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Escalada entre Irã e Israel paralisa inspeções nucleares e acende alerta

Após ataque israelense em bases nucleares do Irã, agência da ONU deve intensificar vistorias quando houver segurança; vice-chanceler iraniano afirmou que acesso da agência será analisado

Irã: ataque aéreo de Israel no país matou cientistas nucleares e comandantes do exército do Irã. (Crescente Vermelho / AFP)

Irã: ataque aéreo de Israel no país matou cientistas nucleares e comandantes do exército do Irã. (Crescente Vermelho / AFP)

Estela Marconi
Estela Marconi

Freelancer

Publicado em 16 de junho de 2025 às 08h32.

A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) convocou uma reunião de emergência nesta segunda-feira, 16, em Viena, diante da deterioração no monitoramento do programa nuclear iraniano. A medida ocorre após a escalada do conflito entre Israel e Irã, que resultou em bombardeios a instalações nucleares e mortes de cientistas ligados ao setor atômico iraniano.

A convocação vem na esteira da aprovação de uma resolução que classificou o Irã como não cooperativo com suas obrigações legais junto à agência da ONU. Menos de 24 horas após a votação, Israel realizou ataques a centros de enriquecimento e áreas residenciais de Teerã, intensificando o risco de ruptura total na fiscalização internacional.

Inspeções suspensas e alerta de segurança

Segundo o diretor-geral da AIEA, Rafael Mariano Grossi, os inspetores permanecem em Teerã, mas as visitas técnicas só serão retomadas quando houver garantias mínimas de segurança. Antes dos ataques, a agência realizava mais de uma inspeção por dia nas áreas sensíveis do programa nuclear iraniano.

Com a suspensão das visitas, o monitoramento da AIEA — considerado essencial para acompanhar o nível de enriquecimento de urânio — ficou comprometido. De acordo com fontes da Bloomberg, o avanço técnico do Irã no setor atômico é hoje incerto, o que aumenta o temor global sobre o possível descontrole do programa.

Capacidade nuclear do Irã preocupa inspetores

Dados da própria AIEA indicam que o Irã possui cerca de 400 quilos de urânio altamente enriquecido, volume suficiente para a produção de até 10 ogivas nucleares, dependendo do grau final de purificação. O material está armazenado em cilindros que, segundo o engenheiro nuclear Robert Kelley, podem ser facilmente transportados e ocultados.

Embora Israel tenha atingido parte da infraestrutura de Natanz — principal centro de enriquecimento iraniano —, as áreas subterrâneas da usina permanecem intactas. Já a instalação de Fordow, segundo a agência, não sofreu danos visíveis.

Reação do Irã e corte na cooperação

O governo iraniano adotou imediatamente medidas de contenção. Em pronunciamento à TV estatal, o vice-chanceler Kazem Gharibabadi afirmou que o país suspenderá sua cooperação ampliada com a AIEA e passará a analisar cada solicitação de acesso caso a caso. O movimento representa um retrocesso em relação aos compromissos assumidos no acordo nuclear de 2015, já esvaziado nos últimos anos.

A agência confirmou que houve contaminação radiológica em estruturas de superfície na usina de Natanz, mas que os sistemas de proteção nos níveis inferiores evitaram danos maiores.

Risco de corrida nuclear e pressão diplomática

O episódio reabriu o debate sobre uma possível corrida armamentista no Oriente Médio. Richard Nephew, ex-negociador do acordo nuclear de 2015, afirmou em publicação no X (antigo Twitter) que o Irã agora pode ter tanto o incentivo quanto o tempo necessário para desenvolver armas nucleares. “Se isso não for resolvido, não sei o que vocês estão fazendo”, escreveu.

A expectativa é que a reunião emergencial da AIEA aumente a pressão internacional por uma retomada da supervisão plena no Irã. Para diplomatas em Viena, um colapso total na capacidade de fiscalização da agência poderia marcar o fim do modelo multilateral de contenção nuclear na região.

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