Agência de notícias
Publicado em 16 de junho de 2025 às 18h35.
Após quatro dias de intensos bombardeios contra bases militares, instalações nucleares, áreas urbanas e contra o setor energético, as lideranças iranianas dão sinais de que querem uma saída negociada para o conflito com Israel, e sugerem flexibilizar posições nas conversas com os EUA sobre seu programa atômico.
No entanto, o presidente americano, Donald Trump, ainda não fez gestos em direção a um de seus “grandes acordos”, e o premier israelense, Benjamin Netanyahu, além de rejeitar conversas, sugeriu que a morte do líder supremo do Irã poderia encerrar a guerra.
De acordo com fontes diplomáticas ouvidas pelo Wall Street Journal e pela agência Reuters, os iranianos ampliaram os contatos com Arábia Saudita, Catar e Omã para que convençam os EUA a concordarem com um cessar-fogo imediato, assim como a retomada das conversas sobre um novo acordo para limitar as atividades nucleares iranianas. Nas comunicações indiretas, Teerã, afirmam as publicações, enviou a Israel a mensagem de que deseja conter o conflito e evitar uma guerra de grande porte na região.
Nesta segunda-feira, o chanceler iraniano, Abbas Araghchi, cobrou uma atuação mais direta de Trump em direção a um cessar-fogo: segundo o diplomata, “basta um telefonema de Washington para amordaçar alguém como Netanyahu”, e “isso pode abrir caminho para o retorno da diplomacia”.
“"Israel deve pôr fim a esta agressão e, na ausência de uma cessação completa da agressão militar contra nós, nossa resposta continuará", escreveu Araghchi, criticando ainda uma potencial entrada dos EUA no conflito. “Por outro lado, atolar os EUA na Mãe das Guerras Eternas destruirá qualquer perspectiva de uma solução negociada, com consequências perigosas, imprevisíveis e provavelmente INCOMPREENSÍVEIS para a segurança regional e a economia global.”
Em caráter de anonimato, uma fonte do governo iraniano revelou à Reuters que, em um gesto de boa vontade, seu governo está disposto a flexibilizar as posições nas conversas sobre um novo acordo nuclear, embora não se saiba até que ponto. De acordo com a agência, Omã, que media as conversas entre Teerã e Washington, trabalha em um rascunho que inclui a suspensão temporária — por até três anos — do enriquecimento de urânio e inspeções mais frequentes. Em troca, os EUA suspenderiam as sanções hoje em vigor, e reconheceriam o programa nuclear iraniano como “pacífico”. Mas isso, reiteram os diplomatas, está condicionado a um cessar-fogo.
Desde a semana passada, a aviação israelense destruiu instalações ligadas ao programa nuclear, acusado de ter fins militares, bases e prédios das Forças Armadas e da Guarda Revolucionária e alvos ligados ao setor energético, como a refinaria de Abadan. uma das maiores do mundo, e o campo de gás natural de Pars Sul, no Golfo Pérsico. Em paralelo, Israel matou parte da liderança militar e cientistas nucleares em ataques de precisão. Nesta segunda-feira, um prédio anexo da TV estatal IRIB foi atingido, e o ministro da Defesa israelense, Israel Katz, disse que os meios ligados ao regime estavam “prestes a desaparecer”.
Os acenos a um cessar-fogo parecem confirmar, neste momento, que os ataques estão causando um impacto maior do que o esperado pelos iranianos. No fim de semana, o jornal New York Times revelou que as autoridades locais não esperavam que Israel atacasse o país antes das negociações com os EUA, inicialmente marcadas para domingo — o erro de cálculo custou a vida de comandantes militares, cientistas nucleares e impediu, afirma o jornal, uma resposta mais dura contra os israelenses.
Ao menos publicamente, os apelos não convenceram EUA e Israel.
— Eles (Irã) gostariam de conversar, mas deveriam ter feito isso antes que eu tivesse 60 dias, e eles tiveram 60 dias, e no 61º dia, eu disse: “não temos um acordo" — afirmou Trump nesta segunda-feira, em reunião com o premier canadense, Mark Carney, se referindo a um prazo dado por ele em abril para que Teerã concordasse com um novo acordo nuclear, e que venceu na última quinta-feira. — Eles precisam chegar a um acordo, e é doloroso para ambas as partes, mas eu diria que o Irã não está vencendo esta guerra, e eles costumam conversar, e deveriam conversar imediatamente, antes que seja tarde demais.
A guerra também apresenta um dilema doméstico. Israel pressiona para que os americanos se envolvam diretamente no conflito, fornecendo, por exemplo, bombas capazes de atingir instalações nucleares em bunkers subterrâneos, mas no campo pró-Trump o tema está longe de ser consenso.
Alguns integrantes da “velha guarda” republicana são favoráveis à entrada do país em uma nova guerra, contra um velho inimigo, mas vozes trumpistas — como o jornalista e propagandista Tucker Carlson — rejeitam o envolvimento e afirmam que as decisões do presidente “definirão seu mandato”. Segundo a rede CNN, Trump não pretende assinar uma declaração conjunta dos líderes do G7, reunidos esta semana no Canadá, pedindo a “desescalada do conflito”, mas não faz gestos que demonstrem interesse de empregar suas forças contra o Irã.
Já Netanyahu não está disposto a aceitar uma saída negociada. Em entrevista à rede ABC News, o premier questionou a intenção dos iranianos em se sentarem à mesa, e disse que o cessar-fogo serviria para Teerã “continuar construindo suas armas nucleares e seu arsenal massivo de mísseis balísticos, que estão disparando contra o nosso povo”.
— Querem continuar a criar as duas ameaças existenciais contra Israel enquanto conversam. Isso não vai acontecer — declarou Netanyahu, que em mais de uma ocasião disse ser favorável ao fim de todas atividades de enriquecimento de urânio pelo Irã.
Netanyahu disse que sua Força Aérea está no controle dos céus de parte do Irã, incluindo da capital, Teerã, onde voltou a realizar ataques nesta segunda-feira, e não descartou um ataque direto contra o líder supremo, aiatolá Ali Khamenei.
— Isso não vai intensificar o conflito, vai colocar fim ao conflito — afirmou o premier que, mais tarde, em entrevista coletiva, prometeu matar “um por um” os comandantes militares iranianos.
Enquanto a diplomacia ainda engatinha, moradores de Teerã começam a deixar, em números crescentes, a maior cidade do país. As estradas rumo a áreas hoje mais seguras, como a província de Azerbaijão Oriental, estão cheias, e os postos de combustível adotam um sistema de racionamento diante da alta demanda. Nos veículos, muitos levam apenas algumas roupas e objetos pessoais, sabendo que não há previsão para voltar para casa: nesta segunda-feira o Exército israelense emitiu um aviso urgente de evacuação para o Distrito 3 na capital iraniana, onde vivem mais de 312 mil pessoas, indicando que a permanência na área colocará suas vidas em risco.
— Para onde devo ir? Para onde posso ir? Para onde meio milhão de pessoas podem ir num piscar de olhos? — disse Danial Amin, morador do bairro de Zafar, no norte de Teerã, ao New York Times. — As rodovias estão completamente bloqueadas. Estamos presos.