Dina Boluarte foi destituída da presidência (Bienvenido Velasco/EFE)
Agência de Notícias
Publicado em 10 de outubro de 2025 às 14h20.
O Ministério Público do Peru solicitou nesta sexta-feira, 10, ao Poder Judiciário que impeça por até 36 meses a saída do país da destituída presidenta Dina Boluarte. Ela foi removida do poder faltando seis meses para as eleições gerais pelos partidos de direita que controlam o Legislativo e que a mantiveram no cargo desde que assumiu a Presidência no final de 2022.
O Ministério Público encaminhou o pedido diante das numerosas investigações abertas contra Boluarte por crimes de suposta corrupção e violação dos direitos humanos durante os dois anos e quase dez meses em que exerceu a chefia de Estado, após suceder no cargo o esquerdista Pedro Castillo (2021-2022), de quem foi vice-presidenta.
A proibição de sair do país solicitada pelo Ministério Público está baseada em três das pelo menos onze investigações que a ex-mandatária enfrenta.
Assim, pediu essa medida por um prazo de 18 meses pelas investigações nas quais lhe é imputada negociação incompatível e aproveitamento indevido do cargo, e por um prazo de 36 meses naquela em que é investigada por suposta lavagem de dinheiro.
No primeiro caso, Boluarte "teria se interessado em designar funcionários no EsSalud (seguridade social) e em concretizar o pagamento de benefícios sociais para um dos amigos do médico que teria realizado nela operações cirúrgicas estéticas".
No outro caso, a agora ex-mandatária é investigada pela suposta "arrecadação de dinheiro destinado a pagar a reparação civil de Vladimir Cerrón", o líder do partido de orientação marxista Peru Livre com o qual Castillo e ela ganharam as eleições de 2021, e a quem supostamente Boluarte também ajudou para que permanecesse foragido da Justiça após ser condenado por corrupção.
Entre outros fatos que lhe são imputados está a morte de pelo menos 49 pessoas durante a repressão à onda de protestos que reclamava novas eleições após a detenção e prisão preventiva do presidente Castillo, a quem sucedeu por ser sua vice-presidenta e depois que o esquerdista protagonizou uma tentativa fracassada de golpe de Estado em 2022 para evitar ser também destituído.
Da mesma forma, Boluarte é investigada por supostamente receber presentes luxuosos como relógios Rolex não declarados, não informar que estaria impedida fisicamente para exercer o cargo quando se submeteu a uma série de cirurgias estéticas e falsificar a assinatura em vários decretos durante o tempo em que esteve convalescente.
Após se tornar conhecido que a mandatária seria destituída, surgiram rumores de que ela poderia ter sondado um eventual asilo em embaixadas de países estrangeiros como Argentina, Brasil e Equador, o que foi descartado por seu advogado pessoal, Juan Carlos Portugal, que nesta sexta-feira reiterou que Boluarte "nem está asilada nem está foragida, (ela) está em sua casa".
No entanto, dezenas de pessoas chegaram na noite de quinta-feira até a Embaixada do Equador em Lima para protestar contra Boluarte e tentar impedir um eventual ingresso da agora ex-governante na sede diplomática do país vizinho.
Boluarte, a primeira mulher a chegar a ser presidenta do Peru, foi destituída de maneira expressa e abrupta após perder o apoio dos partidos de direita que a sustentavam no poder, diante de sua enorme impopularidade, já que tinha apenas 3% de aprovação entre os peruanos segundo várias pesquisas, e da proximidade das novas eleições gerais convocadas para 2026.
A maioria dos líderes dos partidos que promoveram repentinamente a queda de Boluarte tem aspirações presidenciais, como o prefeito de Lima, o ultraconservador Rafael López Aliaga, do Renovação Popular; e Keiko Fujimori, a filha e herdeira política do ex-presidente Alberto Fujimori (1990-2000).
De maneira quase unânime, a destituição de Boluarte teve 123 votos a favor de um total de 130 congressistas, e em seu lugar assumiu de maneira interina a chefia de Estado o presidente do Congresso, José Jerí, do direitista Somos Peru, que se tornou o sétimo presidente do país desde 2016. EFE