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Milei atribui tempestade no mercado a 'pânico político' na Argentina e fala em 'sabotagem'

Presidente argentino defendeu seu programa econômico e considerou que estão "fazendo uma sabotagem" para prejudicá-lo

Javier Milei, presidente da Argentina, durante evento em Buenos Aires, em 25 de maio (Tomas Cuesta/AFP)

Javier Milei, presidente da Argentina, durante evento em Buenos Aires, em 25 de maio (Tomas Cuesta/AFP)

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Agência de notícias

Publicado em 20 de setembro de 2025 às 09h39.

O presidente da Argentina, Javier Milei, afirmou nesta sexta-feira, 19, que o "pânico político" desatou uma tempestade nos mercados que afunda o peso argentino e faz disparar o risco-país, a menos de um mês das eleições legislativas de outubro.

No Banco Nación, o maior banco público da Argentina, o dólar fechou cotado a 1.515 pesos e ultrapassou o teto da faixa de flutuação cambial estabelecida pelo governo.

Em comunicado, o Banco Central informou que, nesta sexta, interveio vendendo 678 milhões de dólares (R$ 3,6 bilhões) para evitar uma disparada da divisa americana, e acumula US$ 1,11 bilhão (R$ 5,85 bilhões) vendidos desde a quarta-feira.

Há "pânico político que está se espiralizando no mercado e gerando uma descoordenação enorme em termos de risco-país", disse o presidente ao discursar nesta sexta-feira ante a Bolsa de Comércio de Córdoba.

O mandatário defendeu seu programa econômico e considerou que estão "fazendo uma sabotagem" para prejudicá-lo.

O risco-país, uma medida da confiança do mercado sobre a solvência de um Estado, é elaborado pelo banco JP Morgan e rondou esta semana os 1400 pontos básicos.

Isso afasta a Argentina dos mercados internacionais de crédito e a posiciona como o segundo país de maior risco na região, atrás da Venezuela.

Na noite de quinta-feira, o ministro da Economia Luis Caputo havia prometido que o Banco Central venderia "até o último dólar" de suas reservas se fosse necessário para manter o peso dentro da meta estabelecida. "Não vamos nos afastar do programa", disse ele ao canal de streaming Carajo.

Até agora em setembro, o peso se desvalorizou 12,67%. O Banco Central teve que intervir pela primeira vez na quarta-feira, após passar cinco meses sem operar no mercado de câmbio.

Nas semanas prévias, o governo já tinha intervindo, mas através do Tesouro Nacional, posto que o acordo que firmou com o FMI em abril para obter um empréstimo de 20 bilhões de dólares (R$ 106 bilhões) o impede de vender reservas até que a cotação alcance o limite superior da faixa cambial.

'Não vamos esmorecer'

O governo, que enfrenta o vencimento de dívidas de aproximadamente US$ 8 bilhões (R$ 42,6 bilhões) até janeiro, atravessa o seu pior momento político.

Milei adiantou nesta sexta-feira que estão "muito avançados" nas negociações para receber um empréstimo do Tesouro dos Estados Unidos, governado por seu aliado Donald Trump, que lhe permitiria engrossar suas reservas para enfrentar esses vencimentos.

"É questão de tempo", disse o presidente argentino ao jornal local La Voz.

Em 7 de setembro, o grupo político de Milei saiu derrotado nas eleições legislativas na província de Buenos Aires, a mais populosa da Argentina, onde a oposição peronista venceu. Em 26 de outubro, enfrentará as eleições legislativas nacionais de meio de mandato.

O Legislativo nacional, onde o governo está em minoria, reverteu um veto presidencial a uma lei que concedia mais verbas para pessoas com deficiência, em desafio à política de ajuste de Milei.

Na quarta-feira, o Congresso aprovou em uma de suas câmaras a rejeição a outros três vetos de leis que concedem mais fundos a universidades e a hospitais pediátricos, e autoriza o envio automático de verbas às províncias. Na próxima semana, o debate vai continuar e tudo indica que o governo terá novas derrotas.

Desde o mês de fevereiro e março não param desde o Congresso da Nação de tentar torpedear as conquistas deste governo", disse Milei durante o lançamento da campanha eleitoral da situação para as eleições legislativas de outubro em Córdoba.

"Estamos na metade do caminho, por isso lhes peço que não esmoreçam, porque desta vez o esforço vale à pena", prometeu.

A escalada do dólar acontece quando a Justiça investiga uma suspeita de corrupção na Andis (Agência Nacional para a Deficiência), um caso que envolve Karina Milei, irmã do presidente, seu braço direito e secretária-geral da Presidência.

A cotação do dólar é um tema sensível para os argentinos, que buscam proteger suas economias mediante a compra de divisas, e também para o governo, decidido a evitar que a depreciação da moeda impacte na inflação.

A Argentina registrou em agosto 1,9% de inflação, o mesmo nível de julho, e acumulou 19,5% de aumento de preços nos primeiros oito meses do ano.

O controle da inflação é um dos eixos principais do governo de Milei, que assumiu em dezembro de 2023 com um plano de forte ajuste fiscal.

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