Agência de notícias
Publicado em 7 de outubro de 2025 às 07h06.
Para livrar as exportações brasileiras do tarifaço promovido pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e acabar com as sanções aplicadas contra cidadãos brasileiros pela Casa Branca, o governo brasileiro está disposto a colocar sobre a mesa todas as demandas apresentadas por Washington.
A expectativa é que uma negociação com os EUA envolva temas como minerais críticos, regulação das plataformas de internet americanas, redução de alíquotas para produtos como etanol e automóveis e diminuição das taxas cobradas por filmes e outros itens na área de direitos autorais.
Ao declarar, na tarde de segunda-feira, que seu país está pronto para fazer negócios com o Brasil, Donald Trump ratificou um comportamento notado por interlocutores do governo brasileiro que presenciaram o telefonema entre os dois líderes pela manhã.
"Eu me encontrei com o presidente Lula, gostei dele e tivemos uma ótima conversa. Sim, vamos começar a fazer negócios", afirmou o republicano, sem dar mais detalhes sobre as tratativas entre os dois países.
Trump conversou por telefone, na manhã de segunda-feira, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os dois devem se encontrar em breve, provavelmente à margem da Cúpula da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), no fim deste mês, na Malásia.
Para eliminar uma sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros, os EUA devem buscar acesso aos minerais críticos e estratégicos do Brasil. Também demonstram interesse na regulação das grandes plataformas digitais e na liberação da entrada de produtos americanos no país.
No caso dos minerais críticos e estratégicos, como lítio, cobre, silício, grafita e terras-raras, eles despertam a cobiça de grandes potências econômicas, como EUA e China, interessadas em fortalecer suas cadeias de suprimento para setores estratégicos, como energia renovável, mobilidade elétrica, defesa e alta tecnologia. O governo Lula aceita negociar com os americanos, mas deve exigir contrapartidas, como investimentos e transferência de tecnologia.
Washington já indicou que quer do Brasil a redução da tarifa de importação do etanol, atualmente em 18%. Reclama ainda da cobrança de 19,5% de IPI sobre bebidas alcoólicas, como uísque americano, enquanto a cachaça brasileira paga 16,25%, além da burocracia para o ingresso de vinhos.
Os EUA consideram excessiva a tributação sobre produções cinematográficas estrangeiras exibidas no Brasil e querem mais espaço na TV. O tema pode ser debatido, mas é visto com cautela, uma vez que o governo brasileiro poderá até aumentar os tributos se não houver acordo com as autoridades americanas.
O maior acesso a compras governamentais e ao mercado de usados, como pneus e equipamentos médicos, também deve entrar na pauta. Além disso, produtores americanos de calçados e roupas se queixam da falta de transparência nas regras.
O governo Trump ainda critica os requisitos da Anatel para a importação de produtos de telecomunicações. Podem entrar na pauta de negociação satélites, proteção de dados e o registro de patentes de medicamentos, que os EUA consideram excessivamente demorado no Brasil.
De acordo com auxiliares de Lula, o governo não tomará qualquer decisão sem ouvir o setor privado brasileiro. Tudo será discutido com as empresas nacionais.
Com base na Seção 301 da Lei de Comércio americana, os EUA também investigam supostas práticas comerciais brasileiras que estariam prejudicando empresas norte-americanas. Entre os itens sob análise estão desmatamento, corrupção e propriedade intelectual.
Até o Pix e os produtos vendidos na Rua 25 de Março, em São Paulo, figuram entre os temas levantados por Washington. No primeiro caso, caberá ao governo brasileiro defender esse meio de pagamento, sob o argumento de que o instrumento não prejudica as empresas de cartões de crédito americanas.
Diplomatas ouvidos pelo GLOBO destacam dois pontos positivos: Trump restringiu a conversa telefônica com Lula a temas de economia e comércio e escolheu um interlocutor para chefiar as negociações com o Brasil — o secretário de Estado americano, Marco Rubio.
Donald Trump e Lula não mencionaram o ex-presidente Jair Bolsonaro, condenado a 27 anos pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Até recentemente, o americano condicionava uma negociação à suspensão do processo contra Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado.
Sanções contra cidadãos brasileiros, com destaque para o ministro do STF Alexandre de Moraes, foram adotadas pela Casa Branca.