Trump são extremamente importantes no contexto do acordo ucraniano — afirmou o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, acrescentando que "um encontro é sem dúvida necessário". (Com AFP e NYT)

 

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