Singha Durbar: incêndio atinge sede do governo do Nepal em meio a protestos liderados por jovens contra corrupção e desigualdade (PRABIN RANABHAT/AFP/Getty Images)
Redatora
Publicado em 10 de setembro de 2025 às 09h18.
Última atualização em 10 de setembro de 2025 às 09h58.
O Nepal enfrenta a pior onda de violência em décadas, marcada por protestos que deixaram ao menos 19 mortos e centenas de feridos.
O primeiro-ministro KP Sharma Oli renunciou na terça-feira, 9, depois que manifestantes incendiaram sua residência privada e prédios do governo, além de invadiram o Parlamento em Katmandu.
A crise começou na semana passada, quando o governo baniu plataformas como Facebook, X e YouTube por não se registrarem junto às autoridades.
Embora a medida tenha sido revogada, a indignação cresceu e se transformou em um movimento mais amplo contra a corrupção e a desigualdade, liderado principalmente por jovens da “Geração Z”.
Segundo a Reuters, veículos queimados e escombros tomaram as ruas da capital após os confrontos. O Parlamento, o Supremo Tribunal e residências de ministros foram incendiados. A imprensa local também relatou que a esposa de um ex-dirigente político foi gravemente queimada após um ataque à sua casa.
O aeroporto internacional de Katmandu permanece fechado, e o Exército foi convocado para patrulhar as ruas sob toque de recolher.
Três ministros já haviam deixado seus cargos em meio às críticas à repressão violenta, que incluiu disparos de balas de borracha, gás lacrimogêneo e até munição letal, segundo o Kathmandu Post, citado pela Bloomberg.
O escritório de direitos humanos da ONU disse estar “chocado” com as mortes de manifestantes e pediu uma investigação rápida e independente.
O Nepal, que tem 30 milhões de habitantes, é estratégico por sua posição geográfica entre os dois países e pelo potencial hidrelétrico.
Apesar do crescimento econômico projetado de 4,5% neste ano, segundo o Banco Mundial, a taxa de desemprego entre jovens é de 22%, e mais de 20% da população vive abaixo da linha da pobreza — fatores que alimentam a revolta.
Para analistas ouvidos pela Bloomberg, a renúncia de Oli abre espaço para uma disputa de poder entre partidos da oposição, mas a prioridade imediata é conter a violência.
A instabilidade política preocupa os vizinhos Índia e China. Nova Délhi afirmou estar monitorando de perto a situação, enquanto Pequim disse esperar pela restauração da ordem, informou a Reuters.
O Nepal se soma a vizinhos como Bangladesh e Sri Lanka, que também passaram por protestos populares capazes de derrubar governos nos últimos anos.