Agência de notícias
Publicado em 7 de junho de 2025 às 19h39.
Milhares de pessoas protestaram em Tel Aviv neste sábado para exigir a libertação dos reféns ainda mantidos na Faixa de Gaza e um cessar-fogo após 20 meses de guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas.
Protestos dentro e fora do país ganham força à medida que a intensificação dos ataques no território palestino aumenta o número de mortos e mudanças no sistema de distribuição de alimentos aumentam a crise humanitária — uma missão com um carregamento de insumos tenta chegar ao enclave por mar, mas não tem garantias de que os militares israelenses permitirão a distribuição.
Os manifestantes se reuniram na Praça dos Reféns em Tel Aviv, e gritaram palavras de ordem como "o povo escolhe os reféns", além de defenderem que apenas um acordo abrangente que resgatasse os cativos restantes traria "a verdadeira vitória".
Einav Zangkauer, mãe do refém Matan Zangkauer, expressou sua indignação após o Hamas publicar uma foto de seu filho com a mensagem "ele não retornará vivo" em inglês e hebraico. Na imagem, ele aparenta estar com a saúde frágil.
— Não aguento mais este pesadelo. O anjo da morte, [o premier israelense, Benjamin] Netanyahu, continua sacrificando reféns, usando o Exército israelense não para proteger a segurança de Israel, mas para continuar a guerra e proteger seu governo. É uma vergonha — disse Einav.
Noam Katz, filha do refém Lior Rudaeff, declarado morto, mas cujo corpo permanece em Gaza, também discursou aos presentes e pediu o fim imediato das hostilidades.
— Não enviem mais soldados para arriscar suas vidas para trazer nossos pais de volta. Tragam-nos de volta por meio de um acordo. Parem a guerra! — falou à multidão.
Em território palestino, a ofensiva israelense continua a fazer vítimas. A Defesa Civil de Gaza, órgão oficial do governo do Hamas, afirmou que 36 pessoas morreram em ataques registrados no sábado. Seis delas atingidas por tiros perto de um centro de distribuição de ajuda da Fundação Humanitária de Gaza (GHF, na sigla em inglês), a única autorizada a distribuir insumos no território, criticada pela ONU e ONGs por colaborar estreitamente com o Exército de Israel.
— Milhares de pessoas estavam reunidas perto da rotatória e, quando algumas tentavam avançar para o centro de ajuda, as forças de ocupação israelenses abriram fogo a partir de veículos blindados estacionados perto do centro, atirando para o alto e depois contra civis — disse Samir Abu Hadid, um morador de Gaza que presenciou a cena, em entrevista à AFP.
O Exército israelense afirmou que os soldados "pediram aos suspeitos que se afastassem, mas como continuaram avançando, colocando as tropas em perigo, os soldados responderam com tios de advertência". Tragédias similares foram registradas recentemente.
A ONU e organizações humanitárias questionam os métodos e a neutralidade da GHF e se recusam a trabalhar com fundação americana, que por sua vez afirmou que foi forçada a suspender a distribuição de ajuda hoje, devido a "ameaças diretas" do Hamas contra seus funcionários.
A renovação da ofensiva e a crise humanitária amplificaram também a condenação internacional a Israel. Cerca de 300 mil pessoas se manifestaram em Roma neste sábado contra o conflito, em uma passeata na qual representantes da oposição denunciaram o que chamaram de "cumplicidade" do governo italiano, de extrema direita, no conflito.
"Parem o massacre, parem a cumplicidade!", dizia uma faixa no começo da marcha, em meio a um mar de bandeiras palestinas e cartazes com o lema "Palestina Livre".
No fim do protesto, Elly Schlein, líder do Partido Democrata, principal força da oposição de centro-esquerda, disse que a manifestação foi "uma enorme resposta popular" contra o conflito. A oposição italiana pediu à primeira-ministra, Giorgia Meloni, que condene as ações do premier israelense na Faixa de Gaza.
Em paralelo, um barco humanitário com 12 ativistas internacionais a bordo, incluindo a sueca Greta Thunberg, navegava pela costa do Egito e se aproximava da Faixa de Gaza neste sábado. O "Madleen", veleiro da Coalizão da Flotilha da Liberdade partiu no domingo da Sicília em direção a Gaza.
— Neste momento, estamos navegando em frente à costa egípcia — informou à AFP a ativista alemã Yasemin Acar, que previu a chegada à Faixa de Gaza na manhã de segunda-feira — Está tudo bem.
Qualquer interceptação do veleiro constituiria "uma violação flagrante do direito internacional humanitário", afirmou a coalizão, que informou estar em contato com instâncias jurídicas internacionais para garantir a segurança das pessoas a bordo.
A guerra na Faixa de Gaza começou após um ataque sem precedentes em território israelense, executado em 7 de outubro de 2023 por integrantes do movimento islamista palestino Hamas. Em represália, Israel iniciou uma ofensiva devastadora na Faixa de Gaza que matou dezenas de milhares de civis.