Javier Milei, presidente da Argentina, durante comício eleitoral (Luis Robayo/AFP)
Repórter de macroeconomia
Publicado em 23 de outubro de 2025 às 12h29.
O próximo domingo, 26, é uma das datas mais aguardadas do ano na Argentina. Neste dia, haverá eleições legislativas, que renovarão o Congresso e, na prática, serão uma espécie de referendo, em que a população argentina poderá dizer se deseja que o presidente Javier Milei continue com suas políticas de austeridade.
Em caso de derrota, Milei terá que passar os dois anos finais do mandato sem força para aprovar reformas e com o risco de ter seus decretos derrubados pelos parlamentares. Assim, suas medidas para conter a inflação, abrir a economia e atrair investimentos poderão ser interrompidas.
"Esta eleição poderá ser um divisor de águas para a economia da Argentina e para o governo Milei. Caso ele não consiga um bom resultado, vai ficar bem difícil para ele continuar com seu projeto de governo e se reeleger em 2027", diz Flávio Vegas, especialista de produto da gestora Global X, que acompanha o mercado argentino.
O plano de Milei para conter a inflação, que baixou do patamar de 20% ao mês para cerca de 2%, depende da aprovação e da manutenção de cortes de gastos públicos e da atração de mais dólares ao país, para aumentar as reservas do Banco Central e pagar dívidas. No entanto, parte das medidas são impopulares, porque reduzem o poder de compra da população.
Nos últimos anos, o país firmou acordos bilionários com o FMI e, neste mês, obteve apoio de US$ 20 bilhões do governo dos EUA, por meio de um acordo de swap cambial. Na prática, os americanos compraram pesos argentinos e pagaram em dólares.
Além disso, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, condicionou o apoio financeiro à Argentina ao sucesso de Milei nas eleições. "Estamos aqui para te dar apoio nas próximas eleições. Se a Argentina vai bem, outros países a seguirão. Mas se não ganhar, não contará conosco. Se perder, não seremos generosos", disse Trump, no dia 14.
O ministro da Economia da Argentina, Luis Caputo, disse, na quarta-feira, 22, que as eleições legislativas de meio de mandato são "mais importantes do que as presidenciais de 2027". "O mundo está olhando para estas eleições, quer ver nosso povo revalidar este curso", disse o ministro na Bolsa de Comércio de Córdoba.
O partido de Milei busca conseguir ao menos um terço dos assentos na Câmara e no Senado. Assim, com apoio de aliados como o PRO, terá força para aprovar medidas e barrar ações da oposição.
Hoje, o partido do presidente tem apenas 36 dos 257 assentos na Câmara dos Deputados, e a coalizão de apoio a Milei tem 79 membros. No Senado, o partido de Milei tem sete senadores, de um total de 72 assentos. O bloco governista soma 14 senadores. Assim, há dependência do apoio de outros partidos para aprovar pautas.
Tanto Milei quanto a oposição colocam a eleição como decisiva, como forma de atrair mais eleitores.
"A Liberdade Avança ou a Argentina retrocede", é o principal lema da campanha do partido de Milei, chamado La Libertad Avanza em espanhol.
Do outro lado, na oposição, cujo principal expoente é a coalizão Fuerza Patria, de esquerda, que promete ser "um freio a Milei".
Há, ainda, uma terceira via, chamada Províncias Unidas. Capitaneada por seis governadores, a legenda busca ser uma alternativa à polarização atual na Argentina. Os governadores da plataforma são Claudio Vidal (Santa Cruz), Ignacio Torres (Chubut), Martín Llaryora (Córdoba), Maximiliano Pullaro (Santa Fe) e Carlos Sadir (Jujuy).
O grupo foi lançado no fim de julho e espera conquistar em torno de 20 cadeiras na Câmara, de um total de 237. Com isso, a nova legenda chegaria perto de 10% da Casa.
Uma pesquisa eleitoral divulgada pelo Instituto Rubikon Intel e publicada pelo jornal Clarín nesta quarta-feira, 15, mostra uma disputa apertada, com o LLA, de Milei, somando 34,6% dos votos, ante 32,2% da Força Pátria. O Províncias Unidas vem em terceiro, com 5,7% dos votos. A pesquisa ouviu 1.235 pessoas entre os dias 11 e 12 de outubro.
A pesquisa perguntou ainda a opinião dos argentinos sobre o governo Milei. Dentre os entrevistados, 37,2% consideram sua gestão com positiva, e 47,4% como negativa. Além disso, para 35% dos entrevistados, o país está indo na direção correta, e 46,2% acham que a Argentina está no caminho errado.
A lei eleitoral argentina proíbe a divulgação de novas pesquisas eleitorais nos dias anteriores à votação.
As eleições nacionais legislativas na Argentina são realizadas a cada dois anos e as presidenciais, a cada quatro anos.
Em 2025, haverá apenas eleições legislativas, que renovarão parte das cadeiras de deputados e senadores. Estão em jogo 127 das 257 cadeiras do Congresso e 24 dos 72 assentos do Senado.
Milei foi eleito em 2023 e tem mandato até 2027, quando haverá eleições presidenciais. Como este é seu primeiro mandato, ele poderá disputar a reeleição.
Nas eleições legislativas, a Argentina adota um sistema de votação por listas. Em cada distrito, os partidos apresentam listas com a ordem de seus candidatos a serem eleitos, sem que os eleitores possam alterá-la.
Assim, por exemplo, se o partido X recebe votos suficientes para eleger cinco deputados naquele distrito, os cinco primeiros nomes da lista obtêm os cargos.
Na apuração, contam-se os votos por partido. Legendas com menos de 3% do total de votos não têm direito a assentos naquele distrito. A distribuição dos votos é feita pelo método d’Hondt, que busca repartir os votos segundo algumas equações complexas.
As urnas fecham às 18h de domingo e os primeiros resultados devem ser conhecidos por volta das 19h30. Na última eleição, em 2023, a apuração atingiu 85% do total às 22h30.
As pesquisas de boca de urna só podem ser divulgadas depois das 21h, três horas após o fechamento das urnas.