Área em Teerã atacada por bombardeio israelense, em 13 de junho (Meghdad Madadi/AFP)
Repórter de macroeconomia
Publicado em 13 de junho de 2025 às 17h39.
Última atualização em 13 de junho de 2025 às 17h50.
Há mais de dez anos, alguns dos países mais poderosos do mundo tentam conter o programa nuclear do Irã. Os esforços diplomáticos não funcionaram, e agora Israel decidiu partir para uma ação militar completa, com uma série de ataques militares, iniciada na sexta-feira, 13.
Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, fez um discurso na TV e disse que o Irã teria enriquecido urânio suficiente para equipar bombas. Segundo ele, o país teria tido avanços sem precedentes nos últimos meses, e que teria fabricado ainda um estoque massivo de mísseis, capazes de atacar Israel.
"Não podemos deixar estas ameaças para a próxima geração, porque se não agirmos agora, não haverá próxima geração. Não simplesmente não vamos estar aqui", afirmou.
Apesar da força militar de Israel e do poder de seus órgãos de espionagem, acabar com o programa nuclear iraniano não é tarefa fácil. O Irã adotou várias táticas para proteger os locais onde realiza as pesquisas nucleares, como a de construir instalações subterrâneas, inclusive embaixo de uma montanha.
"Acredita-se que as principais instalações nucleares no Irã, como Natanz, sejam fortificadas e fiquem sob algumas camadas de concreto armado, e Fordow foi construído dentro de uma montanha", afirma Daniel Byman, diretor de Táticas de Guerra no Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), baseado em Washington, em um artigo.
Instalações nucleares de Fordow, no Irã, em imagem de satélite (Maxar Technologies /AFP)
Byman avalia que a onda de ataques desta sexta pode gerar danos marginais, e que mais bombardeios seriam necessários para danificar de fato as instalações iranianas mais protegidas.
"Algumas dessas instalações podem exigir múltiplos ataques com munições israelenses. Embora Israel tenha demonstrado sua capacidade de superar as defesas aéreas iranianas, alguns desses sistemas exigem ataques adicionais para serem desativados, o que aumenta o risco de perda de aeronaves israelenses", aponta o diretor.
Países mais próximos ao Irã, como Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos, não permitem que Israel use suas bases para lançar ataques, o que dificulta as operações. Os EUA também não deram apoio à operação israelense.
"Os Estados Unidos possuem munições que podem ser capazes de atingir esses alvos, mas Israel não", disse Ken Pollack, ex-diretor do Conselho de Segurança Nacional dos EUA e vice-presidente no think tank Middle East Institute, durante entrevista coletiva nesta sexta.
"Há razões para acreditar que os israelenses possam estar pensando em uma operação de Forças Especiais. Eles podem ter planos relacionados a ataques cibernéticos", afirmou.
Mesmo com danos em instalações e a morte de cientistas envolvidos no projeto, especialistas apontam que o Irã ainda pode seguir com seu programa nuclear nos próximos anos.
"O ataque israelense de junho de 1981 ao reator Osirak, no Iraque, foi inicialmente visto como um sucesso. No entanto, análises de registros iraquianos indicam que ele desencadeou uma série de esforços secretos e aumentou o risco de proliferação nuclear a longo prazo. As consequências do ataque israelense ao Irã poderiam ser semelhantes", diz Byman, do CSIS.
Possuir uma bomba atômica é uma forma de dissuadir outros países de atacar, assim como aumentar o respeito internacional de quem as possui.
A obtenção desta tecnologia, no entanto, é restringida por tratados internacionais, por causa de seu alto poder destrutivo. As bombas nucleares são as armas explosivas mais fortes já inventadas pela humanidade. Elas são capazes de destruir cidades inteiras e matar milhares de pessoas de uma vez, dado seu alto poder de explosão.
Estas bombas foram usadas apenas duas vezes na história, contra as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, em 1945. Nos anos seguintes, foram criados tratados para impedir a proliferação dessas armas, e países que descumprem as regras sofrem punições internacionais, como sanções. Mesmo assim, países como Índia e Paquistão obtiveram bombas nucleares.
Atualmente, nove países são reconhecidos por possuírem armas nucleares: Estados Unidos, Rússia, China, França, Reino Unido, Índia, Paquistão, Israel e Coreia do Norte. O Brasil não possui armas nucleares.
O Irã diz que pesquisa energia nuclear para fins pacíficos. Uma das principais diferenças entre os dois usos é o nível de enriquecimento. Reatores em usinas usam urânio enriquecido a até 5%. Para uma bomba, é preciso chegar a 90%. Além disso, é preciso dominar a tecnologia para criar mísseis capazes de transportar e detonar o material nuclear.
Em 2015, o Irã fechou um acordo com os Estados Unidos e outros países europeus para limitar seu programa nuclear em troca do alívio de sanções econômicas.
No entanto, em seu primeiro mandato, em 2018, o presidente Donald Trump retirou os EUA do acordo, porque o Irã estaria descumprindo os termos, o que inviabilizou o tratado. Desde então, tenta-se negociar um novo acordo, mas sem sucesso.