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Milei está 'comprometido em tirar a China' da Argentina, diz Bessent

Secretário do Tesouro americano exalta Milei e afirma que os EUA “não querem um Estado fracassado”

Agência o Globo
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Publicado em 10 de outubro de 2025 às 09h59.

Horas depois de ter anunciado o acordo com o governo para um auxílio financeiro bilionário, o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent — figura-chave da negociação — afirmou que o presidente Javier Milei “está comprometido em tirar a China” da Argentina e destacou que o peso está “subvalorizado”.

"Milei fez as coisas certas. Ele chegou para romper 100 anos de ciclos negativos na Argentina. Também é um grande aliado dos Estados Unidos. Está comprometido em tirar a China do seu país. Eles estão por toda parte na América Latina", declarou o influente funcionário do governo de Donald Trump em entrevista à Fox News.

Bessent também disse que os Estados Unidos “se beneficiam muito” do acordo com o governo de Milei.

"A Argentina é um farol para a América Latina", destacou o secretário americano.

"Quando as pessoas me perguntam: ‘como isso não é colocar os Estados Unidos em primeiro lugar?’. Acaso querem disparar mais canhoneiras, como na Venezuela? Nós não queremos um Estado fracassado", acrescentou Bessent, que ressaltou o encontro que o presidente terá com Donald Trump no Salão Oval na próxima terça-feira — mais uma demonstração do forte apoio da Casa Branca ao governo libertário em um momento crucial de sua gestão.

'Não é um resgate'

Scott Bessent e Luis Caputo anunciam acordo depois de quatro dias de reunião em Washington — Foto: Reprodução/rede X/Scott Bessent

"Não é um resgate, de forma alguma. Não está sendo transferido dinheiro. O Fundo de Estabilização Cambial (FSE), na sigla em inglês, nunca perdeu dinheiro e não vai perder agora. Trabalhei no setor de investimentos, principalmente em moedas, durante 40 anos. Supõe-se que é preciso comprar barato e vender caro. E o peso argentino está subvalorizado", explicou Bessent, ao justificar o apoio financeiro à Argentina.

"Vamos ter eleições na Argentina no dia 26 deste mês. Acreditamos que Milei se sairá muito bem, e ele está deixando para trás o caminho peronista. E as pessoas nos Estados Unidos, especialmente as da esquerda, estão dispostas a... especialmente a senadora [Elizabeth] Warren tentou apresentar no Senado um projeto de lei para impedir que o FSE pudesse resgatar a Argentina — o que me parece curioso, porque ela é uma peronista americana. Você sabe, não chore por mim, Massachusetts", disse, em referência ao estado de origem de Warren, uma das legisladoras mais críticas à ajuda americana ao governo argentino.

Bessent completou:

"E quando Joe Biden estava no cargo, qual era a ideia dele de ajuda externa? Foram circunstâncias no Malaui e shows de drag na América Central."

Pouco depois do anúncio de Bessent sobre o socorro à Argentina, Elizabeth Warren provocou:

"Em vez de usar nossos dólares para comprar pesos argentinos, Trump deveria ajudar os americanos a pagar pelos cuidados de saúde".

Resistências internas e papel da China

Nos últimos dias, Bessent qualificou o governo como um parceiro-chave na América Latina e, conforme havia explicado anteriormente, com a ajuda busca-se “manter um interesse estratégico no hemisfério ocidental”.

O plano do Tesouro enfrentou resistências internas nos Estados Unidos, sobretudo de legisladores democratas e de setores rurais, como os produtores de soja — críticos do fato de a Argentina ter vendido toneladas dessa commodity à China, enquanto eles não exportam para o gigante asiático devido à guerra tarifária de Trump.

Elizabeth Warren havia sido uma das 14 democratas que assinaram uma dura carta enviada a Trump na semana passada, na qual pediam ao presidente que “interrompesse imediatamente” o plano de assistência financeira à Argentina.

Com relação à China, o Banco Central da República Argentina (BCRA) mantém um swap com aquele país que chega a cerca de US$ 18 bilhões. Para os americanos, o swap é um dos instrumentos usados pelo gigante asiático para fortalecer o yuan como moeda de troca comercial, em detrimento do dólar. Não foi especificado se Washington pedirá, de forma imediata, o cancelamento desse acordo ou se exigirá que ele não seja renovado quando vencer, no próximo ano.

Acordo bilionário com Washington

Após quatro dias de negociações em Washington com a equipe econômica liderada pelo ministro Luis Caputo, Bessent havia confirmado, mais cedo, que já haviam intervindo no mercado cambial com a compra direta de pesos argentinos e que estava concluído um acordo de swap de moedas de US$ 20 bilhões com o Banco Central (BCRA) — um auxílio financeiro crucial para o governo na reta final das eleições legislativas de 26 de outubro.

“O Tesouro dos Estados Unidos está preparado, de imediato, para tomar as medidas excepcionais que sejam necessárias para estabilizar os mercados”, afirmou Bessent à tarde, em uma longa publicação em sua conta na rede X.

Durante sua estadia na capital dos EUA, a equipe econômica — composta, além de Caputo, pelo secretário de Política Econômica, José Luis Daza; pelo secretário de Finanças, Pablo Quirno; e pelo presidente do Banco Central (BCRA), Santiago Bausili — manteve sigilo sobre as tratativas com Bessent e com o Fundo Monetário Internacional (FMI), que também teve um papel fundamental nas negociações.

Após partirem quinta-feira de Washington, eles devem chegar a Buenos Aires nesta sexta-feira, segundo informou o Ministério da Economia. Retornarão à capital americana para participar da reunião anual do FMI e do Banco Mundial (BM), que começará na próxima segunda-feira e terminará em 18 de outubro.

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