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Prêmio Nobel da Paz: relembre quem foram os vencedores na última década

Com a nomeação desse ano acontecendo amanhã, o Nobel da Paz pode ser um símbolo de esperança em um ano cercado por conflitos armados, comerciais e altas tensões entre as maiores potências

Líderes da UE se reúnem para a cerimônia do Prêmio Nobel da Paz em Oslo, na Noruega, em 10 de dezembro   (Heiko Junge/AFP)

Líderes da UE se reúnem para a cerimônia do Prêmio Nobel da Paz em Oslo, na Noruega, em 10 de dezembro (Heiko Junge/AFP)

Publicado em 10 de outubro de 2025 às 05h00.

O ganhador do Prêmio Nobel da Paz de 2025, uma das maiores premiações mundiais, será anunciado nesta sexta-feira, 10.

A lista oficial de candidatos para o prêmio é mantida em segredo pela Organização Nobel, que anuncia apenas o ganhador. Os outros concorrentes são revelados somente após 50 anos da data da premiação.

Com isso, é difícil especular quem pode vir a ganhar o prêmio amanhã. Todavia, podemos relembrar e celebrar os vencedores da última década e os motivos pelos quais venceram. Veja a lista a seguir.

2015 – O Quarteto de Diálogo Nacional da Tunísia

O quarteto é um grupo de quatro organizações da sociedade civil da Tunísia que foram os principais mediadores e proponentes da volta da democracia na Tunísia, após a Revolução de Jasmim, que tomou conta do país em 2010 e 2011.

Também chamada de Revolução Tunisiana, ela foi uma série de manifestações insurrecionais contra o governo da Tunísia, que resultou na fuga do então presidente Ben Ali para a Arábia Saudita. Nos momentos de inquietação política que se seguiram, o Quarteto prestou um papel crucial para o restabelecimento da democracia no país.

2016 – Juan Manuel Santos, presidente da Colômbia

O presidente colombiano Juan Manuel Santos foi o ganhador do prêmio em 2016, por um acordo de paz que colocou fim ao confronto com as Farc, que assolava o país há mais de 50 anos.

O conflito era travado entre o governo do país, auxiliado por grupos paramilitares de extrema-direita e certos sindicatos do crime e grupos de guerrilha de extrema-esquerda, por influência política na Colômbia, desde 1964.

Em 2016, o presidente Juan Manuel Santos foi capaz de ratificar um tratado de paz entre os grupos, que foi simbolicamente assinado em branco para representar a paz. A Organização o premiou por “seus esforços resolutos em trazer a guerra civil que dourou mais de 50 anos para um fim.”

2017 – Campanha Internacional Pela Abolição de Armas Nucleares

A Campanha Internacional Pela Abolição de Armas Nucleares é uma ordem de grupos da sociedade civil criada originalmente em Melbourne, na Austrália, com sede em Genebra, na Suíça. Como o nome sugere, o grupo trabalha para promover e gerar aderência a abolição de armamentos nucleares.

Em 2017, a organização teve papel fundamental a criação do Tratado de Proibição de Armas Nucleares, e trabalha até hoje para promovê-lo.

A Organização do Prêmio Nobel nomeou a campanha por “seu trabalho para chamar a atenção para as consequências humanitárias catastróficas de qualquer uso de armas nucleares e pelos seus esforços pioneiros para alcançar uma proibição baseada em tratados dessas armas.”

2018 – Denis Mukwege e Nadia Murad

A premiação de 2018 teve dois ganhadores: o ginecologista e pastor Denis Mukwege, da República Democrática do Congo, e Nadia Murad, do Iraque.

Mukwege conseguiu seu prêmio por ter tratado milhares de vítimas de abuso sexual, realizando mais de 10 operações por dia. Ela trabalhava por mais de 17 horas diárias. Por expressar vocalmente seu desejo de justiça pelas vítimas, que foram estupradas como arma durante a Segunda Guerra do Congo, recebeu ameaças de assassinato.

Murad, por sua vez, foi sequestrada durante um massacre perpetrado pelo Estado Islâmico, que visava aniquilar membros da etnia Yazidi. Foi mantida em cativeiro como escrava sexual por três meses juntamente com outras mulheres e garotas Yazidi. Uma vez liberta, fundou a Iniciativa da Nadia, que visa ajudar mulheres e crianças vítimas de genocídio, atrocidades e tráfico humano.

Os dois foram premiados com o Nobel da Paz em 2018: “pelos seus esforços para acabar com o uso da violência sexual como arma de guerra e conflito armado.”

2019 – Abiy Ahmed

Ahmed, político da Etiópia, recebeu o prêmio em 2019 devido ao seu importante papel em trazer paz aos conflitos entre Etiópia e a Eritréia, que ocorriam desde 1998. Cerca de 100.000 pessoas perderam suas vidas nessa disputa.

O conflito evoluiu de escaramuças fronteiriças por território, especialmente pelo controle da cidade de Badme. Por anos, ambos atores foram incapazes de chegar em uma resolução.

Ahmed demonstrou grande altruísmo ao aceitar na íntegra uma proposta de paz, por mais que essa envolvesse ceder a cidade de Badme para a Eritreia.

A Organização o premiou “pelos seus esforços em prol da paz e da cooperação internacional e, em particular, pela sua iniciativa decisiva para resolver o conflito fronteiriço com a vizinha Eritreia.”

2020 – Programa Mundial de Alimentos

O prêmio em 2020 foi dado a uma organização, o Programa Mundial de Alimentos (World Food Programme), agência de auxílio das Nações Unidas, com base em Roma, na Itália.

Fundado em 1961, o programa hoje alimenta mais de 90 milhões de pessoas necessitadas em todo o mundo por ano, sendo 58 milhões delas crianças. Com uma força de 21.700 trabalhadores, o programa atua em 120 países e territórios.

Além disso, ajudam na produção de alimentos nessas regiões para que se tornem autossuficientes e também atuam na preparação e no choque de desastres climáticos.

O programa recebeu o prêmio “por seus esforços no combate à fome, por sua contribuição para melhorar as condições de paz em áreas afetadas por conflitos e por atuar como força motriz nos esforços para impedir o uso da fome como arma de guerra e conflito.”

2021 – Maria Ressa e Dmitry Muratov

2021 viu mais uma premiação dupla: Maria Ressa, das Filipinas, e Dmitry Muratov, da Rússia.

Maria Ressa, jornalista das Filipinas, ganhou prominência por ter fundado o veículo jornalístico Rappler, em 2012, que se tornou um bastião contra as fake news e fez uma cobertura crítica do governo de Rodrigo Duterte.

Ressa chegou a ter problemas com a lei sob a administração de Duterte,, que impunha censura e perseguia jornalistas.

Muratov, também jornalista, lutou a censura na Rússia com seu veículo Novaya Gazeta, fundado em 1993. Ele e seus colegas tinham como objetivo estabelecer uma fonte de informação ‘honesta, independente e rica’ para os cidadãos da Rússia e passaram a conduzir investigações sobre violações de direitos humanos, corrupção e abuso de poder.

A Organização os premiou “pelos seus esforços em prol da liberdade de expressão, que é uma condição prévia para a democracia e a paz duradoura.”

2022 – Ales Bialiatski, Memorial, Centro de Liberdades Civis

2022 viu uma premiação tríplice, de um indivíduo e duas organizações.

Ales Bialiatski, um ativista pró-democracia e direitos humanos da Bielorrússia, diretor do centro de direitos humanos de Viasna, lutou pela democracia e independência de seu país desde a década de 1980. Foi preso diversas vezes.

A Memorial é uma organização internacional pelos direitos humanos sem fins lucrativos fundada na Rússia em 1989, durante a União Soviética, e se dedica a relembrar e investigar violações de direitos humanos durante o regime de Stálin.

A organização promove a sociedade civil e a democracia na Rússia, informa o público e busca estabelecer firmemente os direitos humanos na sociedade.

O Centro de Liberdades Civis, fundado em 2007, é outra organização de direitos humanos, dessa vez ucraniana, e luta pela democracia em seu país. Também é famosa por reportar perseguição política e violações dos direitos humanos, tanto na Ucrânia quanto nas zonas de guerra invadidas pela Rússia.

A Organização os premiou, pois “Os laureados com o Prêmio da Paz representam a sociedade civil em seus países de origem. Há muitos anos, eles promovem o direito de criticar o poder e proteger os direitos fundamentais dos cidadãos. Eles têm feito um esforço notável para documentar crimes de guerra, violações dos direitos humanos e abuso de poder. Juntos, eles demonstram a importância da sociedade civil para a paz e a democracia.”

2023 – Narges Mohammadi

O prêmio de 2023 foi para a ativista de direitos humanos iraniana Narges Mohammadi, vice-presidente do Centro de Defensores dos Direitos Humanos.

Mohammadi é conhecida por promover a desobediência civil feminista e luta fortemente contra o uso obrigatório do hijab, tornando-se um ícone para a igualdade de gênero e o direito das mulheres.

Foi presa em 2016 por alegadamente ter fundado e operado um grupo dissidente ilegal chamado Legam. Durante sua prisão, reportou extensivamente sobre o abuso contra as mulheres e sobre o confinamento solitário desumano.

Durante seu cárcere, recebeu o Prêmio Nobel da Paz, “pela sua luta contra a opressão das mulheres no Irã e pela sua luta para promover os direitos humanos e a liberdade para todos.”

O governo do Irã condenou sua premiação. Mohammadi continua presa até hoje.

2024 – Nihon Hidankyo

Por fim, o ano passado viu a premiação de outra organização: dessa vez, a japonesa Nihon Hidankyo, fundada em 1956, que tem como foco a representação dos sobreviventes dos bombardeios de Hiroshima e Nagasaki.

Dentro do Japão, a organização luta por melhores condições e suporte para os sobreviventes, hoje idosos. Além disso, guardam e recordam suas histórias e os ajudam em apelos públicos.

Internacionalmente, a organização é conhecida por ser forte proponente da abolição de armas nucleares. Regularmente envia representantes para debater a pauta nas Nações Unidas.

Recebeu a premiação “por seus esforços para alcançar um mundo livre de armas nucleares e por demonstrar, por meio de depoimentos de testemunhas, que as armas nucleares nunca mais devem ser utilizadas.”

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