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Pausa nas tarifas de Donald Trump provoca congestionamento em portos da Europa

Tempo de espera para atracar navios sobe até 77% em meio à corrida para levar produtos da China para os EUA e, também, para aproveitar a trégua em sobretaxa a europeus

Congestionamento em portos-chave do norte da Europa está se agravando (Westend61/Getty Images)

Congestionamento em portos-chave do norte da Europa está se agravando (Westend61/Getty Images)

Agência o Globo
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Agência de notícias

Publicado em 27 de maio de 2025 às 11h12.

Um novo relatório da consultoria marítima Drewry revela que o congestionamento em portos-chave do norte da Europa está se agravando, com riscos de se espalhar para a Ásia e os EUA – o que pode pressionar as taxas de frete marítimo.

Em Bremerhaven, na Alemanha, o tempo de espera por atracação saltou 77% entre março e meados de maio. Antuérpia, na Bélgica, e Hamburgo, na Alemanha, registraram aumentos de 37% e 49%, respectivamente, enquanto Roterdã, na Holanda, e Felixstowe, no Reino Unido, também enfrentam atrasos crescentes.

Os principais culpados são a escassez de mão de obra e os baixos níveis do rio Reno, que prejudicam o transporte por barcaças. A situação piorou com a suspensão temporária das tarifas de 145% sobre importações chinesas pelo governo Trump, que antecipou a demanda por fretes entre as duas maiores economias do mundo.

“Os atrasos nos portos estão alongando os tempos de trânsito, atrapalhando o planejamento de estoques e levando os embarcadores a manter estoques extras”, disse a Drewry. “Para piorar, o comércio transpacífico no sentido leste já dá sinais de alta temporada antecipada, impulsionado por uma pausa de 90 dias nas tarifas entre EUA e China, com vencimento em 14 de agosto.”

Padrões semelhantes estão surgindo em Shenzhen, na China, assim como em Los Angeles e Nova York, “onde o número de navios porta-contêineres aguardando atracação vem aumentando desde o final de abril”, informou a Drewry.

Rolf Habben Jansen, CEO da Hapag-Lloyd, afirmou em webinar que, apesar de melhoras recentes em portos europeus, a normalização deve levar "mais 6 a 8 semanas".

Disputa entre EUA e UE

A política tarifária dos EUA — com ameaças e tréguas repentinas — dificultam o planejamento de pedidos por importadores e exportadores, causando oscilações sazonais incomuns na demanda. Para as empresas de transporte marítimo, isso resulta em atrasos e custos maiores, o que exige aumentos nas tarifas de frete.

O golpe mais recente à previsibilidade veio na sexta-feira, quando Trump ameaçou impor uma tarifa de 50% à União Europeia em 1º de junho. No entanto, ele recuou no fim de semana, adiando o prazo para 9 de julho após uma ligação com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.

Com pouco mais de seis semanas até que as tarifas mais altas possam entrar em vigor, os volumes de carga transatlântica devem aumentar.

— Os embarcadores têm ainda mais incentivo para enviar o que puderem aos EUA antes da nova tarifa — disse Emily Stausbøll, analista sênior de transporte na Xeneta, plataforma digital de frete com sede em Oslo.

A incerteza política adicional será um peso morto para a atividade global, ao aumentar os riscos em decisões de investimento, segundo nota da Oxford Economics divulgada no sábado. Alemanha, Irlanda, Itália, Bélgica e Países Baixos são os países mais vulneráveis, dado o peso das exportações para os EUA em relação ao seu PIB, informou a consultoria.

A Bloomberg Economics afirmou na sexta-feira que tarifas adicionais de 50% provavelmente reduziriam as exportações da UE para os EUA a quase zero para todos os produtos sujeitos a tarifas recíprocas, cortando as exportações totais da UE para os EUA em mais da metade.

A crescente incerteza sobre se Trump realmente cumprirá essa ameaça comercial ou se a adiará novamente aumenta ainda mais a pressão sobre o transporte marítimo.

Empresas como a MSC Mediterranean, a maior linha de contêineres do mundo, já anunciaram aumentos nas tarifas e sobretaxas de alta temporada, com início em junho, para cargas vindas da Ásia.

Nas próximas semanas, é provável que esses aumentos elevem as tarifas spot de frete marítimo, cujo custo continua pressionado pelas tensões geopolíticas.

Os navios cargueiros ainda evitam em grande parte o Mar Vermelho, onde os rebeldes houthis do Iêmen começaram a atacar embarcações no final de 2023, optando por navegar ao redor do sul da África para transportar mercadorias nas rotas que conectam Ásia, Europa e EUA.

Evitando 'congestionamentos massivos'

No webinar, Habben Jansen afirmou que ainda não é seguro cruzar o Mar Vermelho e indicou que qualquer eventual retomada de tráfego regular pelo Canal de Suez precisará ser gradual, talvez levando vários meses, para evitar sobrecarregar os portos com excesso de navios.

— Se, de um dia para o outro, realocarmos esses navios de volta pelo Suez, criaremos um congestionamento massivo em muitos portos — explica Jansen.

— Nossa abordagem seria, se for possível, fazer isso ao longo de um período maior, para que os portos não entrem em colapso, o que não é do interesse de ninguém.

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