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Presidente Lula cumprimenta autoridades estrangeiras durante foto de família da COP30, em Belém (Leandro Fonseca/Exame)
Repórter de macroeconomia
Publicado em 9 de novembro de 2025 às 13h25.
Última atualização em 9 de novembro de 2025 às 15h56.
Belém - A Conferência entre as Partes (COP) é um evento sobre o meio-ambiente e as mudanças climáticas, mas que serve como termômetro da geopolítica global. Prestar atenção em como os países se organizam para resolver a questão climática ajuda a entender a situação da política internacional.
Assim, a COP30, que começa oficialmente nesta segunda-feira, 10, em Belém, no Pará, mostra dois movimentos principais. De um lado, o evento aproxima Brasil e Europa e serve como defesa do multilateralismo. Ou seja: a ideia que os países busquem resolver os problemas globais pelo diálogo.
De outro lado, o evento lida com o afastamento dos Estados Unidos, e com o risco de que uma divergência de posições sobre o aquecimento global gere uma crise ou conflito.
O presidente Donald Trump tem se colocado contra os fóruns de debate globais e busca pressionar outros países de forma individual, como fez na imposição de tarifas de importação.
"A COP de Belém não vai resolver os problemas da governança ambiental, e ninguém tinha essa expectativa. Ela vai no sentido de reforçar o multilateralismo em um momento de ataque a ele", diz um funcionário do governo brasileiro que acompanha de perto as negociações internacionais.
O país tem feito da defesa do multilateralismo uma de suas principais bandeiras na política externa, ao lado da agenda ambiental.
"Faço um chamado a todos vocês. Não existe solução para o planeta fora do multilateralismo. A Terra é única. A humanidade é uma só", disse o presidente Lula, em discurso na sexta-feira, 7.
Para Laurent Fabius, diplomata que chefiou a COP21 e é considerado o pai do Acordo de Paris, de 2015, fechar um novo tratado climático como aquele não seria possível hoje.
"O sucesso de Paris se deveu ao conjunto da ciência, da sociedade e dos Estados, e ao fato de que era possível juntar o senhor [Barack] Obama, o senhor [Xi] Jinping e [Narendra] Modi e outros líderes. Com os líderes atuais, isso é possível? Infelizmente, não", disse.
Laurent Fabius, que presidiu a COP21, do Acordo de Paris: iniciativa como aquela seria dificilmente aprovada com a geopolítica atual (Leandro Fonseca /Exame)
Um dos riscos do evento é que Trump vê a união de outros países como possível risco para os interesses dos Estados Unidos. Em julho, na cúpula do Brics, no Rio de Janeiro, Trump ameaçou os países do bloco com punições caso tomassem medidas para reduzir o uso do dólar, por exemplo.
Até agora, o americano não fez críticas diretas à COP, mas o país não enviou autoridades federais de peso para o evento. No entanto, governadores, senadores e deputados americanos de oposição estarão em Belém.
Assim, a COP mostra também outro movimento geopolítico: o avanço do protagonismo de autoridades locais, que podem agir em direção contrária à de presidentes dos países.
Além disso, fica claro como os Estados Unidos, a maior potência global, têm mudado de posição de forma intensa nos últimos anos.
Em 2015, o presidente Barack Obama, do Partido Democrata, apoiou o tratado. No ano seguinte, contudo, Donald Trump foi eleito presidente e retirou os EUA do acordo após tomar posse.
Em 2021, nova reviravolta. O presidente Joe Biden, ex-vice de Obama, levou o país de volta ao acordo e lançou uma série de ações para estimular novas fontes de energia. Porém, Trump voltou à Casa Branca este ano, e retirou novamente os Estados Unidos do acordo climático.
Um dos seus lemas de campanha é "drill, baby, drill", um chamado a aumentar a exploração de petróleo.
Na Cúpula de Líderes da COP30, feita antes do evento em si, estiveram presentes chefes de Estado do Reino Unido, França, assim como Úrsula von de Leyen e António Costa, principais chefes da União Europeia e outros líderes, em um sinal de que consideram a pauta ambiental como algo importante.
Apesar dessa presença de líderes europeus, houve questionamentos pelo fato de os países do continente não colocarem mais dinheiro para combater as mudanças climáticas, o que é visto como um sinal de menor engajamento europeu na questão climática.
Reino Unido e Alemanha, por exemplo, deram apoio público a iniciativas como o Fundo Florestas para Sempre (TFFF), mas disseram que vão fazer aportes só mais para a frente, argumentaram em reuniões privadas que precisam resolver questões internas, como a de justificar para seus cidadãos por que farão investimentos de peso no exterior em vez de usar o dinheiro para melhorar a vida de seus cidadãos.
Este tipo de discurso é muito forte entre partidos nacionalistas, e que ganhou força no mundo nos últimos anos.
"Percebemos que agendas da União Europeia ligadas à pauta de clima retrocedem", diz Luan Santos, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e coordenador do Climate Finance Hub Brasil.
Além disso, outros países do Brics, como China, Índia e Rússia, estão menos engajados no tema do que os europeus.
Pela China, o presidente Xi Jinping não veio, mas o país enviou uma grande delegação, chefiada pelo vice-premiê Ding Xuexiang, um dos sete integrantes do comitê central que comanda o país.
Na quinta, Xuexiang reafirmou que a China “fará esforços para reduzir as emissões de carbono, diminuir a poluição, buscar o desenvolvimento verde e impulsionar o crescimento econômico".
No entanto, a China também não aportou recursos ao TFFF, repetindo uma postura de longo prazo, de não contribuir com recursos financeiros para a questão climática.
"Um dos princípios para a China é a de responsabilidades comuns, porém diferenciadas, de que os países desenvolvidos têm uma responsabilidade histórica com o aquecimento global muito maior do que os países em desenvolvimento", diz Claudia Trevisan, diretora-executiva do Conselho Empresarial Brasil-China.
Sessão da Cúpula de Líderes da COP30, em Belém (Ricardo Stuckert/PR)
Em meio à COP30, há também outras crises a resolver. Uma das ações militares de Trump que preocupa o Brasil são os ataques americanos a barcos na costa da Venezuela.
O governo americano tem disparado contra pequenas embarcações no mar, à distância, em ações que deixaram mortos, e tem indicado que poderia invadir a Venezuela, para derrubar o presidente Nicolás Maduro.
Como demonstração desta preocupação, Lula viajou neste domingo para a Colômbia, para uma reunião da Celac, grupo de países da região do Caribe, e da União Europeia, que está sendo vista como um sinal para os Estados Unidos de que uma invasão a um país da região não seria bem-vinda.
Nesse ponto, há mais um momento em que Lula e os europeus buscam demonstrar união para conter um avanço de Trump.
Os resultados desse esforço, assim como os das negociações da COP que começam nesta segunda-feira, seguem difíceis de prever.