Conflito Israel e Irã: Trump ameaçou o Irã nesta terça-feira e disse que sabe a localização do líder supremo do país (AFP)
Repórter de macroeconomia
Publicado em 17 de junho de 2025 às 15h17.
Última atualização em 17 de junho de 2025 às 15h44.
O conflito entre Israel e Irã chegou ao quinto dia seguido de bombardeios nesta terça-feira, 16. Em meio aos ataques, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a ameaçar o Irã e pediu uma rendição incondicional.
"Sabemos exatamente onde o chamado 'Líder Supremo' está escondido", escreveu Trump na rede social Truth Social. "Ele é um alvo fácil, mas está seguro lá — não vamos eliminá-lo (matá-lo!), pelo menos não por enquanto", escreveu. "Mas não queremos mísseis disparados contra civis ou soldados americanos. Nossa paciência está se esgotando."
A pressão pública de Trump aumenta o cerco contra o governo iraniano. Desde 1979, o Irã é comandado por líderes religiosos islâmicos, chamados de aiatolás, que supervisionam o trabalho do presidente e do Parlamento do país. O líder supremo do Irã é o aiatolá Ali Khamenei, que atua como chefe de Estado e comandante das Forças Armadas. Ele tem 86 anos e está no cargo desde 1989.
A fala de Trump deixa claro como a onda de ataques iniciada na sexta-feira está ganhando escala. Os ataques já mataram diversos líderes militares do país, destruíram a sede da TV estatal e danificaram instalações nucleares.
Ao iniciar a operação, na sexta-feira, o premiê de Israel, Benjamim Netanyahu, disse que o objetivo era acabar com a capacidade do Irã de desenvolver uma bomba nuclear. Irã e Israel são inimigos desde o fim dos anos 1970, e os iranianos apoiam vários grupos que lutam contra os israelenses, como o Hamas e o Hezbollah.
No entanto, apontam especialistas, a facilidade com que Israel tem conseguido bombardear o Irã tem levado o país, assim como os EUA, a analisarem planos maiores, como arrasar a capacidade militar iraniana e, em último caso, levar a uma derrubada do governo.
"A troca de regime está na mesa", disse o general aposentado Kenneth F. McKenzie Jr., que chefiou o Comando Central do Exército dos EUA, em uma entrevista coletiva.
McKenzie explica que a situação atual é chamado de "mission creep".
"Quando você tem um sucesso inicial forte, suas metas tendem a se expandir conforme o horizonte se abre à sua frente", disse.
"O regime do Irã está em sua pior posição em muito tempo, e eles não têm muitas opções boas", avalia o general.
Um dos pontos que mais chamaram a atenção de analistas militares foi a facilidade como Israel conseguiu bombardear alvos no Irã, inclusive na capital do país, sem que os iranianos conseguissem barrar os ataques e se defender. O governo israelense disse ter destruído a estrutura de defesa aérea de Teerã e que controla o tráfego aéreo na cidade, mesmo a distância.
Ao mesmo tempo, o assassinato de vários comandantes militares dificulta a organização de uma reação aos ataques israelenses, e pode favorecer um colapso mais amplo do governo.
Na segunda, 16, Netanyahu disse que uma queda do atual governo iraniano "poderia certamente ser o resultado, porque o regime do Irã está muito fraco". Outras autoridades israelenses disseram ter esperança de que a população poderia aproveitar o momento para fazer uma revolução.
A eventual queda do regime iraniano depende também da disposição dos Estados Unidos de entrar para valer na operação contra o Irã, algo que Trump tem deixado em aberto. Israel, por exemplo, não tem capacidade ofensiva suficiente para atacar a principal instalação nuclear iraniana, chamada de Fordo, que fica embaixo de uma montanha.
Para atacá-la, seria necessário usar uma bomba perfuradora, que apenas os EUA possuem. Além disso, segundo a imprensa americana, a bomba precisaria ser lançada por aviões americanos adaptados para transportá-la, por ser muito pesada.
Na campanha eleitoral, Trump prometeu não envolver os Estados Unidos em novos conflitos no Oriente Médio. Ao mesmo tempo, ele busca pressionar o Irã, embora tenha dados sinais dúbios sobre o envolvimento americano nos ataques feitos por Israel.
Inicialmente, o governo americano buscou deixar claro que Israel agiu sozinho e que os EUA ajudariam o aliado apenas a se defender de mísseis lançados pelo Irã. Depois, no entanto, Trump passou a dizer que sabia de todos os passos de Israel e a fazer ameaças diretas aos aiatolás, como ocorreu nesta terça. Assim, é difícil prever quais serão seus próximos movimentos.
Outra grande questão em aberto é o que pode acontecer depois de uma eventual queda do governo do Irã.
"Não acho que Israel está buscando, necessariamente, uma mudança de regime, porque não acho que eles possuem outro regime no bolso para colocar no lugar", avalia Alan Eyre, especialista em Irã no Middle East Institute e ex-diplomata dos EUA.
"O regime está, sem dúvida, muito impopular, e há muitas pessoas que querem que ele se vá, mas isso depende da alternativa. Agora, não vemos nenhuma alternativa viável", aponta Eyre
"A alternativa ao regime atual não é um regime pró-Ocidente que vai funcionar como um relógio suíço. É um exército disfuncional, 'caçador de bruxas', que está ficando cada vez mais incapaz de entregar produtos e serviços para os iranianos", afirma.
Alan avalia ainda que os ataques atuais deverão trazer mudanças ao regime iraniano, especialmente em uma procura maior por espiões infiltrados. A facilidade com que os israelenses encontraram os alvos a atacar durante a operação atual mostra que o grau de infiltração é elevado.
"Ao menos no curto prazo, vamos ter uma polícia estatal muito paranoica, o que deve reduzir sua eficiência", avalia.
Para o ex-diplomata, os ataques de Israel poderão deixar o governo do Irã como um Estado falido, sem condições para projetar poder fora de suas fronteiras.
Outro risco é o de que um Irã sem comando claro possa repetir o que aconteceu em países como o Iraque e o Afeganistão, que viraram um celeiro fértil para grupos radicais, como o Estado Islâmico e o Taleban.