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Conferência sobre Estado palestino começa com apoio de potências e resistência dos EUA e Israel

Ao menos 150 países já reconhecem a Palestina como Estado; França, Bélgica e outros devem oficializar adesão nesta segunda

Bandeira da Palestina hasteada em frente à sede da ONU em 2016 (Reuters)

Bandeira da Palestina hasteada em frente à sede da ONU em 2016 (Reuters)

Luciano Pádua
Luciano Pádua

Editor de Macroeconomia

Publicado em 22 de setembro de 2025 às 06h01.

Última atualização em 22 de setembro de 2025 às 07h28.

A conferência internacional sobre a solução de dois Estados no Oriente Médio, que começa nesta segunda-feira, 22, na ONU, reúne apoio inédito de grandes potências e escancara divisões diplomáticas sobre a criação do Estado palestino.

O encontro, sediado em Nova York, antecede a abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas.

Encabeçado por França e Arábia Saudita, o fórum pretende consolidar o reconhecimento internacional da Palestina.

Três países — Reino Unido, Canadá e Austrália — se anteciparam e anunciaram apoio formal ainda no domingo, 22. Portugal seguiu a mesma linha no fim da tarde.

A mudança de postura desses países marca uma mudança significativa na política externa de longa data entre os governos ocidentais e um reflexo da crescente insatisfação global com Israel após quase dois anos de guerra em Gaza.

Nesta segunda, a expectativa é que França, Bélgica, Malta, Andorra, Luxemburgo e San Marino também anunciem adesão.

A decisão deve consolidar uma maioria europeia pró-Palestina, ainda que grandes países, como Alemanha, Itália e Holanda, resistam ao reconhecimento.

Apesar dos anúncios, há ceticismo entre analistas internacionais dos efeitos práticos do reconhecimento da solução de dois Estados. Muitos veem o esforço como apenas simbólico, enquanto outros veem como um avanço.

"O reconhecimento não é uma política, é uma abertura. O verdadeiro trabalho começa no dia seguinte”, argumentou Anas Iqtait, professor de economia política do Oriente Médio na Universidade Nacional da Austrália, em agosto, na Akfar, publicação do Conselho do Oriente Médio para Assuntos Globais, com sede em Doha.

Para Hugh Lovatt, pesquisador sênior do programa para Oriente Médio e Norte da África do Conselho Europeu de Relações Exteriores (ECFR, na sigla em inglês), o reconhecimento tem, sim, um caráter muito simbólico.

“Mas o simbolismo nem sempre é algo ruim. Considerando os países que estão fazendo o reconhecimento — especialmente França e Reino Unido — trata-se de uma reafirmação importante dos direitos palestinos e da autodeterminação: o direito de viver livre da ocupação, o direito à soberania e assim por diante”, disse à publicação alemã DW.

Ainda assim, disse ele, medidas simbólicas precisam ser acompanhadas por ações práticas.

Resistência de Israel e EUA

Para analistas diplomáticos, a fragmentação no bloco europeu reflete as pressões cruzadas da guerra em Gaza e da aliança histórica com Israel.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, reagiu de forma contundente às decisões. “Isso não acontecerá. Não se estabelecerá um Estado palestino a oeste do rio Jordão”, disse.

O ministro das Relações Exteriores, Gideon Saar, foi mais longe e chamou a posição de países ocidentais de “imoral” e “repugnante”.

Reação dos EUA e impasse com Abbas expõem isolamento

Apesar da amplitude do apoio internacional, os Estados Unidos tentaram barrar a presença do presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, impedindo sua entrada no país.

A decisão contraria os tratados que vinculam Washington, como anfitrião da ONU, à garantia de acesso a líderes estrangeiros.

Para contornar a barreira, a Assembleia Geral aprovou uma exceção que permitirá a participação de Abbas por videoconferência.

A votação teve apoio de 145 países; apenas EUA, Israel e outros dois países votaram contra.

Hoje, 150 dos 193 países-membros da ONU reconhecem formalmente o Estado palestino.

A América Latina é quase unânime, com exceção do Panamá. O Brasil reconhece o Estado da Palestina desde 2010.

No continente africano, apenas Camarões e Eritreia não aderiram. A tendência é que o número aumente após a conferência.

Com Agência EFE.

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