Mundo

Morte de Miguel Uribe na Colômbia desorganiza a direita e amplia pressão sobre Petro

Senador que foi assassinado liderava as pesquisas eleitorais e agora haverá disputa por seus eleitores

Guarda Presidencial leva o caixão do senador Miguel Uribe, em cerimônia fúnebre em Bogotá, em 12 de agosto (Luis Acosta/AFP)

Guarda Presidencial leva o caixão do senador Miguel Uribe, em cerimônia fúnebre em Bogotá, em 12 de agosto (Luis Acosta/AFP)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 14 de agosto de 2025 às 13h32.

Última atualização em 14 de agosto de 2025 às 14h48.

A política da Colômbia vive uma dura tragédia, e os partidos de esquerda e direita ainda buscam formas de reagir a isso. Na segunda-feira, 11, o senador Miguel Uribe Turbay, pré-candidato a presidente, morreu após ficar dois meses internado em um hospital, Ele foi vítima de um ataque a tiros em junho, e liderava as pesquisas eleitorais.

Miguel Uribe, do partido Centro Democrático, era uma das principais vozes da oposição contra o presidente Gustavo Petro (do partido Colômbia Humana, de esquerda). O senador se lançou candidato em março, quando tinha cerca de 3% das intenções de voto. Ao participar de um ato de campanha na rua, em Bogotá, em 7 de junho, foi baleado na cabeça, por tiros disparados por um menor de idade. Ele passou dois meses internado e, neste período, subiu nas pesquisas e atingiu 13% das intenções de votos.

O senador liderava as pesquisas, mas em um cenário ainda bastante fragmentado, em que 16 nomes estão no páreo e 13 deles estão cima de 1% dos votos. Uma razão disso é que ainda falta tempo: a eleição presidencial ocorrerá em março de 2026.

Assim, uma das principais questões agora é a de quem herdará os votos do senador, que não havia indicado um aliado antes do ataque e nem teve condições para isso depois, pois ficou em coma durante o período de internação.

Para o analista político Juan Carranza, será importante analisar a postura da mulher de Turbay, Claudia Tarazona. "Há que seguir o que ela fará, se ela sinaliza quem é o herdeiro de Miguel Uribe", diz.

Há dois nomes em destaque nesta briga interna. Um deles é Vicky Davila, jornalista e apresentadora de TV, que somava 11,5% nas pesquisas em julho, e Abelardo de la Espriella, advogado que defende a linha dura contra o crime. Seu tom e sua aparência física lembram o presidente Nayib Bukele, de El Salvador.

Ao mesmo tempo, a direita teve outro baque recente, com a condenação do ex-presidente Álvaro Uribe a 12 anos de prisão domiciliar. Uribe, que não tem parentesco com Miguel, governou de 2002 a 2010 e foi considerado culpado de coagir testemunhas e de fraude, em um processo que o investigava por ligações com grupos paramilitares. O ex-mandatário diz ser inocente e que a condenação é política.

O ex-presidente era padrinho político de Miguel e havia dado seu apoio a ele em 2022, para sua primeira disputa ao Senado. Com isso, ele saiu na frente de vários outros nomes do partido que também queriam aquela candidatura.

"A direita ficou sem dois dos candidatos principais, e as outras expressões da direita que estão presentes têm pouca densidade eleitoral", diz Leonardo Trevisan, professor de Relações Internacionais da ESPM. "Em outras palavras, a direita não tem um candidato viável".

A crise de Petro

Do outro lado do espectro político, o presidente Gustavo Petro vive uma série de dificuldades. Ele venceu as eleições em 2022 e se tornou o primeiro presidente de esquerda do país, mas vive uma onda de forte impopularidade desde os primeiros meses no cargo.

Petro tenta fazer várias reformas de peso no país, mas não conseguiu avanço no Congresso. Uma delas propõe ampliar os direitos dos trabalhadores. O governo quer que a jornada de trabalho regular termine às 18h e não às 21h, como acontece atualmente, que certos trabalhos informais tenham acesso à previdência social e o estabelecimento de um fundo especial para garantir as aposentadorias dos trabalhadores rurais, entre outros.

As reformas não passaram no Congresso. Petro disse que as votações foram fraudulentas e tentou propor uma consulta popular sobre o tema, também barrada no Legislativo, em maio. Uma semana após o ataque a Miguel Uribe, em junho, Petro assinou um decreto para convocar a consulta popular de forma unilateral, mas a proposta foi derrubada pelo Senado pela segunda vez.

Apesar da dificuldade em avançar com as reformas, a esquerda governista está unida em torno de Gustavo Bolívar, ex-senador que ficou famoso como autor de livros e telenovelas. Ele estava em terceiro nas pesquisas, com 10,5% dos votos.

Ao mesmo tempo, investigações indicam que o assassinato de Miguel Uribe foi encomendado por um grupo de ex-guerrilheiros, dissidentes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), chamado Segunda Marquetália, que voltou a pegar em armas mesmo após o acordo de paz de 2016.

"Petro mantém uma disputa muito forte com grupos históricos das Farc que não aceitaram a política dele de conciliação", diz Trevisan, da ESPM. "Neste quadro, o alvo desse assassinato era impedir ou enfraquecer Petro na próxima disputa eleitoral no ano que vem", afirma.

Após o ataque, Petro foi questionado dentro e fora da Colômbia. O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, cobrou publicamente o líder colombiano pelo ataque. "O presidente Petro precisa reduzir a retórica inflamada e proteger as autoridades da Colômbia", disse, em comunicado em junho.

Petro, que não pode se reeleger, tem feito apelos pela paz na política do país e dito que as investigações sobre o assassinato irão até o fim, mas o clima segue pesado. A pedido da família de Miguel Uribe, nem o presidente, nem outros membros do governo compareceram ao funeral e às outras homenagens a ele.

Acompanhe tudo sobre:ColômbiaGustavo PetroAmérica Latina

Mais de Mundo

Putin e Trump se reúnem no Alasca para negociações sobre o fim do conflito na Ucrânia

Vírus do Nilo Ocidental se espalha pela Itália com 275 casos confirmados e 19 mortes

Martín Vizcarra, ex-presidente do Peru, é preso preventivamente por acusação de suborno

Por que o Mais Médicos está na mira do governo Trump?