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Ministro japonês renuncia após dizer que nunca comprou arroz

Declaração de Taku Eto gera indignação em meio à alta histórica no preço do grão e pressiona governo Ishiba às vésperas das eleições

Carolina Ingizza
Carolina Ingizza

Redatora na Exame

Publicado em 21 de maio de 2025 às 08h58.

O ministro da Agricultura do Japão, Taku Eto, renunciou ao cargo nesta quarta-feira, 21, após enfrentar forte pressão pública por afirmar que nunca precisou comprar arroz. O comentário, feito durante um evento político no fim de semana, gerou revolta no país, em meio à disparada dos preços do alimento.

"Acabei de entregar minha carta de renúncia ao primeiro-ministro Ishiba", disse Eto a repórteres na sede do governo. Ele reconheceu que fez uma "declaração extremamente inadequada em um momento em que os cidadãos sofrem com os altos preços do arroz".

A fala de Eto — de que recebia tanto arroz de apoiadores que poderia até vender — acendeu o estopim de uma crise política num momento já delicado para o premiê Shigeru Ishiba, cujo governo enfrenta a pior taxa de aprovação desde o início do mandato: 27,4%, segundo pesquisa Kyodo divulgada no domingo.

A inflação dos alimentos, puxada principalmente pelo arroz, tem sido uma das principais queixas da população. Segundo dados oficiais, o preço médio de um pacote de 5 kg de arroz vendido em supermercados chegou a 4.268 ienes (cerca de R$ 168) na semana encerrada em 11 de maio — quase o dobro em relação ao mesmo período do ano passado.

A alta é atribuída a uma combinação de fatores: colheitas ruins em 2023, demanda aquecida com o aumento do turismo, políticas que há décadas desestimulam a produção para manter os preços estáveis e uma base produtiva composta majoritariamente por pequenos agricultores idosos, com baixa eficiência.

Para tentar conter a crise, o governo liberou 300 mil toneladas de arroz de estoques emergenciais desde março, mas a medida teve pouco efeito. Importações também foram anunciadas — inclusive da Coreia do Sul, pela primeira vez em 25 anos —, mas a preferência dos japoneses por arroz local e as altas tarifas dificultam o impacto dessas compras.

A demissão de Eto é mais um golpe para Ishiba às vésperas das eleições para a Câmara Alta, em julho. O premiê nomeou o ex-ministro do Meio Ambiente, Shinjiro Koizumi, como novo chefe da pasta da Agricultura. "Neste momento, o foco absoluto é o arroz", disse Koizumi, que afirmou assumir o cargo com a mentalidade de ser "o ministro do arroz".

Oposição e eleitores criticaram a demora de Ishiba em agir. A renúncia só foi oficializada depois que cinco partidos oposicionistas apresentaram uma moção de censura contra Eto. “A decisão foi tardia e expôs a falta de liderança do primeiro-ministro”, avaliou o professor Hiroshi Shiratori, da Universidade Hosei, em entrevista à Reuters.

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