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Espanha cancela acordo de R$ 4,4 bilhões em armas com Israel em meio à reação negativa sobre Gaza

Montante para a compra de lançadores de foguetes de fabricação israelense foi engavetado em retaliação dos espanhóis a política israelense

Agência o Globo
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Publicado em 15 de setembro de 2025 às 18h53.

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O governo da Espanha cancelou um contrato no valor de quase € 700 milhões (cerca de R$ 4,4 bilhões, na cotação atual) para a compra de lançadores de foguetes de fabricação israelense, segundo um documento oficial obtido pela AFP nesta segunda-feira. A medida surge após o primeiro-ministro do país, Pedro Sanchez, anunciar que iria “consolidar na lei” a proibição da venda ou compra de equipamentos militares com Israel em razão de sua ofensiva na Faixa de Gaza.

O contrato, vinculado a um consórcio de empresas espanholas, envolvia a compra de 12 sistemas de lançadores de foguetes SILAM derivados da plataforma PULS fabricada pela empresa israelense Elbit Systems, de acordo com o Military Balance do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos. Noticiado inicialmente pela mídia local e pelo jornal israelense Haaretz, o cancelamento foi formalizado na plataforma oficial de contratos públicos da Espanha no último dia 9.

Logo na sequência, Sanchez revelou medidas destinadas a impedir o que o seu governo chamou de “genocídio em Gaza”. Isso inclui a aprovação de um decreto que impõe a proibição da venda ou compra de equipamento militar com Israel, que irrompeu uma guerra no enclave em resposta aos ataques terroristas do Hamas em 7 outubro de 2023. A Espanha aplicou a proibição, portanto, à medida que o governo de Benjamin Netanyahu intensificava o seu ataque militar.

Os espanhóis também formalizaram o cancelamento de outro contrato para 168 lançadores de mísseis antitanque, que seriam fabricados sob licença de uma empresa israelense. Esse, avaliado em € 287 milhões (R$ 1,8 bilhões), foi divulgado pela primeira vez pela imprensa em junho. Conforme o jornal espanhol La Vanguardia, o governo está realizando uma revisão mais ampla para eliminar gradualmente as armas e a tecnologia israelenses de suas Forças Armadas.

Sánchez emergiu como um dos críticos mais ferrenhos da Europa à política imposta em Gaza. A relação entre os dois países está tensa há meses. Israel não tem embaixador na Espanha, por exemplo, desde que Madri reconheceu o Estado da Palestina em 2024. Já na última semana, foi a vez dos espanhóis chamarem de volta seu cônsul em Jerusalém após discussões acaloradas sobre as novas medidas de seu líder.

O Delas Centre, um instituto de pesquisa de segurança com sede em Barcelona, estimou em abril que, desde o início da guerra em Gaza, a Espanha havia concedido 46 contratos de mais de US$ 1 bilhão (R$ 5,3 bilhões) a empresas israelenses, com base em dados de licitações públicas.

Sánchez defende protestos pró-Palestina

O premier espanhol defendeu nesta segunda-feira que atletas de Israel sejam banidos de todas as competições esportivas internacionais em represália pela guerra em Gaza, assim como foi feito com a Rússia pela invasão da Ucrânia. A declaração ocorreu um dia após a última etapa da Volta da Espanha — principal competição de ciclismo do país — ser interrompida por protestos pró-Palestina em Madri, em um incidente que motivou disputas políticas no país.

Manifestantes espanhóis protestaram ao longo das últimas semanas contra a participação da equipe Israel-Premier Tech na competição, em função dos desdobramentos da operação militar israelense no enclave em guerra. No domingo, um ato convocado em Madri, onde a última etapa da prova deveria ser concluída, forçou os organizadores a encerrarem a disputa a 56 km da linha de chegada, e concluir o evento sem a cerimônia de premiação.

O protesto foi duramente criticado pela organização da Volta da Espanha, que culpou os "lamentáveis incidentes" em Madri, pelo final antecipado da prova. Políticos de oposição também foram rápidos em criticar os atos, culpando a administração de Sánchez.

"O governo permitiu e induziu a não finalização da Volta, e desta forma, um constrangimento internacional televisionado em todo o mundo", escreveu o líder do Partido Popular, Alberto Núñez Feijóo, em uma publicação na rede social X no domingo.

Ao firmar seu posicionamento político-ideológico, Sánchez saudou os manifestantes e demonstrou apoio à causa defendida por eles:

— O debate que se abriu por conta do que aconteceu em Madri, na Espanha, deveria se expandir e alcançar todos os cantos do mundo. Isso já está acontecendo: vimos como governos europeus estão dizendo que, enquanto durar a barbárie, Israel não pode utilizar qualquer plataforma internacional para melhorar sua imagem — disse Sánchez em uma reunião no Congresso com deputados, senadores e eurodeputados do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE). — As organizações esportivas devem se perguntar se é ético que Israel continue participando de competições internacionais. Por que a Rússia foi expulsa após a invasão da Ucrânia e Israel não é expulso após a invasão de Gaza?

O líder socialista condenou cenas de violência que ocorreram durante os protestos — estima-se que 100 mil pessoas tenham participado do ato em Madri, com a polícia disparando bombas de gás lacrimogêneo para dispersá-las. Ele condenou os atos de violência, mas parabenizou os manifestantes que saíram às ruas para protestar sem violência.

— Sentimos um imenso respeito e uma profunda admiração por uma sociedade civil espanhola que se mobiliza contra a injustiça e defende sua ideia de forma pacífica — completou.

O diretor da Volta a Espanha, Javier Guillén, classificou nesta segunda-feira a manifestação como "absolutamente inaceitável", e argumentou que protestos contra a presença da equipe israelense deveriam ter ocorrido sem interromper a prova.

— Somos uma corrida de ciclismo e é isso que queremos exigir. Achamos ótimo que a plataforma da Volta esteja sendo usada para fazer uma declaração. Mas, também exigimos respeito pela corrida — afirmou, acrescentando que a inclusão ou exclusão de equipes segue os critérios da União Ciclista Internacional (UCI).

O primeiro-ministro ainda criticou a liderança do PP, a quem acusou de "copiar o estilo" da extrema direita. Com pesquisas apontando o encolhimento da direita tradicional, em face do crescimento do partido radical Vox, Sánchez afirmou que há um "colapso ideológico" no campo conservador, marcado por "falta de propostas" e "insultos constantes".

Representantes do Vox usaram a política de pressão de Sánchez contra Israel para atacá-lo no cenário interno. Na semana passada, quando o premier anunciou as medidas adicionais contra Israel, o líder da sigla extremista, Santiago Abascal, disse que Sánchez se comportava como um "porta-voz do Hamas". A declaração repercutiu entre políticos israelenses, uma vez que ocorreu no mesmo dia que um cidadão espanhol foi confirmado entre os mortos de um atentado terrorista em Jerusalém.

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