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Irã nega acordo para maior acesso a suas instalações

Subdiretor do Departamento de Salvaguardas da AIEA, Herman Nackaerts, se mostrou decepcionado e reconheceu que ''não houve avanços''

AIEA pretende, há meses, fechar um acordo com o Irã para, entre outros assuntos, obter acesso às instalações militares de Parchin (Joe Klamar/AFP)

AIEA pretende, há meses, fechar um acordo com o Irã para, entre outros assuntos, obter acesso às instalações militares de Parchin (Joe Klamar/AFP)

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Da Redação

Publicado em 8 de junho de 2012 às 17h03.

Viena - O Irã demonstrou nesta sexta-feira que não está disposto a ceder às pressões da comunidade internacional e se recusou a assinar um acordo com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) que permita mais inspeções em seu controvertido programa atômico.

Após oito horas de negociações em Viena e visivelmente cansado, o subdiretor do Departamento de Salvaguardas da AIEA, Herman Nackaerts, se mostrou decepcionado e reconheceu que ''não houve avanços''.

A AIEA pretende, há meses, fechar um acordo com o Irã para, entre outros assuntos, obter acesso às instalações militares de Parchin, onde suspeita haver atividades e experimentos nucleares com fins militares, o que a República Islâmica nega.

Nackaerts leu um comunicado para a imprensa, no qual destacou que ''a equipe da AIEA chegou a esta reunião com o desejo de fechar um acordo''.

''Apresentamos uma minuta que tratava das preocupações mencionadas antes pelo Irã. No entanto, não houve avanços. O país pôs sobre a mesa assuntos que já haviam sido tratados. Isso é decepcionante. Ainda não foi definida uma data para um novo encontro'', concluiu.

O embaixador iraniano na AIEA, Ali Asghar Soltanieh, expressou a esperança de que se possa alcançar um acordo em breve, embora tenha destacado que se trata de um processo ''muito complicado''.


Soltanieh ressaltou que o acesso exigido pelos inspetores ''vai além do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP)'', que estabelece visitas só a instalações nucleares mas não militares.

O iraniano disse que a AIEA deve tratar o caso com ''delicadeza'', devido a sua complexidade: ''A AIEA e o Irã têm que trabalhar cuidadosamente, porque esse é um caso especial. Temos que trabalhar de forma muito profissional, em silêncio, sem politizações'', defendeu.

''Decidimos continuar nosso trabalho e em breve vamos decidir sobre a data e o local (do próximo encontro)'', acrescentou Soltanieh. Sem entrar em detalhes, o embaixador iraniano disse que os assuntos apresentados por sua delegação ''são uma questão de princípios''.''Passar mais tempo agora (negociando) será melhor para a futura aplicação do acordo'', concluiu Soltanieh.

Em 21 de maio, o diretor-geral da AIEA, Yukiya Amano, esteve em Teerã para fechar o acordo, conhecido como ''procedimento estruturado''.

Após um dia de reuniões com as mais altas esferas do governo iraniano, o dirigente voltou a Viena dizendo que foi acertado fechar um acordo ''em breve'', ao que muitos diplomatas ocidentais haviam reagido com ceticismo.

Recentes imagens captadas via satélite mostram que o Irã está limpando e remodelando algumas partes de Parchin, onde os inspetores suspeitam haver atividades nucleares.

Por isso, Amano exige ter acesso o mais breve possível à base militar, situada nos arredores de Teerã.


A nova estagnação nas inspeções da AIEA acontece a menos de duas semanas do encontro crucial em Moscou, em 18 e 19 de junho entre Irã e o chamado grupo P5+1 (as cinco potências com veto do Conselho de Segurança e Alemanha).

No encontro, a comunidade internacional espera suavizar o caminho rumo a uma solução dialogada para o conflito nuclear, com a ajuda de medidas que gerem confiança.

O Conselho de Segurança emitiu desde 2006 quatro rodadas de sanções comerciais, diplomáticas e tecnológicas contra o Irã, a fim de forçar uma postura mais conciliadora do país.

Além disso, no dia 1º de julho entra em vigor um embargo petrolífero da União Europeia (UE) contra a República Islâmica, que continua insistindo que seu programa nuclear tem apenas fins pacíficos. Ocidente e AIEA desconfiam da afirmação e exigem que Teerã seja mais transparente na investigação.

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