Macron: mercado já precificou que a França continuará operando com um elevado déficit público, diz Gavekal (AFP)
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Publicado em 9 de setembro de 2025 às 16h34.
“Perder um primeiro-ministro pode ser considerado uma desgraça. Perder quatro em menos de dois anos é um desastre político.” Foi assim que Cedric Gemehl, analista de Europa da Gavekal Research, avaliou a renúncia de François Bayrou, primeiro-ministro francês, na segunda-feira, 8.
A análise é que Emmanuel Macron, presidente da França, está novamente sob forte pressão e que enfrentará dificuldades para ‘se livrar dos destroços’, e que há poucas esperanças de que as finanças públicas da França possam ser colocadas em um novo caminho tão cedo.
Com a queda do governo de Bayrou, a Gavekal afirma que Macron teria três opções: nomear um novo primeiro-ministro, convocar uma eleição legislativa antecipada ou renunciar e convocar uma nova eleição presidencial. Nesta terça-feira, 9, Macron optou pela primeira alternativa e escolheu Sébastien Lecornu como o novo primeiro-ministro do país.
O movimento feito por Macron reflete a história recente da França no processo rápido de formação de governo. Após a queda do governo de Michel Barnier, em 4 de dezembro de 2024, levou apenas nove dias para Macron nomear Bayrou como o novo primeiro-ministro. Depois disso, Bayrou levou mais 10 dias para formar seu governo.
A pressa pode ser explicada pela lei de finanças públicas, que estipula que o governo deve submeter seu projeto de orçamento ao parlamento na primeira terça-feira de outubro, o que este ano será no dia 7 de outubro. Segundo a Gavekal, o novo primeiro-ministro só poderá contar com o apoio de uma minoria centrista relativamente pequena na Assembleia Nacional, que está fragmentada.
“Para aprovar o projeto de orçamento, o novo primeiro-ministro terá, portanto, que fazer concessões aos políticos da oposição, seja à esquerda ou à direita. Inevitavelmente, isso implicará em diluir os planos de Bayrou para uma modesta consolidação fiscal”, diz Cedric Gemehl.
Bayrou havia proposto € 43,8 bilhões (US$ 238,05 bilhões) em cortes de gastos e aumentos de impostos combinados, o que equivale a 1,5 ponto percentual do PIB. “Este objetivo não era tão ambicioso quanto parecia. A proposta de consolidação fiscal não era absoluta, mas relativa às projeções de gastos e receitas sob um cenário de política sem mudança”, diz o analista.
Ele aponta que, ao comparar o saldo orçamentário de 2026 com o número de 2025, as propostas de Bayrou teriam reduzido o déficit público francês em 0,8 ponto percentual do PIB, de 5,4% do PIB em 2025 para 4,6% em 2026, o que, segundo a Gavekal, se mostrou inaceitável para a maioria dos deputados na Assembleia da França.
O caminho, segundo o analista, é que o governo de Sébastien Lecornu tenha que reduzir as ambições se quiser passar um novo orçamento pelo parlamento.
Para a Gavekal, caso o projeto de orçamento do novo governo seja rejeitado na Assembleia, o parlamento francês aprovará uma lei especial que prorrogará o orçamento de 2025 para 2026, até que uma nova lei orçamentária seja adotada.
Diante desse cenário, a Gavekal afirma que, do ponto de vista dos investidores, a conclusão é que a próxima fase da saga política francesa provavelmente transmitirá uma forte sensação de déjà vu para o mercado de títulos públicos do país. Isso porque o mercado já precificou que a França continuará operando com um elevado déficit público, uma vez que as condições políticas e econômicas impedirão qualquer consolidação fiscal significativa, ao menos até depois da próxima eleição presidencial, em abril de 2027.